sexta-feira, 3 de abril de 2020

Brasil terá falta de leitos mesmo em cenário mais otimista, FSP

Estudos de diferentes grupos de pesquisa projetam lotação de UTIs pelo país; pior cenário vê déficit em abril

  • 32
SÃO PAULO
avanço do coronavírus submeterá os hospitais brasileiros a pressões significativas mesmo se o contágio da população evoluir de forma lenta nos próximos meses, sugerem projeções de pesquisadores que estudam o impacto potencial da doença no sistema de saúde pública.
Como a epidemia ainda está em estágio inicial no Brasil, é cedo para previsões seguras sobre sua evolução, dizem os especialistas. Mas os estudos em andamento podem ajudar a identificar áreas despreparadas para lidar com a disseminação do vírus e a acelerada multiplicação de casos.
Cálculos de um grupo ligado ao Cedeplar (Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional) da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) indicam que grande parte dos municípios teria dificuldades mesmo com taxas de infecção relativamente baixas se a contaminação aumentar muito rapidamente.
Num cenário em que 0,1% da população contrairia o vírus em um mês, os pesquisadores mineiros preveem que faltariam leitos em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) para o atendimento dos casos mais graves em 44% das regiões em que o SUS (Sistema Único de Saúde) agrupa os municípios do país.
Uma taxa de infecção de 0,1% será alcançada no Brasil quando 210 mil pessoas tiverem contraído o novo coronavírus.
PUBLICIDADE
As estatísticas do Ministério da Saúde apontam 7.910 casos confirmados até esta quinta (2), mas há evidências de que muitos casos não têm sido notificados por falta de testes.
Com base na experiência de países atingidos antes pela pandemia, a OMS (Organização Mundial da Saúde) calcula que 14% das pessoas infectadas pelo coronavírus precisarão de internação hospitalar e ao menos 5% precisarão de atenção maior e de equipamentos das UTIs.
Num cenário mais pessimista, em que o contágio atingiria 1% da população em um mês, os hospitais de 95% das regiões ficariam sobrecarregados, sem leitos para os casos mais graves, diz o grupo da UFMG.
Em 51% das regiões, também não haveria aparelhos de ventilação pulmonar suficientes para auxiliar os doentes.
O Brasil tem pelo menos 33 mil leitos de UTI disponíveis para pacientes adultos no SUS e nos hospitais particulares, sem contar leitos para recém-nascidos e crianças, mas a distribuição é desigual. As maiores carências estão na rede pública e nas regiões mais pobres do país, Norte e Nordeste.
Muitos municípios que ficarão sem condições de atender os pacientes mais graves com o avanço da Covid-19 poderão recorrer à estrutura disponível em cidades maiores de suas regiões, mas essa opção também dependerá da intensidade com que elas forem atingidas pela epidemia, dizem os especialistas.
“Em muitos desses lugares, é possível que a oferta de ambulâncias equipadas e profissionais preparados para o transporte dos doentes que necessitarão de maiores cuidados seja mais decisiva do que a disponibilidade de leitos”, afirma o demógrafo Gilvan Guedes, um dos pesquisadores do grupo da UFMG.
Simulações feitas por outro grupo, liderado pela professora Marcia Castro, da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, nos EUA, sugerem que haverá problemas em poucas semanas no Brasil se a doença evoluir no mesmo ritmo observado na China, epicentro da pandemia.
Na cidade de São Paulo, faltariam leitos comuns e leitos de UTI a partir da segunda quinzena deste mês, de acordo com a maioria dos cenários estudados pelo grupo —a Prefeitura de São Paulo anunciou essa mesma previsão nesta quinta.
Se 12% dos infectados precisarem de cuidados especiais, como aconteceu na Itália, os recursos dos hospitais se esgotariam em poucos dias.
