domingo, 14 de abril de 2013

Arenas para Copa do Mundo de 2014 que quase ninguém quer administrar



Estádios de Manaus, Cuiabá, Natal e Brasília terão dificuldades para encontrar gestores

14 de abril de 2013 | 8h 15
Almir Leite - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Quando estiver em plena operação, o Maracanã vai ter uma receita de R$ 154 milhões por ano. A estimativa, considerada conservadora por analistas desse novo mercado, foi feita pelo governo do Estado do Rio de Janeiro e atraiu seis empresas que na quinta-feira, divididas em dois consórcios, apresentaram propostas para gerir a arena por 35 anos, em tumultuado processo de licitação. Mas há arenas que estão sendo construídas para a Copa do Mundo de 2014 que poderão ter dificuldades para encontrar quem as administre.
A possibilidade de estádios como a Arena Amazônia, em Manaus, a Arena Pantanal, em Cuiabá, e o Mané Garrincha, em Brasília, terem dificuldade para encontrar gestores interessados é levantada por analistas do mercado de administração de arenas. "Para atrair interesse uma arena precisa apresentar perspectivas de uso constante e de atividades sólidas financeiramente. Senão fica complicado’’, diz um deles, o consultor de gestão esportiva Amir Somoggi.
Ele não cita explicitamente nenhuma arena, mas vários estudos foram feitos nos últimos anos indicando que os estádios de Manaus, Cuiabá, Brasília e Natal (a Arena das Dunas) se transformarão em elefantes brancos após a Copa. Essa perspectiva atrapalha os negócios. E a expressão tem irritado o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que a rebate com veemência.
"Eu não partilho da tese de que parte dos estádios se tornará elefantes brancos’’, disse Aldo durante a semana. "O Brasil passa por um processo de modernização do nosso futebol. Manaus e Cuiabá, que estão sendo olhadas com maior desconfiança, talvez pelo desconhecimento e pela distância, também justificam a construção dessas arenas’’, acrescentou.
Os "ameaçados’’, porém, se mostram menos indignados do que o ministro e não concordam com quem entende que será difícil encontrar administradores para suas arenas. "Ninguém faz investimento sem estudo econômico, é isso o que vale’’, diz Maurício Guimarães, o secretário extraordinário da Copa no Mato Grosso.
Ele garante já ter sido procurado por várias empresas interessadas na gestão da Arena Pantanal. "Se tem interessados, é porque tem possibilidade de retorno’’, defende o secretário.
Mas admite que ainda não há definição sobre o modelo a ser utilizado para a administração do estádio cuiabano e nem como será feita a escolha. "Estamos estudando isso, se faremos concessão, se a administração será por meio de PPP (parceria público-privada) ou se criaremos uma empresa para esse fim’’, afirmou Guimarães. "O que posso garantir é que a arena será entregue em outubro e vai estar com administrador.’’
A Arena Amazônia também não tem definição sobre quem será o administrador. "Vamos contratar uma empresa de consultoria para avaliar o melhor formato de concessão’’, informou Miguel Capobiango, responsável pela Secopa do Amazonas.
Assim como seu colega do Mato Grosso, ele garante já ter interessados. "Muitas empresas dessa área já fizeram estudos do mercado local’’, assegura Miguel. O secretário afirma que as arenas da Copa das Confederações que já terão seus administradores definidos por ocasião da competição servirão como parâmetro para o modelo de negócios a ser adotado pelos amazonenses.
Os responsáveis pelas arenas de Cuiabá e Manaus admitem que o futebol local não atrai público, mas acreditam que outras eventos, como shows e atividades culturais e corporativas, tornarão os empreendimentos autossustentáveis.
O consultor Amir Somoggi diz que pode não ser bem assim. "Uma arena não pode viver de fontes alternativas. O caso do Arsenal inglês é um exemplo disso. A arena deles (Emirates Stadium) tem 80% de suas receitas anuais garantidas por 28 jogos do Arsenal, cada um com 60 mil pessoas presentes.’’
DEFINIÇÃO 
Também "candidata’’ a se tornar elefante branco, de acordo com vários estudos, a Arena das Dunas será administrada pelo governo do Rio Grande do Norte e pela Construtora OAS. O governo já divulgou que os lucros, se existirem, serão divididos em partes iguais. Os responsáveis pelo Mané Garrincha, em Brasília, ainda não definiram a quem será dada a concessão da arena.

