sexta-feira, 24 de maio de 2019

Retrato do saneamento, oesp


12 milhões de pessoas não têm disponibilidade diária de água no Nordeste

Notas e Informações, O Estado de S.Paulo
24 de maio de 2019 | 03h00
Os dados sobre saneamento básico, constantes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua 2018, reafirmam a gravidade da situação desse setor e reforçam a necessidade urgente de mudar a legislação que o regula. As novas regras em discussão no Congresso – com destaque para as que facilitam os investimentos de empresas privadas em saneamento, somando esforços com as companhias estaduais já estabelecidas, carentes de recursos – são essenciais para a solução do problema.
O serviço de água está em melhor situação do que o de esgoto. Em 2018, 85,8% dos 69,3 milhões de domicílios do País com água canalizada eram abastecidos pela rede geral de distribuição. É preciso levar em conta, porém, as disparidades regionais. No Nordeste, por exemplo, aquele porcentual é de apenas 69,1%. E ali 12 milhões de pessoas não têm disponibilidade diária de água. Outro dado a considerar é o lento avanço em direção ao pleno abastecimento. Em algumas regiões há mesmo retrocesso. No Centro-Oeste, em 2018 o fornecimento de água ficou abaixo do de 2016.
O problema do esgoto é bem mais grave. Em 2018, só 66,3% do total de domicílios tinham acesso à rede geral ou fossas ligadas à rede para o escoamento do esgoto. As diferenças regionais são também significativas: de 88,6% no Sudeste para 44,6% no Nordeste e 21,8% no Norte. Em números absolutos, o problema se apresenta de forma mais chocante: 72,4 milhões de brasileiros residiam em domicílios sem acesso à rede geral coletora de esgotos. Uma situação vergonhosa para um país que é a oitava economia do mundo.
Diante desses dados, não há como deixar de dar razão ao senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), responsável pelo substitutivo à Medida Provisória (MP) 868/18, que muda o marco regulatório do saneamento básico, aprovado por Comissão Mista do Congresso, num passo importante para a solução do problema. Segundo ele, com relação ao saneamento “ainda vivemos na Idade Média”, embora estejamos no século 21. 
Quanto ao lixo, em 2018, 83% dos domicílios tinham acesso à coleta direta, 8,1% faziam coleta via caçamba de serviço de limpeza e 8,9% queimavam o lixo ou lhe davam outro destino. Mais uma vez, são os números absolutos que retratam com mais crueza a realidade: 20,1 milhões de brasileiros não dispõem de coleta de lixo, e o Nordeste sozinho responde por mais da metade desse número, exatamente 10,5 milhões.
Esse quadro de um serviço essencial para a população fica ainda mais sombrio quando completado por dados do Instituto Trata Brasil. A perda de água potável, por exemplo, é muito elevada, o que agrava o problema – a média nacional é de 38,29%. Ela chega a 55,4% no Norte e a 46,25% no Nordeste, mas mesmo nas regiões mais ricas é alta – 36,54% no Sul e 34, 35% no Sudeste. A situação é semelhante no que se refere ao tratamento de esgoto. A média nacional é baixa, de apenas 45,1%, sendo pior no Norte (22,58%) e no Nordeste (34,73%).
O custo para resolver o problema, universalizando o acesso aos serviços de água e esgotos, é outro dado fundamental. Embora seja alto, o cálculo do Instituto Trata Brasil – de R$ 303 bilhões, em 20 anos – é importante. Ele chama a atenção para o tamanho do desafio com que o País está às voltas e para a necessidade de encontrar novos caminhos, porque os trilhados até agora, como demonstra a experiência, não representam uma solução.
É notório que as companhias estaduais – que hoje são amplamente dominantes no setor e na prática podem impedir a entrada de concorrentes nesse mercado – não têm recursos suficientes para enfrentar o problema. O caminho apontado pelo substitutivo à MP 868/18 é o mais adequado: o de um esforço conjunto do Estado com o capital privado, abrindo-se o setor à concorrência. Só assim será possível ampliar as redes de abastecimento de água e de coleta de esgotos; instalar estações de tratamento; e adotar medidas para reduzir a perda de água.
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OPINIÃO Expressa a opinião do autor do texto MANOEL DE QUEIROZ PEREIRA CALÇAS, MARIA RITA REBELLO PINHO DIAS E PAULA LOPES GOMES Resistência à Justiça 4.0: qual é o custo do atraso?, FSP

