sábado, 10 de outubro de 2015

A tempestade adiada - CELSO MING


O ESTADÃO - 10/10

O adiamento do início do processo de alta dos juros nos EUA é fato positivo para o Brasil, mas há uma outra tempestade, exclusivamente nossa, por aqui

O Brasil trocou de tempestade, mas as consequências são mais ou menos as mesmas. Pior, duas tempestades perfeitas podem cruzar o território e aí é possível que falte cinto de segurança.

Há alguns meses, certos analistas econômicos pesos pesados advertiam que era iminente o início do processo de alta dos juros nos Estados Unidos. Seria um movimento que pegaria a economia brasileira no contrapé, o dólar se valorizaria em todo o mundo, seria inevitável uma fuga de capitais do País e os juros para a rolagem da dívida estrangeira também subiriam. Além disso, a alta do dólar puxaria para baixo os preços das commodities, produtos que alcançam quase 50% das exportações brasileiras.


Evolução do despejo da moeda americana no mercado


Isto posto, de todo mundo – e não só os do Brasil – os olhares voltavam-se para o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) à cata de sinais que pudessem apontar quando afinal começaria a retirada de dólares da economia e, com ela, a alta dos juros.

Para quem chegou agora, esses dólares a serem drenados do mercado fazem parte de um descomunal estoque de US$ 3,5 trilhões que o Fed despejou a partir de 2008, por meio da compra de títulos, para enfrentar a escassez de moeda produzida pela crise financeira. O despejo foi suspenso em outubro de 2014 e, de lá para cá, o Fed procura o momento certo para iniciar o enxugamento.

A Ata da última reunião do Fed, divulgada quinta-feira, avisa que a autoridade monetária dos Estados Unidos só está à espera de um aumento da inflação, que persiste excepcionalmente baixa, em torno do 0,5% ao ano. Explicando melhor: o Fed opera o volume de moeda na economia procurando conjugar dois objetivos: baixo nível de desemprego e inflação em torno dos 2% ao ano. O desemprego caiu de acima de 7,0% para 5,1% (dado de agosto), mas a inflação segue teimosamente perto do zero por cento. Retirar moeda da economia tenderia a rebaixar ainda mais a inflação, o que poderia resvalar para a deflação, que ninguém quer, porque leva o consumidor a adiar as compras, aumenta o valor das dívidas e tende a reduzir a arrecadação.

É verdade que o principal fator que derrubou a inflação nos Estados Unidos e nos demais países avançados foi o mergulho dos preços do petróleo. Daí não se espera mais pressões baixistas, mas alguma coisa nova parece acentuar a tendência ao achatamento dos preços. Pode ser, por exemplo, o uso ainda mais intensivo de Tecnologia de Informação ou a redução generalizada dos estoques.


Se a justificativa do Fed tem toda essa importância, então pode-se trabalhar com a hipótese de que a operação de enxugamento de dólares não acontecerá neste resto de ano e pode não acontecer antes de meados de 2016 – a depender das surpresas e dos imponderáveis que sobrevierem na economia mundial. Ainda assim, não basta saber quando o processo será iniciado. É preciso, também, saber qual será sua intensidade.

O sucessivo adiamento do início dessa tempestade é fato positivo para o Brasil. Mas a outra tempestade, a exclusivamente nossa, continua aí, castigando a economia e a população. Se esta não for debelada logo, o risco é o de que tenhamos de lidar com as duas juntas.


CONFIRA:


Evolução da Safra, em milhões de toneladas

Aí está a evolução das safras agrícolas nos sete últimos anos.


Mais em menos área

As safras serão recordes não só em volume de produção, mas também em produtividade por área de plantio. Nas contas divulgadas nesta sexta-feira pelo IBGE, a produção crescerá 8,8% numa área plantada de 57,7 milhões de hectares, apenas 2,0% maior do que a de 2014. Também nesta sexta, a Conab divulgou a sua primeira projeção para a safra de 2016. O volume total deve variar de 210,3 milhões a 213,5 milhões de toneladas, um aumento de até 1,7% sobre a safra estimada para 2015.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Secretário de Saneamento apresenta Probiogás como alternativa eficiente na produção de energia





Em congresso para discutir as alterações climáticas e a gestão do saneamento ambiental, o secretário Nacional de Saneamento Ambiental, do Ministério das Cidades, Paulo Ferreira, apresentou o projeto Probiogás e defendeu o uso do biogás para produzir energia elétrica e calor nas Estações de Tratamento de Efluentes (ETEs).