Vai ficar aí no sofá? ( sobre obesidade)



Ou vai se mexer contra essa situação de emergência instalada no País, a obesidade de jovens e crianças?, provoca especialista

14 de abril de 2013 | 2h 08
Elisabete Recine - O Estado de S.Paulo
A rápida e avassaladora escalada do excesso de peso e da obesidade e a deterioração da qualidade da alimentação da população brasileira não deixam dúvida: já temos uma situação de emergência instalada. Apenas para recordar, resultados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE de 2008/2009 mostraram que 12% das nossas meninas e 17% dos nossos meninos entre 5 e 9 anos são obesos. Se considerarmos o excesso de peso, 32% das meninas e 35% dos meninos estão nessa situação. Entre adolescentes, 6% das garotas estão obesas e 22% com excesso de peso. Dos garotos, 4% obesos e 19% com excesso de peso. E, se considerarmos toda a população, 75 milhões de pessoas estão com excesso de peso, e dessas quase 6 milhões são crianças entre 5 e 9 anos.
A situação pode ser entendida pelos padrões alimentares atuais. A mesma pesquisa do IBGE mostrou que, apesar de ainda encontrarmos entre a população o consumo da chamada "tradicional dieta brasileira" (a refeição que tem como base o bom e velho arroz com feijão), já é grande o consumo de alimentos industrializados com baixo teor de nutrientes e alto teor calórico. Se os resultados recentemente divulgados sobre as quantidades de consumo de açúcar entre jovens preocuparam, o que dizer dos resultados da POF que comprovaram que essa mesma situação de consumo excessivo está presente em 61% da população? O problema não é "apenas" o alto consumo de açúcar entre os jovens. Entram na conta outros produtos nada saudáveis, como biscoitos recheados, linguiça, salsicha, mortadela, sanduíches e salgados e também baixo consumo de feijão, saladas e verduras.
Comemos mal e em excesso. O resultado é lógico: engordamos. Pior: aumentamos - e muito - a probabilidade de acrescentarmos a essa doença básica, a obesidade, outras tantas como diabete, hipertensão, problemas cardíacos. Não precisamos mais envelhecer para que elas se apresentem. Jovens e crianças já vivem o cotidiano de quem precisa cuidar de uma doença crônica, que se desenvolve silenciosamente e compromete o corpo e a qualidade de vida.
Na outra ponta desse cenário, um estudo recente calculou que, em 2011, R$ 487,9 milhões foram gastos pelo Sistema Único de Saúde em ações de tratamento da obesidade e no cuidado de 26 doenças relacionadas a ela. Então, neste momento é natural a pergunta: se a obesidade é um problema tão grave tanto para os indivíduos como para a sociedade, se suas consequências comprometem a qualidade de vida e a saúde, por que assistimos pacientemente ao agravamento da situação? Nada pode ser feito?
A obesidade é uma doença com múltiplos determinantes. Parte deles está na esfera privada, mas, na verdade, o que vivemos atualmente é causado basicamente pela sua dimensão social. Ao longo dos anos ocorreram mudanças estruturais na maneira como a sociedade e as famílias providenciam sua alimentação. Destaco aqui o processo que levou o alimento a deixar de ser um bem para ser uma mercadoria, negociada em mercados futuros e com seu preço controlado em negociações especulativas, nas quais o menos importante é seu propósito original: alimentar pessoas, garantir e promover a vida. O setor de alimentos é concorrido, dezenas de produtos são lançados anualmente, movimentando o mercado publicitário e a mídia, moldando gostos e necessidades.
Enfrentar, desacelerar, reverter os números do aumento de peso não é responsabilidade de um único setor ou sujeito social. Família e escola são importantes para a formação, valorização e prática de hábitos saudáveis. No entanto, sem mudanças estruturais esse quadro pouco será alterado. As mudanças que realmente importam dependem de medidas públicas que intervenham nas causas básicas do problema - entre elas, dificuldades de acesso tanto físico como financeiro a alimentos saudáveis. Esse problema é tão grave que foi criada a expressão "desertos alimentares", que são regiões, mesmo nas grandes cidades, onde o acesso a alimentos frescos, saudáveis e baratos é muito difícil.
A alimentação da criança pequena precisa ser protegida, primeiro incentivando o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade, depois dando informação e apoio às mães e cuidadores, para que seja oferecida a maior variedade possível de alimentos saudáveis. Ambientes públicos como escolas não podem promover e comercializar alimentos não saudáveis. As estratégias de marketing de alimentos, principalmente aquelas dirigidas às crianças, precisam ser reguladas, assim como a qualidade nutricional dos alimentos. Além disso, é nosso direito conhecer a composição do que compramos para comer. Os rótulos dos alimentos devem ser claros e diretos, possibilitando a comparação entre produtos para uma escolha melhor. Não é o que acontece. Muitas vezes as etiquetas mascaram o que realmente está sendo consumido e, pior, iludem sobre uma qualidade imaginária, impossível. Alguém que compra uma caixinha de "suco natural" imaginaria que está comprando colheres e colheres de açúcar?
Nosso direito. Nenhuma dessas medidas isoladamente é suficiente. O problema requer ações de diferentes naturezas e setores que sejam implantadas de maneira articulada. Aqui poderíamos ter uma boa notícia - ou quase. Em outubro de 2012, a Câmara Interministerial, que congrega 19 ministérios, apresentou ao Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, que assessora a Presidência da República, a proposta de um Plano Intersetorial de Prevenção e Controle da Obesidade. Ele contempla seis eixos de ação, que deverão incidir no aumento de produção e oferta de alimentos saudáveis, nas estratégias de informação e educação, na promoção de modos de vidas saudáveis nas escolas e até na assistência social, regulação e controle da qualidade e inocuidade dos alimentos e atenção integral à saúde do indivíduo com excesso de peso/obesidade.
Era uma proposta para ser aprovada pelo conjunto de ministérios até o final de 2012. Até o momento isso não aconteceu. Enfrentar a obesidade requer medidas capazes de tirar a todos nós, cidadãos, setores da sociedade e governo, de nossas áreas de conforto. Grandes interesses precisarão ser enfrentados e lógicas de lucro precisarão ser alteradas em nome da qualidade de vida que queremos e temos o direito de ter. Vamos ficar sentados na frente da TV, com uma lata de refrigerante na mão, assistindo ao retrato do que já está dentro de nossas casas, ou vamos nos mobilizar contra isso?
ELISABETTA RECINE É NUTRICIONISTA, DOCENTE DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, COORDENADORA DO OBSERVATÓRIO DE POLÍTICAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR, NUTRIÇÃO

