quarta-feira, 24 de julho de 2024

Desperdiçar alimentos é um dos piores vícios da nossa sociedade, FSP

 

SÃO PAULO

Foi com base na constatação de que muita comida boa, em condições de consumo, vai para o lixo em vez de alimentar pessoas que a startup social Comida Invisível, com sede na rua Miragaia, no bairro do Butantã, começou a combater o desperdício, aproximando, por meio de uma plataforma digital, grandes corporações e ONGs.

O nome da empresa surgiu quando a advogada Daniela Leite, sua fundadora e CEO, caminhava pelo Ceagesp e começou a ver pilhas de mamões, abacaxis, mangas e outras frutas e verduras jogadas na frente das bancas ou nas caçambas para serem descartadas. "Eram alimentos que estavam no ponto de mesa, mas que ali vão para o lixo", lembra. "Parecia uma comida invisível."

O problema do desperdício é gigantesco. Trata-se de uma das grandes questões do mundo contemporâneo. Segundo Leite, estima-se que em todo o planeta sejam jogadas no lixo 1 bilhão de toneladas de alimentos por ano, um volume que encheria mais de 9 milhões de aviões Boeing. Metade desse alimento jogado fora mataria a fome da população mundial. O Brasil descarta 26 milhões de toneladas anualmente.

Alface para ser descartada no Ceagesp, em São Paulo: comida que poderia servir ao consumo

Fundada há sete anos, a empresa surgiu como um grupo de estudos sobre alimentação e contava com um food truck para fazer ações de conscientização e educação. Daniela trabalhou por um período no banco de alimentos do Ceagesp como voluntária com o objetivo de entender o problema do desperdício. A comida obtida nesse banco era usada no food truck, mas ela percebeu logo que o impacto social era muito pequeno e sem efeito transformador.

Dois anos depois do início surgiu a ideia da plataforma, Inspirada em aplicativos de relacionamento. "Olhando esses aplicativos eu pensei que o caminho seria conectar quem tem com quem precisa", explica. No caso, seria conectar por geolocalização empresas que têm alimentos que perderam valor comercial mas ainda estão próprios para consumo com ONGs que atuam com pessoas em situação de vulnerabilidade social. Isso passou a ser feito com total segurança jurídica e ambiental. A Comida Invisível recebeu um aporte do BNDES para desenvolver a plataforma.

Daniela Leite, CEO da startup social Comida Invisível: negócio garante 400 mil refeições por mês

Os alimentos que são distribuídos são os industrializados próximos da data de validade e frutas, legumes, verduras que não alcançaram o mercado por causa de alguma imperfeição, porque estão fora de padrão ou maduros demais. Há também sobras de buffet, desde que haja garantia sanitária, e produtos que são parcialmente descartados ao longo do processo produtivo. No ano passado a Comida Invisível destinou para ONGs o equivalente a 2,4 milhões de refeições e neste ano a meta é dobrar esse número, garantindo 400 mil refeições por mês em todo o Brasil.

A plataforma conecta hoje cerca de três mil ONGs com mais de 700 empresas, entre elas Ambev, McDonald's, Grupo Accor, Grupo Fasano, Rede D'Or, Sírio Libanês, Hotéis Sheraton e Colégio São Luís. Essas empresas informam o alimento que têm disponível e a Comida Invisível localiza a ONG mais próxima para recebê-lo. Do lado das empresas, existe a percepção de que o custo para disponibilizar o alimento é mais baixo do que para destrui-lo. Além disso, há o benefício social.

Tomate
Produtos de má aparência frequentemente são descartados, embora tenham condições de uso

O item mais doado pelo McDonald's, por exemplo, é o tomate. A rede de lanchonetes usa uma pequena parte do tomate que utiliza nos seus produtos e o excedente vai no mesmo dia para alguma ONG que o aproveita para fazer molho. Na última segunda-feira, a Comida Invisível deu destino para 60 toneladas de água engarrafada da Ambev para cidades do Rio Grande do Sul. Inicialmente foram duas carretas, mas o total da doação vai chegar a 370 toneladas.

A empresa hoje tem 20 funcionários, metade em São Paulo, metade em Recife, e atua em todos os estados do Brasil. "Nós somos um banco de alimentos virtual, a gente olha para a otimização do alimentos", afirma. "O lugar da comida desperdiçada não é um incinerador ou um aterro sanitário para se decompor em gás metano, que é 26 vezes mais poluente que o CO2 na atmosfera, mas a mesa daqueles que a necessitam."

Brasil e México voltam a atrair investidor após saída de Biden, FSP

 Carolina Wilson

Vinícius AndradeRonojoy Mazumdar
BLOOMBERG

Em um ano marcado por surpresas eleitorais, da Índia ao México, a última reviravolta veio da corrida presidencial nos EUA, e isso levou os investidores em mercados emergentes a se voltarem para alguns dos ativos que mais sofreram nos últimos tempos.

Sem clareza sobre as chances da vice-presidente Kamala Harris de derrotar Donald Trump em novembro, casas como Van Eck e Robeco se preparam para uma volatilidade alta. Para se protegerem das oscilações, as gestoras recomendam ativos que foram duramente atingidos recentemente, como os brasileiros.

A imagem mostra o interior de uma Bolsa de Valores, com várias telas exibindo dados financeiros e gráficos. Há um grupo de pessoas em pé, algumas interagindo entre si, enquanto outras observam as informações nas telas. O ambiente é moderno, com um piso de madeira clara e painéis eletrônicos ao fundo.
Operadores na Bolsa de Nova York conversam durante sessão - Spencer Platt/Getty Images via AFP

saída de Joe Biden da corrida presidencial nos EUA diminui o posicionamento contra moedas latino-americanas, como o peso mexicano, vistas como possíveis perdedoras se Trump vencer.

"Precisamos ter cuidado para não exagerar nas apostas baseadas nas eleições americanas, pois ainda é muito cedo e o mercado provavelmente permanecerá volátil", disse Thys Louw, da Ninety One.

Embora as probabilidades mais baixas de uma vitória de Trump sejam positivas "na margem" para reduzir o "ruído" relacionado com mercados emergentes, juros mais baixos nos países ricos, inflação ancorada nos países em desenvolvimento e melhoras estruturais na solvência serão os principais fatores no longo prazo, afirmou Janet He, chefe de pesquisa soberana para mercados emergentes da JPMorgan Asset Management.

O peso mexicano, o peso colombiano e o real brasileiro se destacaram na segunda-feira (22), liderando os ganhos nos mercados de câmbio dos países emergentes. Os três ficaram entre os retardatários na semana passada, em meio a preocupações crescentes sobre gastos públicos e o abandono de apostas de carry trade após a recuperação do iene japonês.

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As dívidas de países como Brasil e México agora parecem "baratas e atraentes" depois do selloff, avaliou Eric Fin, chefe de dívida ativa de mercados emergentes da Van Eck.

A Índia também desponta como uma opção atraente, segundo Philip McNicholas, estrategista de dívida soberana da Ásia na Robeco, em Singapura.

Muitos investidores também ressaltam que a política monetária dos EUA continua a ser o fator mais crítico, com implicações de longo alcance para os fluxos de capitais, câmbio e apetite por risco nas economias em desenvolvimento.

"No curto prazo, acreditamos que o potencial para cortes de juros do Fed dominará os mercados, enfraquecendo potencialmente o dólar e levando ao fortalecimento de commodities e moedas emergentes", afirmou Jennifer Gorgol, da Neuberger Berman.