sábado, 15 de janeiro de 2022

Bilionário, União Brasil já tem 3 nomes de vice para a disputa pela Presidência, OESP

 Lauriberto Pompeu, O Estado de S.Paulo

15 de janeiro de 2022 | 05h00

BRASÍLIA - Mesmo sem saber qual candidato vai apoiar nas eleições presidenciais de outubro, o União Brasil já tem três nomes de vice para oferecer em qualquer chapa. A lista é composta por Luciano Bivar (PE), presidente do PSL; Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), ex-ministro da Saúde, e Mendonça Filho (DEM-PE), ex-titular da Educação. Em comum, porém, os três colecionam dificuldades em disputas eleitorais.

Fruto da fusão entre o DEM e o PSL, o União Brasil nasce com o maior fundo eleitoral para a campanha deste ano, na casa de R$ 1 bilhão. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve avalizar a criação do partido em fevereiro.

Pré-candidato do Podemos ao Palácio do Planalto, o ex-ministro da Justiça e ex-juiz da Lava Jato Sérgio Moro ia se encontrar com Mandetta na segunda-feira, em São Paulo, para discutir a possibilidade de aliança. Moro postou ontem no Twitter, porém, que seu teste de covid-19 deu positivo. Com isso, a reunião foi adiada.

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Luciano Bivar conquistou vaga na Câmara na onda bolsonarista; Luiz Mandetta ganhou projeção como ministro da Saúde; Mendonça Filho tentou, sem sucesso, o Senado em 2018 Foto: Dida Sampaio/Estadão, Daniel Teixeira/Estadão, Fabio Motta/Estadão

Mandetta só ganhou projeção na equipe de Bolsonaro, como ministro da Saúde, no início da pandemia do coronavírus, em 2020. Antes, em 2018, ele mostrava desencanto com a política e não havia nem mesmo disputado a reeleição para deputado federal.

Mendonça Filho, por sua vez, concorreu ao Senado em 2018, mas acabou derrotado. Dois anos depois, em 2020, foi candidato à prefeitura do Recife e não chegou nem ao segundo turno.

Luciano Bivar, na outra ponta, não conseguiu ser eleito deputado federal em 2014, mas em 2018 conquistou uma vaga na Câmara, na onda bolsonarista – à época, Bolsonaro era filiado ao PSL. Mesmo assim, Bivar ficou em sétimo lugar entre os nomes de Pernambuco.

O União Brasil tem negociado principalmente com Moro e com o PSDB, que lançou o governador de São Paulo, João Doria, como pré-candidato ao Planalto. O MDB, que apresentou a senadora Simone Tebet (MS) para a disputa, também participa das articulações.

O deputado Júnior Bozzella (SP), um dos vice-presidentes do PSL que manterão o cargo no União Brasil, admitiu entraves para a aliança com Moro. Mesmo assim, virou uma espécie de porta-voz da campanha do ex-juiz. “A gente vai ter deputados, R$ 1 bilhão de fundo eleitoral, quase dois minutos de TV (no horário gratuito), além das inserções, que vão contar muito. Em um projeto nacional, isso tem peso gigante”, disse Bozzella, sob o argumento de que o União Brasil é a alternativa para impulsionar a terceira via.

Polarização

Na lista dos possíveis vices, Mandetta tem como vantagem a proximidade com Moro. Os dois foram colegas de Esplanada e saíram rompidos com Bolsonaro, em abril de 2020. Desde aquele ano, eles têm trocado impressões sobre o cenário eleitoral e conversado com outros nomes que tentam quebrar a polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Bivar tem a seu favor o fato de que será o presidente do União Brasil. Tanto ele como Mendonça Filho são do Nordeste, região que é considerada um celeiro de votos do PT. A dobradinha entre Bivar e Moro, no entanto, contrastaria com o discurso de combate à corrupção mantido pelo ex-juiz. Motivo: o deputado é suspeito de fomentar concorrentes laranjas.

Em 2019, por exemplo, Bivar chegou a ser alvo de uma operação da Polícia Federal que investigou fraudes na aplicação de recursos destinados a candidaturas femininas em Pernambuco. Ele sempre negou desvio de dinheiro. Questionado sobre a aliança com Moro, afirmou que “é necessário tempo para a discussão da pauta econômica com os pré-candidatos e para acomodar alguns palanques pelo Brasil”.

