quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

O QUE A FOLHA PENSA Opções para o SUS

Ferramenta que mostrou desperdício em hospitais mineiros é exemplo na escassez

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Hospital da Unimed, no bairro Santa Efigênia, em Belo Horizonte - Alexandre Rezende/Folhapress
As restrições fiscais que o Estado brasileiro enfrenta não desaparecerão tão cedo. Nos anos de vacas magras que teremos pela frente, as pressões de uma população que envelhece sobre o sistema público de saúde serão agravadas. 
Em tal cenário, melhoras de gestão são vitais —e, dada a desorganização do SUS, esse se mostra um caminho dos mais promissores.
Um bom exemplo, reportado pela Folha, é a iniciativa de planos de saúde, hospitais e gestores de Belo Horizonte de adotar uma ferramenta gerencial que permite identificar problemas e tomar as providências para combatê-los.
Em 2011, o grupo IAG Saúde adaptou para o Brasil a plataforma DRG (Diagnosis Related Groups), que cruza dados assistenciais e econômicos, possibilitando a comparação de custos e resultados.
Desde então, a DRG, que começou a ser usada nos anos 1980 nos Estados Unidos e na Europa, vem sendo implantada paulatinamente por instituições privadas e públicas na capital mineira.
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Um estudo feito a partir dos dados já disponíveis na ferramenta permitiu identificar falhas diversas que levaram, num período de 12 meses, a 679 mil diárias hospitalares desnecessárias —assustadores 37,7% do total. Os gestores tentam agora tapar essas brechas.
A rigor, nem se necessita de algoritmos sofisticados para avançar. Um administrador que consiga reduzir à metade o tempo médio de internação, meta factível a depender do perfil da unidade, na prática dobra a sua capacidade.
Bônus extra: menos tempo no hospital significa também menor risco de contrair infecções resistentes, cujo tratamento é caro e que por vezes se mostram fatais.
Os ganhos potenciais não estão limitados ao óbvio. Há grande espaço para aperfeiçoar o sistema de remuneração —o ideal seria trocar a prática do pagamento por procedimento pela do pagamento por resultado. Com isso, o sistema ofereceria incentivos financeiros à eficiência e não ao desperdício.
Outro ponto importante é a lógica organizacional. Hoje, prefeitos se mobilizam para que suas cidades tenham hospital próprio ou equipamentos sofisticados. Para o sistema, trata-se de um desvario: hospitais de máxima eficiência devem contar com pelo menos duas centenas de leitos.
Também o compartilhamento de unidades e aparelhos está, pois, entre os meios de aprimorar a saúde pública sem aumento de verbas.

Como jornais impressos estão fazendo a transição ao digital, Nexo

Esta tese traz dez exemplos de boas práticas para jornais de origem impressa que estão se adaptando ao ambiente on-line

Tese: Inversão de papel: prioridade ao digital como um novo ciclo de inovação para jornais de origem impressa

AUTOR
Alexandre Lenzi, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Lattes
ORIENTADORA
Raquel Ritter Longhi
ÁREA E SUB-ÁREA
Comunicação, Jornalismo
PUBLICADO EM
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Programa de Pós-Graduação em Jornalismo 20/10/2017
Esta tese de doutorado, realizada na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), aponta como veículos de origem impressa estão repensando a produção e distribuição de seus conteúdos para ganhar espaço no ambiente on-line, que se tornou prioritário.
As conclusões trazem dez exemplos de boas práticas para fazer a transição ao digital. Entre eles, a exploração de novos formatos multimídia, a antecipação da jornada de trabalho e o trabalho em equipe entre funcionários – inclusive aqueles que não fazem parte da redação.

A qual pergunta a pesquisa responde?

A pesquisa busca entender como jornais impressos tradicionais estão trabalhando para trazer seus conteúdos informativos para o ambiente on-line com qualidade e credibilidade. Para isso, traz um panorama de mudanças no cenário recente em jornais internacionais, como o norte-americano The New York Times, os espanhóis El País e El Mundo e o argentino Clarín; e os brasileiros Folha de S.Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo, Gazeta do Povo e Zero Hora. Embora a maioria siga com fortes versões impressas, esses jornais (e tantos outros mundo afora) estão adaptando as formas de trabalho para o atual contexto, em que uma nova geração de leitores informa-se exclusivamente no ambiente on-line. O desafio é unir os valores tradicionais do jornalismo, como relevância e veracidade, com as características próprias do meio digital, que permitem, por exemplo, uma narrativa mais multimídia e interativa. Fazer as adaptações necessárias exige uma mudança de perfil dos novos profissionais das empresas jornalísticas, uma reorganização do fluxo de trabalho e inovação nos formatos narrativos empregados.

Por que isso é relevante?