Simples, fácil e comum - MARTHA MEDEIROS



ZERO HORA - 14/04

Tenho mergulhado numa questão que parece prosaica, mas é de importância vital para melhor conduzirmos os dias: por que as pessoas rejeitam aquilo que é simples, fácil e comum?

O mundo evolui através de conexões reais: relacionamentos amorosos, relacionamentos profissionais e relacionamentos familiares – basicamente. É através deles que nos enriquecemos, que nossos sonhos são atingidos e que o viver bem é alcançado. No entanto, como nos atrapalhamos com essas relações. Tornamos tudo mais difícil do que o necessário. Estabelecemos um modo de viver que privilegia o complicado em detrimento do que é simples. Talvez porque o simples nos pareça frívolo. Quem disse?

Não temos controle sobre o que pode dar errado, e muita coisa dá: a reação negativa diante dos nossos esforços, o cancelamento de projetos, o desamor, as inundações, as doenças, a falta de dinheiro, as limitações da velhice, o que mais? Sempre há mais.

Então, justamente por essa longa lista de adversidades que podem ocorrer, torna-se obrigatório facilitar o que depende de nós. É uma ilusão achar que pareceremos sábios e sedutores se nossa vida for um nó cego. Fala-se muito em inteligência emocional, mas poucos discutem o seu oposto: a burrice emocional, que faz com que tantos façam escolhas estapafúrdias a fim de que pelo menos sua estranheza seja reconhecida.

O simples, o fácil e o comum. Você sabe do que se trata, mas não custa lembrar.

Ser objetivo e dizer a verdade, em vez de fazer misteriozinhos que só travam a comunicação. Investir no básico (a casa, a alimentação, o trabalho, o estudo) em vez de torrar as economias em extravagâncias que não sedimentam nada. Tratar bem as pessoas, dando-lhes crédito, em vez de brigar à toa. Saber pedir desculpas, esclarecer mal-entendidos e limpar o caminho para o convívio, ao invés de morrer abraçado ao próprio orgulho. Não gastar seu tempo com causas perdidas.

Unir-se a pessoas do bem. Informar-se previamente sobre o que o aguarda, seja um novo projeto, uma viagem, um concurso público, uma entrevista - preparar-se não tira o gostinho da aventura, só potencializa sua realização.

Se você sabe que não vai mudar de ideia, diga logo sim ou não, para que enrolar? Cuide do seu amor. Não dê corda para quem você não deseja por perto. Procure ajuda quando precisar. Não chegue atrasado. Não se envergonhe de gostar do que todos gostam: optar por caminhos espinhentos às vezes serve apenas para forçar uma vitimização. O mundo já é cruel o suficiente para ainda procurarmos encrenca e chatice por conta própria. Há outras maneiras de aparecer.

Temos escolha. De todos os tipos. As boas escolhas são divulgadas. As más escolhas são mais secretas e, por isso, confundidas com autenticidade, fica a impressão de que dificultar a própria vida fará com que o cidadão mereça uma medalha de honra ao mérito ao final da jornada. Quem acredita que o desgaste honra a existência, depois não pode reclamar por ter virado o super-herói de um gibi que ninguém lê.