Marcos Cintra, ex-secretário da Receita Federal, tem auxiliado o PSL nas pautas econômicas e foi escalado para dialogar com a campanha de Moro. 

A estratégia do União Brasil consiste em aguardar até abril para tomar uma decisão sobre qual presidenciável apoiar. É nesse mês que termina o prazo para que deputados possam mudar de partido sem perder o mandato. “Até lá, os movimentos serão mínimos porque os partidos precisam priorizar as bancadas no Parlamento”, observou Mendonça Filho.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

The New York Times Life/Style Você sabe de onde veio seu suéter?, OESP

 Vanessa Friedman, The New York Times - Life/Style, O Estado de S.Paulo

11 de janeiro de 2022 | 05h00

Há pouco menos de uma década, escrevi uma coluna sobre uma nova iniciativa extraordinária, cortesia da Fendi, chamada Pesce d'Aprile, na qual um cliente poderia viajar para uma fazenda de crocodilos em Cingapura, selecionar o réptil com o qual sua bolsa seria feita e em seguida, acompanhar seu progresso por meio de um aplicativo. Anunciado como o equivalente da moda a "conhecer sua comida", foi a primeira proposta desse tipo.

NYT - Life/Style (não usar em outras publicações).
A marca de luxo Loro Piana embarcou em um programa que permitirá aos clientes rastrear cada passo da produção de uma de suas camisolas de caxemira bebê desde a cabra até a loja. Foto: Valerio Mezzanotti/The New York Times

Também foi uma história inteiramente inventada (por mim): uma brincadeira do Dia da Mentira criada para destacar até onde as marcas de moda iriam para se diferenciar - e o fato de que, cada vez mais, os clientes estavam interessados na origem de seus produtos.

Mas agora, definitivamente, a brincadeira é comigo.

Loro Piana, a marca de luxo conhecida por suas malhas discretas de pelúcia e que parecem ter sido tecidas com notas de banco liquidadas, embarcou em um programa que permitirá aos clientes rastrear todas as etapas da produção de um de seus suéteres de caxemira infantil, da cabra até a loja.

Pode parecer uma coisa simples: como uma marca pode não saber exatamente onde e como seus produtos são feitos? Ainda assim, a cadeia de suprimentos da moda é tão complicada, suas numerosas etapas espalhadas por tantos países e processos, que para a maioria de nós as histórias da origem de nossas roupas são quase totalmente opacas.

“Acreditamos que as empresas sabem de onde as coisas estão vindo e, na verdade, muitas empresas perderam essa capacidade há muito tempo”, disse Maxine Bédat, fundadora do New Standard Institute, uma organização sem fins lucrativos fundada para definir e criar um estrutura para as reivindicações de sustentabilidade na moda. “Quanto mais produtos você adiciona à sua oferta, mais difusa e complicada se torna a fabricação e, como resultado, é muito raro que as empresas de moda, hoje, sejam capazes de rastrear suas cadeias de suprimentos completas e estejam dispostas a divulgá-las.”

Considere o fato de que um suéter de lã merino médio viaje 18.000 milhas ao longo de sua produção antes de chegar às prateleiras da loja, de acordo com a Bamford, a marca farm to table (da fazenda à mesa) de luxo britânica.

Traçar essa jornada é mais fácil, claro, se uma marca for pequena o suficiente para fazer tudo sozinha ou se uma nova marca for construída pensando na transparência. Mas poucos fundadores pensavam dessa forma uma década atrás, e quase nenhuma marca controla todas as etapas do processo de criação, da fazenda ao produto acabado.

Para o consumidor em busca de um presente, isso significa que é extremamente difícil saber, ao percorrer as prateleiras em busca de um tricô grosso e perfeito ou de um xale confortável, se o que você está vendo foi feito de forma responsável, com fatores ambientais e sociais em mente.

NYT - Life/Style (não usar em outras publicações).
Uma cabra-da-caxemira em um rancho em Alashan. Foto: Gilles Sabrié/The New York Times

É por isso que, há dois anos, a Loro Piana, que foi comprada pela LVMH por US $ 2,6 bilhões em 2013, decidiu definir seus processos para que agora possa incluir uma etiqueta de vestuário informando aos potenciais compradores que “esta malha saiu de um negócio feito naquela região específica naquele ano ou naquele mês daquele ano”, disse Fabio d'Angelantonio, o ex-CEO da Loro Piana (ele foi substituído no final de outubro por Damien Bertrand). E esse negócio originou-se nas costas daquele rebanho.