Segundo o Ministério da Saúde, a oferta de um leito de UTI para cada 10 mil habitantes é o mínimo necessário para atender a população, mas esse parâmetro é adequado para um ano típico, não para uma situação excepcional como a que o país enfrenta com a pandemia do coronavírus.
Segundo o IEPS (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde), a oferta de leitos de UTI nos hospitais do SUS é inferior ao mínimo necessário em 72% das regiões definidas pelos gestores do sistema, onde vive 56% da população brasileira e 61% das pessoas sem cobertura de planos de saúde privados.
As simulações feitas pelos grupos da UFMG e de Harvard indicam que as dificuldades serão menores se os leitos de UTI e outros recursos disponíveis nos hospitais privados também puderem ser usados por doentes sem plano de saúde, que dependem exclusivamente da rede pública.
Mas o ganho seria limitado mesmo assim. De acordo com os cálculos do grupo liderado por Marcia Castro, se os governos assumissem o controle dos hospitais privados no Brasil para enfrentar a epidemia, como ocorreu na Espanha, o esgotamento da oferta de leitos seria adiado por
apenas uma semana.
Estimativas de outro grupo de pesquisadores, orientado pelo professor Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, indicam que medidas de gestão nos hospitais e investimentos para ampliar a oferta de leitos contribuiriam mais para evitar o colapso.
“Os hospitais continuarão tendo que atender outros doentes na epidemia, mas muitas cirurgias poderiam ser suspensas, abrindo uma janela para aliviar o sistema”, diz Vecina, que chefiou a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária e foi superintendente do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
Num cenário em que a contaminação evoluísse no ritmo observado em Wuhan, cidade chinesa onde os primeiros casos foram registrados, e a taxa de infecção da população atingisse 0,5% em 79 dias, faltariam 30 mil leitos de UTI no país para atender os casos mais graves, calcula o grupo.
Se cirurgias eletivas fossem suspensas, o que poderia liberar 30% dos leitos existentes nas UTIs, segundo Vecina, as necessidades cairiam para 16,7 mil leitos. Com investimentos para ampliar em 10% a capacidade dos hospitais, o número cairia para 12,7 mil —ou seja, uma redução de 57%.
Em São Paulo, estado com o maior número de casos registrados até agora, esse efeito seria maior. Segundo os cálculos do grupo de Vecina, a suspensão de cirurgias eletivas e o investimento nas UTIs reduziriam de 6.400 para apenas 147 a necessidade de novos leitos para tratamento da Covid-19 nesse cenário.
Em todos esses estudos, os pesquisadores usaram estatísticas sobre a incidência da doença na China, nos EUA e na Europa para calcular seu impacto no Brasil, sem considerar os efeitos que providências adotadas por prefeitos e governadores nas últimas semanas podem ter no controle da contaminação.
Medidas drásticas de isolamento social como as que vigoram na maioria dos estados tendem a reduzir o ritmo de transmissão do coronavírus, evitando que idosos e outros grupos mais vulneráveis sejam infectados e atenuando a pressão sobre o sistema.
Outras medidas teriam efeito semelhante. “Fortalecer profissionais da atenção primária para que sejam capazes de identificar casos de contaminação e acompanhar sua evolução ajudaria a ganhar tempo, garantindo o encaminhamento só dos casos mais graves aos hospitais”, afirma Guedes, da UFMG.
Hospitais de campanha estão sendo construídos em São Paulo e no Rio para atender casos mais leves, o que aliviaria as UTIs. Ainda assim, especialistas defendem maior coordenação entre as várias esferas de governo para evitar desperdício de recursos.
“Há muitos leitos desativados nos hospitais que poderiam ser reativados com custo menor para os governos”, diz Adriano Massuda, ex-secretário de Saúde de Curitiba e hoje na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.

