quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Segundas ondas, Hélio Schwartsman, FSP

  EDIÇÃO IMPRESSA

Por alguns meses, pareceu que a Europa havia vencido a Covid-19. Mas, a partir de outubro, vários países começaram a registrar aumento nos casos. Agora, a tal da segunda onda está mais do que caracterizada. E não é só a Europa. Os EUA, embora nunca tenham controlado as transmissões, assistem agora a novos picos.

A primeira explicação para o recrudescimento foi climática. Com a aproximação do inverno boreal, as pessoas passam mais tempo em ambientes internos, o que favorece o contágio. Isso é parte importante da equação, mas não é tudo.

Nações asiáticas (China, Taiwan, Coreia do Sul) mantêm as infecções sob controle, apesar do clima mais frio, e localidades do hemisfério Sul registraram altas mesmo com o calor. Aconteceu até no Uruguai, um dos países que mais sucesso tiveram na contenção da epidemia. Em São Paulo, vivemos um preocupante aumento das internações por Covid-19 que pode prenunciar coisa pior.

Uma hipótese para explicar isso é a do esgotamento do ego, um nome pomposo para cansaço. As pessoas conseguem manter-se disciplinadas, mas não indefinidamente. A força de vontade tem limites.

Foi o psicólogo social Roy Baumeister quem lançou a ideia de que o autocontrole funciona como um músculo, sujeito a episódios de fadiga, mas que também pode ser fortalecido por exercícios. Pesquisas empíricas deram suporte a esse modelo.

Durante meses, populações que podiam mantiveram o afastamento social, mas, quando surgiram sinais de que a situação melhorava, recaíram nas velhas rotinas, o que reacendeu a epidemia. Na Europa, trabalhos mostraram uma associação entre as novas infecções e eventos de supertransmissão ligados a viagens de férias, festas, vida noturna. Algo parecido parece ocorrer em São Paulo.

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Como a vacinação em massa e o esgotamento dos suscetíveis ainda estão distantes, só nos resta tentar exercitar o autocontrole. Na Ásia, estão conseguindo.

Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Custo por voto em São Paulo varia de R$ 0,21 a R$ 40, OESP

 Bruno Ribeiro, O Estado de S.Paulo

18 de novembro de 2020 | 05h00

Cada voto obtido pelo prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), candidato mais votado no primeiro turno destas eleições “custou” R$ 8,73, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Esse é o valor da razão entre a receita arrecadada pela campanha e os votos que ela obteve. É duas vezes e meia mais do que o adversário, Guilherme Boulos (PSOL), que teve um “custo” de R$ 3,67 por voto, mais baixo do que o de candidatos a vereadores. Em São Paulo, o custo por voto para ser eleito, neste ano, variou de R$ 0,21 até quase R$ 40. 

Quem foi mais “eficiente” nos gastos foi Marlon do Uber (Patriota), que investiu R$ 3 mil do próprio bolso na campanha e obteve outros R$ 2 mil com um financiamento coletivo. Youtuber com mais de 611 mil seguidores, não precisou mais do que isso para ser eleito. “Fizemos a campanha na nossa rede”, disse o vereador eleito ao Estadão, após se dizer surpreso por ter sido o que conseguiu pagar menos por cada voto. “Vou conversar com o meu contador”, afirmou.

Urna eletronica
Urna eletrônica Foto: Romildo de Jesus|Futura Press

Na outra ponta está a vereadora Edir Sales (PSD), que investiu cerca de R$ 900 mil na campanha e obteve 23,1 mil votos (R$ 38,96 por voto). A vereadora está ininterruptamente na Câmara desde 2008 e tem forte atuação na zona leste. Por isso, foi uma das apostas do PSD, que lhe repassou R$ 700 mil do fundo eleitoral para viabilizar sua campanha. “Teve a questão da cota para mulheres também”, disse Edir, ao falar do repasse. “Neste ano, com quase 30% de abstenção, por causa da pandemia, todos os vereadores tiveram votação menor. Foi uma eleição muito difícil”, afirmou.

O fato de ter sido o vereador mais votado, com mais de 130 mil votos, derrubou o custo de Eduardo Suplicy (PT): R$ 1,40. O vereador já havia obtido R$ 150 mil seu partido, que o tinha como o principal puxador de votos para a legenda – o que de fato ocorreu. Mas sua campanha arrecadou mais R$ 83 mil com doadores privados.

Executivo

Na disputa pela Prefeitura, duas candidaturas mais robustas financeiramente tiveram desempenho pior do que os que avançaram para o segundo turno. Joice Hasselmann (PSL) declarou receita de R$ 6 milhões e obteve 98,3 mil votos, ou R$ 61,67 por voto, o mais caro das eleições. Jilmar Tatto (PT), com 461 mil votos e uma receita de R$ 4,9 milhões, teve um custo de R$ 10,77 por voto, acima de Covas e Boulos.

Mas nem todos os derrotados tiveram menos eficiência em converter recursos de campanha em votos. Arthur do Val (Patriota), que tinha como bandeira o não uso de verba pública na campanha, obteve mais votos do que Tatto gastando 19% do que obteve a campanha do petista.

Celso Russomanno (Republicanos), que chegou a citar Jânio Quadros e dizer que sua campanha era “do tostão contra o milhão”, gastou R$ 2,75 para cada um dos 1,5 milhão de votos que obteve. Neste ano, a maior parte dos recursos disponíveis para as campanhas tem origem pública (R$ 2,6 bilhões dos fundos eleitoral e partidário).

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