“Em tempos de discussão sobre tarifas de energia elétrica, crise hídrica e energias renováveis, a eficiência energética na prestação dos serviços públicos é um dos focos de debate. Nos serviços públicos de saneamento, por exemplo, a energia elétrica corresponde ao segundo maior item de custos, perdendo apenas para os custos de pessoal. Além de otimizar o consumo de eletricidade, visando maior eficiência energética nos processos de tratamento, uma opção interessante para as ETEs é a autoprodução de energia”, explica Ferreira.
O secretário de Saneamento informou durante sua palestra que no Brasil, a maioria das ETEs queima apenas o biogás antes de lançá-lo para a atmosfera, desperdiçando enorme potencial energético. “O aproveitamento do biogás, fonte de energia limpa e renovável, possibilitaria a geração descentralizada de energia e está em consonância com os conceitos de desenvolvimento sustentável e de eficiência energética no setor”, acrescentou.
Em painel com o tema “Biogás: uma alternativa para tornar ETEs mais eficientes econômica e energeticamente”, o secretário relatou que, desde 2013, o Ministério das Cidades, por meio da Secretaria de Saneamento Ambiental tem conduzido o projeto de cooperação técnica denominado Projeto Brasil-Alemanha de Fomento ao Aproveitamento Energético de Biogás no Brasil – Probiogás, em parceria com a Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ).
“Na Alemanha, por exemplo, mais de 800 ETEs usam o biogás para produzir energia elétrica e calor, gerando 900 GWh/a elétrico e 1.800 GWh/a térmico. Isto representa quase um quarto do consumo total elétrico das ETEs sendo suprido por autoprodução. A principal justificativa para a realização do Probiogás é a expectativa de transferência do conhecimento e da experiência alemã sobre o aproveitamento do biogás”.
Paulo Ferreira esclareceu ainda que o Probiogás visa contribuir para a inserção e visibilidade do biogás na matriz energética brasileira e tem como objetivo imediato fomentar o seu aproveitamento a partir de efluentes e resíduos do setor de saneamento e também agropecuário. As ações do projeto incluem elaboração de estudos, guias e manuais técnicos, atividades de capacitação de profissionais que atuam no setor, promoção de encontros e discussões entre atores relevantes, realização de visitas técnicas em plantas de biogás e o fomento à elaboração de normativos e legislação específica, dentre outras iniciativas.

No Congresso foi lançado, no estande do Probiogás, o Guia Técnico de Aproveitamento de Biogás em ETEs, com objetivo de fornecer recomendações para a concepção e o projeto de instalações de biogás em ETEs, visando sanar uma lacuna de orientação técnica no Brasil. A publicação foi elaborada por um grupo de trabalho formado por especialistas (acadêmicos, consultores e operadores), a partir da discussão sobre as recomendações contidas em normas alemãs selecionadas.

O secretário nacional finalizou dizendo que o Probiogás promove a inserção do aproveitamento energético do biogás na pauta dos governos e dos prestadores de serviços de saneamento. “Este projeto tem a ambição de fazer com que essa fonte renovável de energia seja utilizada em toda a sua potencialidade no país, contribuindo também para uma maior diversificação da matriz energética nacional”, finalizou.

O 28º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental (CBESA) foi realizado entre os dias 4 e 8 de outubro no Rio Centro, Rio de Janeiro. O evento reuniu especialistas, acadêmicos, gestores de companhias de saneamento, profissionais e estudantes do saneamento e do meio ambiente de todo o país e convidados internacionais que debateram, entre outros temas, a crise hídrica no Brasil e no mundo, as alterações climáticas e a gestão do saneamento ambiental. Entre os palestrantes estiveram presentes Judith Sykes, especialista em estratégia sustentável para a gestão de água nas Olimpíadas de Londres 2012, Léo Heller, relator da ONU para o Saneamento e Benedito Braga, presidente do Conselho Mundial da Água e secretário de Saneamento do Estado de São Paulo.


Probiogás - O emprego do biogás como fonte de energia contribui para a autossustentabilidade dos sistemas de tratamento. Em termos de ganhos econômicos, tem-se a geração de energia elétrica para consumo próprio nas ETEs, bem como a geração de energia térmica para higienização do lodo gerado no tratamento de efluentes, incidindo diretamente na economia de recursos financeiros. Dentro do cenário nacional, quanto à eficiência energética no tratamento de esgoto, as ETEs podem aproveitar, de forma mais efetiva, subprodutos como o gás metano, que pode ser utilizado na geração de energia elétrica e/ou térmica. As tecnologias com base em fontes renováveis podem ser, portanto, atrativas devido às vantagens ambientais e econômicas a elas inerentes.