Coronavírus revela nosso deep state; Bolsonaro governa o Bolsolavistão, FSP

À margem, presidente estimula os perdigotos da desordem e da tragédia

  • 45
Nesta quinta, o presidente Jair Bolsonaro divulgou e pediu que se passasse adiante um vídeo em que uma senhora cobra que os militares saiam às ruas para pôr fim à quarentena. O público-alvo da exortação golpista —a de Bolsonaro— não são os brasileiros, mas os quartéis. Prega no vazio. Adequadas às suas particularidades, as Forças Armadas também aplicam medidas de isolamento social.
O presidente comete mais um crime de responsabilidade. Até a minha coluna passada, contavam-se 10. Agora, 12. Responderá por eles no tempo possível. À maneira cabocla, o coronavírus revelou a existência de um ‘deep state’ no Brasil. Pela Saúde, fala o ministro Luiz Henrique Mandetta. Pelo ordenamento geral, o general Braga Netto, da Casa Civil.
Governam o país. À margem, vitupera Bolsonaro, estimulando os perdigotos da desordem e da tragédia, prenhes de vírus. Governa o Bolsolavistão. Ademais, a Constituição reconhece a existência de um vice-presidente também eleito: general Hamilton Mourão. A Carta e a lei 1.079 trazem o regramento necessário para que a República sobreviva a vontades que a aniquilariam.
Entendo. Não é mesmo fácil a um presidente ter de vir a público para anunciar que, em alguns meses, de 100 mil a 240 mil cidadãos podem morrer vítimas da Covid-19, obrigando-se ainda a alertar que, sem medidas de distanciamento social, a cifra aponta para catastróficos 2,2 milhões.
Foi o que fez Donald Trump na terça. Pela primeira vez, o histrião pareceu um estadista. Economizou nos esgares. Terá de acertar contas com o povo americano. Até havia pouco, nos seus discursos, a doença era só uma gripe provocada pelo ‘vírus chinês’, e os riscos que corriam os EUA não passavam de um fantasma brandido por democratas para prejudicar sua campanha à reeleição.
Sua plateia se divertia a valer, com risos brancos, robustos e corados. Muitos estão agora contaminados, internados ou mortos. Não é justiça divina. Deus tem outros afazeres. É a educação pelo vírus. Até Trump é capaz de aprender.
O presidente dos EUA e a maioria dos líderes mundiais deixaram-se convencer pelo estudo liderado pelo Imperial College de Londres, que estimou o impacto da doença em 202 países, incluindo o Brasil. Por aqui, anteviu-se a morte de 1,15 milhão caso se adotasse o padrão milanês de combate ao vírus, como prega Bolsonaro.
As advertências do Imperial College foram referendadas por modelos matemáticos de especialistas dos EUA, da Europa e da Índia, entre outros países. Bolsonaro, em quem a revista inglesa The Economist —liberal, de direita!— tascou a pecha globalmente inapagável de ‘BolsoNero’, dispõe de suas próprias certezas.
À ciência, opõe as convicções de um fatalista tragicômico. Duas delas: “Todo mundo morre um dia” e “brasileiro tem de ser estudado porque pula no esgoto e não acontece nada”. A qualidade de um debatedor ou de um formulador de políticas públicas também se mede pelos argumentos irrespondíveis que é capaz de esgrimir.
Nota em defesa de Nero: nem tocou fogo em Roma nem foi dedilhar sua lira enquanto a cidade ardia, como no horrível filme ‘Quo Vadis’, baseado em romance ainda pior.
Já o nosso imperador lembra, às vezes, de fato, o Nero tresloucado que Suetônio, precursor dos blogueiros da difamação, inventou em ‘Os Doze Césares’, um clássico.
Bolsonaro não está só. O ditador Alexander Lukashenko, que governa Belarus desde 1994, defende que se combata o vírus com sauna e vodca. Gurbanguly Berdimuhamedow —não tente decorar—, que tiraniza o Turcomenistão desde 2007, proibiu a imprensa e os indivíduos de escrever ou pronunciar “coronavírus”. Jornalistas devem ainda evitar o vocábulo “problema”. Uma imprensa sem viés ideológico.
“Eu quero que cada americano esteja preparado para dias difíceis. Nós vamos passar por duas semanas muito brutais”, afirmou Trump ao reiterar a necessidade das medidas de isolamento social. Bolsonaro prefere passar adiante um vídeo que convida os quartéis a dar um golpe no Bolsolavistão.
Não vai ter golpe, vai ter lei. Melhor não morrer nem de vodca nem de vírus.
Reinaldo Azevedo
Jornalista, autor de “O País dos Petralhas”.

Rede de laticínios goiana tem um dos prédios sustentáveis mais conceituados da América Latina, Procel


Goiás – Projeto da sede administrativa da Piracanjuba foi reconhecido pela certificação LEED Platinum e pelo Selo Procel Edificações

Divulgação
Débora Anibolete, para o Procel Info
Goiás – A cidade de Goiânia, no Centro Oeste do país, abriga hoje um dos prédios sustentáveis mais conceituados da América Latina. Trata-se da sede administrativa da Piracanjuba, marca da rede de laticínios Bela Vista. A construção, que foi projetada de acordo com os conceitos de ecoeficiência, acaba de conquistar o Selo LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), na categoria New Construction. A certificação é concedida a edificações que atendem a determinados critérios, como o uso de materiais com certificação ambiental, otimização do uso de recursos e utilização de tecnologia adequada. O prédio verde da Piracanjuba conseguiu alcançar 97 pontos de um total de 110, chegando ao nível Platinum, o mais alto da certificação. As soluções sustentáveis adotadas na construção, que conta com mais de 8 mil metros quadrados de área construída, também renderam ao prédio a conquista do Selo Procel Edificações para prédios construídos.

O superintendente da Latícinios Bela Vista, Marcos Helou, explica que o projeto do novo prédio surgiu em um momento em que a empresa decidiu buscar alternativas sustentáveis para sua operação. O projeto foi precedido pela construção de uma estação de tratamento de efluentes na unidade fabril de Bela Vista de Goiás, em 2014, que permitiu uma redução expressiva da utilização de madeira de reflorestamento para a geração de vapor. A iniciativa da sede administrativa surgiu no ano seguinte, quando foi estudada a viabilidade do empreendimento no local e as soluções para que a construção não gerasse impactos na comunidade da região. A intenção, segundo Helou, era chegar a uma estrutura operacional que fosse “confortável, acessível e agradável a seus usuários”.