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) é o maior do país: por ele tramitam cerca de 25% dos processos brasileiros. Há mais de cinco anos o TJ-SP adotou de forma pioneira e maciça o processo eletrônico, com avanço significativo na celeridade dos julgamentos. Em consequência, os investimentos realizados em tecnologia resultam em aprimoramento e inovação dos serviços prestados e ocupam espaço relevante no orçamento.
 
O TJ-SP anunciou a contratação direta da Microsoft para responder aos desafios e superar as limitações técnicas e contratuais do modelo atual, objetivando desenvolver a solução inovadora que é uma plataforma de justiça digital. 

O objetivo foi obter ainda mais eficiência e rapidez na solução dos conflitos, de forma padronizada e em maior volume, ampliando a qualidade de decisões judiciais e a segurança jurídica. Seguiu, de modo estrito, os ditames da Lei de Inovação Tecnológica, que alterou a Lei de Licitações para permitir a dispensa de licitação nas hipóteses de iniciativas complexas e inovadoras na área de tecnologia, como é o caso. 

Tal plataforma se vale da nuvem para armazenar dados e se beneficiar do grande poder computacional desse ambiente, o que propicia alta estabilidade e rapidez do sistema para advogados, magistrados e público em geral e prescinde da custosa estrutura de “data centers”.

Além disso, inovadora nesse ponto, a solução tem a capacidade de incorporar com agilidade novas ferramentas tecnológicas por ser desenvolvida nativamente em nuvem, valendo-se de automáticos benefícios implementados em seus componentes ou incorporando serviços compatíveis, superando, assim, risco de obsolescência a um menor gasto. 
Os atuais sistemas de tramitação de processos sequer podem ser transportados para a infraestrutura de nuvem por limitações em sua arquitetura, sendo impensável que se beneficiem dos serviços tecnológicos disponibilizados nesse contexto (nuvem) pelo mesmo motivo. 

É patente a necessidade de inovação a justificar a iniciativa do TJ-SP. A nova plataforma digital descomplicará a vida dos advogados e demais operadores do direito, possibilitando, com suas novas ferramentas, maior contato entre o jurisdicionado e o Poder Judiciário, atendendo aos reclamos por decisões judiciais céleres e maior acesso à Justiça.

A contratação resulta em substancial economia, com a redução de quase 40% do custo anual do TJ-SP com a manutenção do seu sistema antigo, evitando também o custo de renovação do parque computacional de seus “data centers”, estimado em quase R$ 1 bilhão. Em dez anos, essa economia não só compensará os investimentos já realizados com o sistema atual, mas também reduzirá muito os gastos. 

O TJ-SP passará, também, a ser protagonista do contrato, pondo fim à sua posição de vulnerabilidade e encerrando sucessivas renovações por dispensa de licitações, como o que ocorre há tempos. Protagonista, mas sempre em favor do interesse público.

Sem quaisquer insinuações, processos de mudança provocam resistência. O TJ-SP, no entanto, não pode ceder às pressões injustificadas, embora possa debater democrática e lealmente com quem queira, sem se descuidar de sua autoridade e seu dever de zelar pelos recursos públicos, principalmente em um período de dificuldades econômicas.