O projeto foi apresentado no início deste ano com os produtos de vicunha da Loro Piana e agora foi estendido para incluir a caxemira e a caxemira infantil, os produtos mais vendidos da empresa. Dado que o suéter de caxemira Loro Piana médio será tocado por aproximadamente 100 mãos em pelo menos três países enquanto segue seu caminho da Mongólia para a Itália até sua loja final, e envolverá mais de 13 processos em 18 meses a dois anos, isso não foi um empreendimento pequeno.

Sem dúvida, esse rastreamento foi possível apenas porque a marca de luxo tem o... luxo de conhecer seus pastores - ela vem adquirindo, fiando, tecendo e finalizando a caxemira desde 1924 - e porque seus clientes extremamente abastados estão dispostos a pagar pela informação. E a Loro Piana aposta que isso fará parte da proposta de valor da moda cada vez mais. Que cada presente físico também traga consigo o presente do conhecimento.

No lugar da economia do gotejamento, pense nisso como a transparência do gotejamento/TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

Morre Thiago de Mello, poeta que lutou pela Amazônia, aos 95 anos, FSP

 O poeta e jornalista amazonense Thiago de Mello morreu aos 95 anos nesta sexta-feira, durante o sono, segundo informações de seus familiares.

Nascido em Barreirinha, no interior do Amazonas, era um dos poetas mais conhecidos da região e cantou em prosa e verso sua luta pela preservação da maior floresta do mundo.

O poeta Thiago de Mello toma banho no rio Andirá, em 2015
O poeta Thiago de Mello toma banho no rio Andirá, em 2015 - Rodrigo Sombra/Divulgação

Um de seus poemas mais célebres é "Os Estatutos do Homem", escrito logo após a instauração do regime militar, que correu o mundo em várias traduções e começa com os versos "fica decretado que agora vale a verdade./ agora vale a vida,/ e de mãos dadas,/ marcharemos todos pela vida verdadeira".

O texto foi incluído no livro "Faz Escuro, Mas Eu Canto: Porque a Manhã Vai Chegar", publicado no ano seguinte, que teve sua frase-título lembrada como epígrafe na última Bienal de São Paulo.

Entre suas obras poéticas, também se destacam "Mormaço na Floresta", "Vento Geral" e "Poesia Comprometida com a Minha e a Tua Vida". Em prosa, publicou livros como "Amazonas, Pátria da Água" e "Amazônia - A Menina dos Olhos do Mundo", da década de 1990.

Sua última obra publicada foi pela editora Valer, no ano passado, e se chama "Notícias da Visitação que Fiz no Verão de 1953 ao Rio Amazonas e seus Barrancos". É um relato antigo que estava inédito até 2021, segundo o editor Isaac Maciel.

"Thiago era a própria expressão da Amazônia", afirma ele. "Além de a obra dele ser densa e de muito valor, ele tinha essa característica de levar a mensagem da floresta aonde quer que ele fosse."

Mello cursou e abandonou no meio a faculdade de medicina, ingressando na diplomacia na década de 1950. Foi adido cultural na Bolívia e no Chile, tendo a carreira interrompida pelo golpe militar de 1964.

Por seu engajamento contra a ditadura, o poeta chegou a ser preso e passou anos no exílio, em países como Argentina, Portugal e Chile, onde vivia seu amigo Pablo Neruda, vencedor do Nobel de literatura cujos livros Mello traduziu para o português.

Durante a década de 1950 e 1960, o poeta circulou entre alguns dos maiores autores brasileiros, como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e José Lins do Rêgo.

Em entrevista a este jornal, há quatro anos, ele comentou que escrevia uma espécie de livro de memórias em que relatava suas impressões sobre esses poetas, assim como de grandes nomes internacionais que conheceu, como Gabriel García Márquez e Jorge Luis Borges —sobre quem, aliás, publicou a obra de não ficção "Borges na Luz de Borges".

Desde que voltou ao Brasil, nos últimos anos da ditadura, Mello sempre viveu no Amazonas.

"É uma grande perda num momento tão crucial da democracia no Brasil", diz Joaquim Rodrigues de Melo, dono da Banca do Largo, que o poeta costumava frequentar em Manaus. "Ele sempre foi um defensor da liberdade, sempre se posicionou politicamente, é uma referência para a liberdade."

O velório será no palácio Rio Negro, na capital amazonense, em horário ainda a confirmar.