terça-feira, 16 de novembro de 2021

Cristina Serra Moro, a fraude, FSP


Eis que Sérgio Moro reaparece, com o messianismo e o discurso justiceiro de sempre, transbordantes no seu retorno aos holofotes. Moro exercitou as cordas vocais e estudou pausas teatrais, tentando dar alguma credibilidade ao estilo "corvo" moralista, atualizado para o século 21, só que sem a capacidade retórica do modelo original, o udenista Carlos Lacerda.

O erro de Moro é achar que o Brasil ainda está em 2018 e que vai votar em 2022 movido pelo ódio, por ele estimulado quando conduziu a Lava Jato. No processo que levou à condenação do ex-presidente Lula, o então juiz rasgou o devido processo legal e a Constituição. Isso não é versão nem narrativa. É o entendimento consagrado pelo STF, que o considerou um juiz suspeito.

Este é o fato mais importante da biografia do agora candidato e não pode ser naturalizado como página virada. Isso revela a essência de Moro. Ele grampeou advogados de Lula (tendo acesso, portanto, às estratégias de defesa do réu); determinou condução coercitiva espetacularizada; divulgou áudio ilegal e seletivo envolvendo a presidente Dilma, vazou delações.

Sergio Moro discursa em cerimônia de filiação ao Podemos - Adriano Machado/Reuters

O vale-tudo processual deu caráter de justiçamento à Lava Jato, feriu o Judiciário, a democracia e o país. Tudo com a complacência da mídia, a mesma que agora parece ver no ex-juiz o nome que procura para a terceira via como quem busca o Santo Graal.

Moro nunca demonstrou o menor constrangimento em servir a um presidente adepto da tortura e com notórias conexões criminosas. Tentou dar a policiais esdrúxula licença para matar sob forte emoção. Como quem fareja carniça, quando deixou o governo, foi ganhar dinheiro no processo de recuperação de uma das empresas que ajudou a esfolar.

Agora, Moro se apresenta como democrata. É uma fraude. Ele e Bolsonaro se igualam na mesma inclinação totalitária. As semelhanças, aliás, foram ressaltadas por pessoa insuspeita. Foi a senhora Moro quem disse, quando este ainda era ministro, que via o marido e o presidente como "uma coisa só". 

O preço da reeleição, Hélio Schwartsman, FSP

 O Brasil aguenta a reeleição de Bolsonaro?

Há turbulências à vista em nosso horizonte econômico e acho que elas serão poderosas o bastante para fazer com que nos livremos de Jair Bolsonaro em 2022. Isso dito, é bom lembrar que o futuro é contingente e que uma das mais sólidas lições que a ciência política nos ensina é a de que presidentes que disputam a reeleição nunca podem ser dados como carta fora do baralho. Na verdade, a vantagem que o cargo lhes dá é de tal magnitude que perder o pleito é mais a exceção do que a regra. A chance de êxito na conquista do segundo mandato é de mais de 80%.


Quanto medo devemos ter de uma eventual reeleição? A resposta curta é "muito". Essa é uma daquelas situações em que dois mais dois dá mais do que quatro. Eu me explico: os estragos que o vandalismo presidencial provoca não seguem uma escala linear. Não é difícil entender por que. Pensemos no STF. No primeiro mandato de Bolsonaro, abriram-se duas vagas. Há outras duas aposentadorias de ministro agendadas para a quadra 23-26. Ao emplacar dois juízes, o presidente consegue imprimir um caráter um pouco mais conservador à corte. Mas, se definir quatro nomes, será capaz de reverter até posições liberais hoje folgadamente majoritárias, como o aborto de anencéfalos.


E não é só o STF. Embora o estereótipo do funcionário público seja o de alguém que apenas tira do Estado, a verdade é que, principalmente em órgãos especializados como Ibama, Embrapa, Inpe, IBGE, temos muitos servidores concursados que escolheram a carreira por espírito público e amor à ciência. Vários deles permanecem no cargo, mas em contagem regressiva. Afinal, falta só um ano para o mandato de Bolsonaro acabar. Mas, se depois deste ano vierem mais quatro, muitos podem preferir tentar a sorte na iniciativa privada. A debandada que acontece agora em câmera rápida no Inep poderá se espalhar para outras áreas, debilitando ainda mais as instituições.

Pix, ano 1 editorial FSP

 Sobram números para demonstrar a boa aceitação do Pix, o ambiente de pagamentos instituído há um ano pelo Banco Central com o objetivo de ampliar a oferta de serviços financeiros à população.

De acordo com os dados do BC, o sistema acumula hoje 112,6 milhões de usuários, dos quais 93,4% pessoas físicas. Entre as empresas a adesão se mostrou mais lenta, dados os trâmites de adaptação ao mecanismo —adotado, ainda assim, por 8 de cada 10 negócios de pequeno porte, segundo o Sebrae.

Suas vantagens são evidentes e de fácil compreensão. O Pix permite transferências e pagamentos instantâneos e de baixo custo (gratuitos para as pessoas físicas), à diferença de instrumentos bancários tradicionais como DOC e TED.

O país tem tradição em avanços nessa seara desde os tempos em que a inflação descontrolada exigia maior rapidez nas transações financeiras. Até outubro contavam-se 348 milhões de chaves cadastradas e 227 milhões de contas no novo ambiente —cada pessoa pode fazer até cinco chaves por conta, e cada empresa, até 20.

O êxito do sistema levou a uma bem-vinda redução do uso de dinheiro em espécie, o que parece ser uma tendência inexorável das economias modernas e tem o potencial de dificultar atividades criminosas e sonegação tributária.

Conforme noticiou O Estado de S. Paulo, R$ 40 bilhões em papel-moeda deixaram de circular no Brasil entre janeiro e outubro, numa queda de 10,5% em relação ao volume do final do ano passado.

Houve problemas, decerto, a começar por um certo açodamento do Banco Central no lançamento do Pix, que levou a instabilidades iniciais. O sistema também criou novas oportunidades para golpes e até roubos e sequestros, obrigando a autoridade monetária a impor limites às transações.

Nem todos, ademais, dispõem de aparelhos e conexões adequadas com a internet, ou da familiaridade necessária com os meios eletrônicos. Os estratos mais pobres e menos educados enfrentam, sem dúvida, as maiores dificuldades.

Está claro, de todo modo, que a inovação tecnológica contribui para o ingresso de mais participantes em um mercado ainda muito concentrado nas mãos de poucos grandes bancos. O avanço do Pix ainda está em curso e deverá associar-se a diversos outros serviços e opções para os usuários.

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