Indaga-se, neste sentido, a quem interessa o atraso?
Manoel de Queiroz Pereira Calças
Desembargador e presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo
Maria Rita Rebello Pinho Dias
Juíza de direito e assessora da Presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP)
Paula Lopes Gomes
Juíza de direito e assessora da presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP)
TÓPICOS

Mulher suspeita de jogar filha da janela era vista com orgulho pela família, FSP

Segundo vizinha, estudante de 29 anos, que teve prisão decretada, é boa mãe, mas vinha tendo surtos

Thaiza PauluzeAlfredo Henrique
SÃO PAULO
De infância simples no extremo zona sul da capital paulista, filha de jardineiro e esteticista, Fernanda Fernandes, 29, sempre chamou atenção pela inteligência.
Cursa geografia na concorrida Universidade de São Paulo, onde foi integrante do Núcleo de Direito à Cidade. Também estagiou na Secretaria do Meio Ambiente do Estado e assumiu uma monitoria no Parque de Ciências e Tecnologia da USP. 
Sua trajetória não daria pistas da tragédia que protagonizou na madrugada desta sexta (24). Fernanda é suspeita de ter atirado a filha de três anos do apartamento onde viviam, no 5º andar de um edifício na avenida Corifeu de Azevedo Marques (zona oeste). Ela também se jogou, depois de negociações frustradas com os bombeiros e de ter ateado fogo à cortina do apartamento.
Fernanda Fernandes, sentada à janela de apartamento na zona oeste de SP após atirar a filha
Fernanda Fernandes, sentada à janela de apartamento na zona oeste de SP após atirar a filha - Reprodução/RecordTV
A menina caiu sobre um carro e teve apenas escoriações leves. A mãe, que teve a prisão decretada em flagrante, está internada em estado grave no Hospital das Clínicas.
Recentemente, Fernanda se equilibrava entre os estudos e a filha, após vários anos de relacionamento com seu único namorado, o professor de música Evandro Barbosa.
O casal morava num sobrado construído sobre a casa da mãe de Fernandinha, como é conhecida. Eles se davam bem e se mostravam apegados à menina, conta a vizinha de frente, amiga da família há 30 anos, Zina Dantas, 57. 
Em 12 de fevereiro deste ano, no entanto, Fernanda registrou um boletim de ocorrência de violência doméstica e ameaça contra Evandro. 
Segundo o documento policial, ela afirma que o músico não aceitava o fim da relação, ocorrido em novembro de 2018. 
“Declara [Fernanda] que o autor [seu ex-companheiro] é violento e que diante da situação está se sentindo muito intimidada”, diz trecho do relato feito à polícia então.
Após a separação, ele se mudou para o País de Gales, segundo seu perfil no Facebook. Ela foi morar na zona oeste da cidade, a poucos quilômetros da universidade. 
Cerca de um mês atrás, Fernanda teve o que foi descrito como um surto numa visita à casa da mãe. Às 7h, balançava a filha no colo na varanda do sobrado e gritava “Jesus!” e frases desconexas.
Zina viu a mulher, alterada e vermelha, não atender aos pedidos da família para largar a criança. 
Segundo a vizinha, depois desse episódio, além do tratamento psicológico que já fazia, Fernanda ficou internada por alguns dias.
Na quarta-feira (22), esteve de novo no bairro. Vestia um blusão do avesso e andava de um lado para o outro sem parar. Perguntou para a vizinha, que é educadora, o que fazer com a filha, que não estaria se adaptando à nova escolinha. 
“Como ela teve coragem de jogar a menina e se jogar?”, se pergunta Zina, ainda em choque com a notícia.
O pai de Fernanda morreu há cerca de dez anos, vítima de câncer. Era alcoólatra e por vezes, sempre segundo a vizinha, surtava em casa. 
“Ela é uma ótima mãe. Isso foi problema de cabeça. Ninguém podia imaginar”, diz a educadora sobre Fernanda, que foi indiciada por incêndio e homicídio tentado —o delegado responsável considerou que o crime só não foi consumado por vontades alheias à da autora; no caso, a coincidente passagem do carro, que amorteceu a queda.