Por alguns meses, pareceu que a Europa havia vencido a Covid-19. Mas, a partir de outubro, vários países começaram a registrar aumento nos casos. Agora, a tal da segunda onda está mais do que caracterizada. E não é só a Europa. Os EUA, embora nunca tenham controlado as transmissões, assistem agora a novos picos.
A primeira explicação para o recrudescimento foi climática. Com a aproximação do inverno boreal, as pessoas passam mais tempo em ambientes internos, o que favorece o contágio. Isso é parte importante da equação, mas não é tudo.
Nações asiáticas (China, Taiwan, Coreia do Sul) mantêm as infecções sob controle, apesar do clima mais frio, e localidades do hemisfério Sul registraram altas mesmo com o calor. Aconteceu até no Uruguai, um dos países que mais sucesso tiveram na contenção da epidemia. Em São Paulo, vivemos um preocupante aumento das internações por Covid-19 que pode prenunciar coisa pior.
Uma hipótese para explicar isso é a do esgotamento do ego, um nome pomposo para cansaço. As pessoas conseguem manter-se disciplinadas, mas não indefinidamente. A força de vontade tem limites.
Foi o psicólogo social Roy Baumeister quem lançou a ideia de que o autocontrole funciona como um músculo, sujeito a episódios de fadiga, mas que também pode ser fortalecido por exercícios. Pesquisas empíricas deram suporte a esse modelo.
Durante meses, populações que podiam mantiveram o afastamento social, mas, quando surgiram sinais de que a situação melhorava, recaíram nas velhas rotinas, o que reacendeu a epidemia. Na Europa, trabalhos mostraram uma associação entre as novas infecções e eventos de supertransmissão ligados a viagens de férias, festas, vida noturna. Algo parecido parece ocorrer em São Paulo.
Como a vacinação em massa e o esgotamento dos suscetíveis ainda estão distantes, só nos resta tentar exercitar o autocontrole. Na Ásia, estão conseguindo.