Dentre as atividades do Probiogás destaca-se a “Campanha de Medição em Reatores do tipo UASB”, tecnologia amplamente utilizada no tratamento de efluentes. Essa campanha tem por objetivo conhecer o real potencial de produção de biogás nesses reatores, visando disponibilizar subsídios técnicos para o cálculo de viabilidade econômica das plantas. Esta atividade envolve a Universidade Federal de Minas Gerais e um grupo de consultores técnicos, que apoiam os prestadores de serviços de saneamento na instalação de equipamentos de medição e telemetria, acompanham a produção dos dados e realizam as análises. Participam dessa iniciativa as seguintes estações de tratamento: ETE Sapucaí Mirim (Copasa); ETE Guaxinim (Sanesul); ETE Norte e ETE Padilha Sul (Sanepar); ETE Paranoá (CAESB); ETE Várzea Paulista (Sabesp); ETE Itabira (SAAE Itabira); ETE Piçarrão (Sanasa); ETE Rio Preto (Semae São José do Rio Preto); ETE Toque Toque (Águas de Niterói).
Conheça mais sobre o PROBIOGÁS em www.cidades.gov.br/probiogas

Twitter: @MinCidades


Assessoria de Comunicação
Ministério das Cidades


  

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Hora e vez da energia solar, Celso Ming


O Brasil é um dos países mais ensolarados do mundo; no entanto, esse tipo de energia ainda é fortemente subaproveitado por aqui

Celso Ming
04 Outubro 2015 | 03h 00
Estão no fim os tempos em que os telhados serviam apenas para cobrir construções. Tende a não ser mais assim. É por meio de seu uso como suporte que hoje 918 estabelecimentos do Brasil têm gerado a própria energia - a partir do sol.
Esse número parece irrelevante quando comparado aos 78 milhões de unidades consumidoras ligadas à rede de energia elétrica no País, mas indica importante ampliação do uso da energia solar fotovoltaica. Há um ano eram apenas 292 mini e microgeradores (veja o gráfico).
O Brasil é um dos países mais ensolarados do mundo. No entanto, esse tipo de energia ainda é fortemente subaproveitado por aqui. Corresponde a apenas 0,01% da matriz energética. Mas essa fatia da pizza tem tudo para alcançar os 3% em 2024, se for confirmado o que prevê o Plano Decenal de Energia Elétrica, aberto a consulta pública até a próxima quarta-feira.
Um dos fatores que podem proporcionar esse salto é a perspectiva de realização de leilões por meio dos quais o governo federal comprará exclusivamente energia elétrica de fonte solar. Até outubro de 2014, esse segmento disputava preços (mais baixos) com outras fontes renováveis como a eólica e pequenas centrais hidrelétricas, e, por operar a custos mais altos, não conseguia ser competitivo. 
De lá para cá, no entanto, já foram realizados dois leilões exclusivos, pelos quais foram contratados 61 projetos com a capacidade instalada de 2GW, o equivalente ao abastecimento de energia elétrica de 700 mil residências médias brasileiras. “Com a sinalização de que o governo finalmente adotou o leilão por fonte, as empresas do setor, antes desinteressadas, virão para o Brasil, porque contam com demanda e contratos de longo prazo”, observa o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ, Nivalde de Castro.
Hoje, um dos maiores obstáculos ao avanço da energia solar fotovoltaica é justamente o preço. A maior parte dos equipamentos é importada e está sujeita aos solavancos do câmbio. No entanto, como aponta Castro, os preços dos equipamentos vêm caindo no mercado global, graças ao aumento de escala de produção e, portanto, de redução de custos. O fator novo é a China, que apostou no modelo de energia solar fotovoltaica e, passou a funcionar como “motor de barateamento” dessa energia.
Mas a energia solar não pode depender apenas de grandes volumes gerados por usinas. Ao contrário, deve provir principalmente das mini e microgerações, que são instalações nos domicílios ou nas empresas, cujo produto não passará por leilões de compra ou de venda.
É o que observou quinta-feira o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga. O governo prepara o lançamento de um programa que incentivará o segmento.
Independentemente do que virá por aí, a Resolução 482 da Aneel desde 2012 obriga as distribuidoras a integrar à sua rede a energia produzida pelas residências e empresas dotadas de painéis fotovoltaicos. Relógios especiais contabilizam a energia gerada (e repassada à rede) e a consumida (fornecida pela distribuidora) para efeito de cálculo da conta de luz dessas unidades.
Outra aberração que começa a ser corrigida é a cobrança de ICMS tanto no consumo como na geração dessa energia caseira. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), sete Estados já adotaram a isenção: Minas, São Paulo, Goiás, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Tocantins. Espera-se que outros adiram à norma do Confaz, de abril, que permite a isenção do ICMS sobre a energia gerada.
Para o coordenador do Grupo de Pesquisa Estratégica em Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina, Ricardo Ruther, a isenção ajuda a montar a equação econômica, mas ainda não resolve a questão financeira. “É necessário mecanismo de financiamento para esses consumidores, como o da compra de um carro”, defende. De acordo com Ruther, uma casa onde vive uma família de quatro pessoas em Belo Horizonte, com um consumo médio de 300 kw/h por mês, paga quase R$ 300 de conta de luz. 
O investimento em equipamentos de energia solar ficaria em torno de R$ 20 mil. Ele calcula que, apenas com a redução na conta de luz, o custo pago na instalação deve ser amortizado em até sete anos, prazo que tende a cair com o aumento das tarifas. Que tal considerar essa opção na próxima reunião do seu condomínio? /COM LAURA MAIA