Junto à concepção do projeto, veio a busca pela certificação, que começou já na fase de avaliação do terreno onde o edifício seria construído. A partir de então, a empresa passou a atuar junto com o Centro de Tecnologia de Edificações (CTE), empresa de consultoria especializada em sustentabilidade para fazer as adequações necessárias para que a nova sede pudesse atender todos os requisitos. Entre essas ações, foram realizadas medidas de contenção para evitar danos ao ambiente, a coleta seletiva e o gerenciamento correto da obra, com a reciclagem de 94% dos resíduos.
As soluções sustentáveis e eficientes também renderam ao prédio o Selo Procel Edificações

“Ao analisar as opções disponíveis para validarmos as soluções aplicadas na edificação, percebemos que pequenas implementações de infraestrutura e de rotina durante o projeto nos possibilitariam duas certificações: o Selo Procel Edificações e a Certificação LEED. Após estudos e muito empenho dos envolvidos, conseguimos executar com excelência todos os requisitos regulados pelas duas metodologias e obtivemos estes reconhecimentos”, relata Helou.

Tecnologia e soluções de eficiência energética nortearam o projeto

Para alcançar estas certificações, a empresa adotou algumas alternativas tanto em relação à arquitetura e materiais escolhidos, quanto em sistemas utilizados. Para o fornecimento de eletricidade, foram adotadas práticas de geração de energia e eficiência energética, a fim de abastecer todo o complexo sem gerar uma grande despesa. Dessa forma, foram implantadas no prédio placas fotovoltaicas para a geração de energia solar, capazes de atender 24% da demanda da sede administrativa.

Para a iluminação interna do local, foram escolhidas luminárias de LED, orientadas por um sistema automático de presença e intensidade luminosa. Nas fachadas, foram usados sensores de luminosidade que permitem o aproveitamento da luz natural. Além disso, foram utilizados vidros de alta performance, que possibilitam a entrada de luz garantindo o conforto térmico do ambiente, além de persianas controladas por software. A tecnologia de acionamento remoto também foi empregada no sistema de ar condicionado, que possui alta eficiência no consumo energético. Com o emprego dessas soluções, segundo a empresa, a construção chega a consumir metade da energia de um prédio do mesmo porte.

Seguindo os parâmetros de uso racional de recursos, também foram tomadas medidas para evitar o desperdício de água no empreendimento. Por meio de alternativas como a utilização de um sistema de captação e aproveitamento da água pluvial e de instalações hidráulicas com motores de alta eficiência, o prédio consegue economizar até 47% da água, se comparado a uma construção tradicional. O paisagismo do local também foi pensado para evitar o grande dispêndio de água na irrigação, a partir da escolha de espécies de plantas locais ou bem adaptadas à região. Além disso, a construção também foi realizada com 59% de madeira certificada pelo selo FSC (Forest Stewardiship Council), acima do total exigido para esse tipo de projeto.
A gestão de energia do edifício conta com soluções de eficiência energética e geração solar

Todas as iniciativas promovidas no prédio vêm sendo comunicadas periodicamente ao quadro de funcionários por meio de ações informativas e campanhas de conscientização. Já o público externo pode ter acesso às informações no site da nova sede da Pirancanjuba, onde também estão disponíveis dicas de economia de água e energia que podem ser adotadas pelos consumidores em suas residências.

Outras iniciativas

Além da construção do prédio verde da sede administrativa da Piracanjuba, a Laticínios Bela Vista vem adotando outras medidas visando diminuir as despesas e reduzir os impactos ambientais de suas atividades. De acordo com o superintendente Marcos Helou, entre as ações realizadas estão a substituição de motores antigos das unidades fabris por modelos novos de alto rendimento e menor consumo de energia, uso de tubulações de maior diâmetro para diminuir perdas de carga em sistemas hidráulicos e, consequentemente, reduzir o consumo energético para o bombeamento e a utilização de máquinas eficientes. Também foram adotados treinamentos operacionais com os colaboradores e a prática de reúso de água.

“A otimização de recursos naturais é conduzida como prioridade em toda a empresa. Este tipo de indústria depende destes recursos para a manutenção de suas operações, logo, quanto menor a quantidade de recursos naturais utilizados, menor será o custo operacional”, destaca Helou.