A imprensa livre é um dos pilares da sociedade democrática. E, com uma geração já em idade adulta de nativos digitais (pessoas que cresceram em meio às novas tecnologias), é fundamental que jornais conquistem espaço na internet, oferecendo conteúdo relevante. Em tempos de fake news, é necessário fortalecer as empresas responsáveis por checar as informações que chegam ao público em geral, por investigar os órgãos públicos e denunciar irregularidades quando for o caso. O jornalismo mantém sua essência: levar informação verdadeira e relevante como prestação de serviço para o maior público de pessoas. Mas, para isso, é preciso repensar os formatos em que tal conteúdo é apresentado, pois números da indústria jornalística encontrados na pesquisa comprovam a queda da circulação de jornais impressos e são indicativos de crescimento do público nas plataformas on-line.

Resumo da pesquisa

A presente tese aponta a priorização da produção de conteúdo informativo para plataformas digitais em redações com um fluxo de trabalho até então regrado pelo ritmo do impresso como um novo e necessário ciclo de inovação em empresas jornalísticas. Trata-se de uma inversão de papel que acarreta mudanças de formatos narrativos e de processos de produção, com impactos em diferentes frentes, promovendo, por exemplo, a antecipação das jornadas de trabalho e a criação de diferentes deadlines dentro do mesmo dia. É um movimento que exige investimento em pessoal, tanto em quantidade quanto em qualidade, diante da necessidade de novos perfis de profissionais. A partir de entrevistas em profundidade com lideranças estratégicas de oito jornais, entre empresas do Brasil, da Argentina e da Espanha, busca-se problematizar essas mudanças vivenciadas no cenário atual e também aquelas projetadas para o futuro de curto e de médio prazo. Ao final do trabalho, são apresentadas dez ideias condensadas em um guia com exemplos de boas práticas para redações convergentes, com a identificação de demandas para o exercício da reportagem multimídia no cenário contemporâneo.

Quais foram as conclusões?

As conclusões são apresentadas em formato de um guia com ações para priorizar o conteúdo digital, contendo dez ideias defendidas pelo autor para aplicação prática em redações jornalísticas. De forma resumida:
  1. Assegurar a equiparação salarial entre funções equivalentes no ciclo impresso e no ciclo digital;
  2. Trabalhar em equipe, envolvendo inclusive profissionais que não fazem parte diretamente da redação;
  3. Promover a visão multimídia ao longo das diferentes etapas de produção, do planejamento até a distribuição;
  4. Investir em treinamento interno e incentivar o treinamento externo dos atuais e dos novos funcionários;
  5. Comprar ou desenvolver sistemas eficientes para publicação de conteúdo on-line;
  6. Criar um fluxo de atualização do on-line em diferentes momentos do dia, independentemente do noticiário factual;
  7. Ampliar a equipe para antecipar o ritmo de produção, trazendo parte dos jornalistas mais cedo para a redação;
  8. Cobrar pelo conteúdo, mas não por qualquer conteúdo;
  9. Explorar a prática da grande reportagem jornalística como espaço para inovação e experimentação de formatos;
  10. Incorporar o fluxo digital como prioridade.

Quem deveria conhecer seus resultados?

O trabalho é voltado principalmente para gestores de empresas de comunicação, jornalistas e futuros jornalistas. Mas é uma leitura que pode interessar também para todas as pessoas preocupadas com o papel da imprensa em uma sociedade democrática. É também uma reflexão para jovens que estão na fase de escolher a profissão, porque, apesar de todos os desafios, a pesquisa mostra que fazer jornalismo continua sendo uma atividade apaixonante. Há espaço para trabalhos relevantes e criativos em diferentes empresas. Espera-se também uma troca de ideias com outros pesquisadores da área da comunicação, pois a pesquisa proposta continua, mas agora com um novo olhar, que é para as empresas nativas digitais, veículos jornalísticos que estão fazendo a diferença e crescendo no ambiente on-line.
Alexandre Lenzi é estudante, profissional do jornalismo há mais de duas décadas, mestre e doutor na área. Atuou como repórter e editor em empresas em Santa Catarina, tendo reportagens reconhecidas com o Prêmio Fatma de Jornalismo Ambiental e o Prêmio Fiesc de Jornalismo Econômico. Tem experiência, ainda, em comunicação institucional e em ensino superior. Durante a realização da pesquisa de doutorado em jornalismo pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), passou por um período como pesquisador visitante no Center for Internet Studies and Digital Life, na Universidade de Navarra, em Pamplona, na Espanha. Atualmente, realiza estágio pós-doutoral na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

Referências:

  • LENZI, Alexandre. Inversão de papel: prioridade ao digital, um novo ciclo de inovação para jornais impressos. Florianópolis: Editora Insular, 2018. http://loja.insular.com.br/product_info.php/products_id/1158
  • Pesquisa brasileira de mídia 2015: hábitos de consumo de mídia pela população brasileira. Brasília: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), 2015. http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de-contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf
  • Pesquisa brasileira de mídia 2016. Brasília: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), 2016. http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de-contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2016-1.pdf/view
TODOS OS CONTEÚDOS PUBLICADOS NO NEXO TÊM ASSINATURA DE SEUS AUTORES. PARA SABER MAIS SOBRE ELES E O PROCESSO DE EDIÇÃO DOS CONTEÚDOS DO JORNAL, CONSULTE AS PÁGINAS NOSSA EQUIPE E PADRÕES EDITORIAIS. PERCEBEU UM ERRO NO CONTEÚDO? ENTRE EM CONTATO. O NEXO FAZ PARTE DO TRUST PROJECT. SAIBA MAIS.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Caso Loggi: entenda, Jus Brasil

A decisão do TRT2 deve impactar e muito o setor de entregas e novas tecnologias

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Rayssa Castro Alves, Advogado
Publicado por Rayssa Castro Alves
ontem
994 visualizações
A Loggi é um aplicativo de entregas via motoboy. Não só ela permite você contratar entregadores, mas acompanhar em tempo real a rota do motorista. Com uma experiência diferenciada, um preço acessível e popularidade no mercado, ela acabou por suscitar muita controvérsia no meio jurídico.
O maior deles: o motoboy é empregado ou não da Loggi?
Bom, em 27/08/2018 o Ministério Público do Trabalho ajuizou Ação Civil Pública Cível (nº 1001058-88.2018.5.02.0008) em face da Loggi Tecnologia Ltda e L4B Logística Ltda.
O MPT queria o reconhecimento de vínculo de emprego entre a Loggi e todos os profissionais cadastrados no aplicativo, com abstenção de utilizar prestadores de serviço autônomos, com pagamento de adicional de periculosidade, além de diversas outras obrigações de fazer.
O processo correu em segredo de justiça, contou com manifestação dos motoboys em frente ao fórum e em 06/12/2019 a Juíza Lávia Lacerda Menendez, da 8ª Vara do Trabalho de São Paulo, prolatou sentença, reconhecendo o vínculo de emprego entre a Loggi e os motoboys e obrigando a contratação como empregados de todos os prestadores cadastrados na plataforma desde 06/10/2019.
A fundamentação da Juíza deu-se com base na estrutura do serviço ofertado pela Loggi: como é a empresa que estabelece as condições do trabalho (preço, forma de pagamento, logística, prazos), ao contrário de plataformas como AirBnb, Booking e Mercado Livre, que seriam meras intermediadoras, ela verificou a presença dos 5 requisitos da relação de emprego (pessoa física, prestando serviço com pessoalidade, subordinação, onerosidade e não eventual).
Nas palavras da Juíza:
"O aplicativo não é apenas o meio da realização da transação, mas seu próprio realizador, idealizador, vendedor, empreendedor. Ele estipula as regras e o prestador de serviços e o cliente final a elas aderem como num contrato de adesão: não se negocia preço ou modo de confecção ou realização."
A sentença é bem extensa, bem como os pedidos realizados pelo MPT. Além da obrigação de contratar os motoboys como empregados, a Loggi foi condenada a não contratar ninguém como autônomo, não instituir prêmio por produção, taxa de entrega ou comissão para garantir a segurança dos motoristas, pagar multa de R$ 30 milhões pelo dano social causado, além de outros.
O prazo para interposição de recursos ainda não acabou e certamente a Loggi irá recorrer.
Acredito que esta decisão será reformada pelo Tribunal, por causa do impacto econômico que ela gera. Afinal, este tipo de precedente pode falir a empresa, desestimular outras iniciativas da área e aprofundar o desemprego.
Não acho que a decisão da Douta Juíza foi correta, mas também tenho críticas contra a precarização das condições de trabalho realizadas por plataformas, especialmente em momentos de forte crise econômica.
Neste sentido concordo com o Desembargador João Bosco Pinto Lara, do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (Minas Gerais):
A Justiça do Trabalho deve abandonar, o quanto antes, a visão mistificadora de que todos trabalham sob relação subordinada e que esta modalidade de contratação é a mais vantajosa para o prestador de serviços.
Mais do que isto, há que se invocar outro elemento essencial a qualquer relação jurídica que se estabeleça entre pessoas ou entidades, que tem sido sempre desenhado nos arraiais do Direito do Trabalho sob a mistificação de tratar-se de um direito de natureza protetiva, que o elemento da boa-fé.
(TRT da 3.ª Região; PJe: 0010128-91.2016.5.03.0137 (RO); Disponibilização: 17/05/2017; Órgão Julgador: Nona Turma; Relator: Joao Bosco Pinto Lara)
Estou acompanhando de perto o caso Loggi e assim que tivermos novos desdobramentos eu trarei aqui para a comunidade JusBrasil.
Para mais notícias, não deixe de visitar meu blog.
                         *Imagem: Site Loggi