segunda-feira, 16 de abril de 2012

Papai sabe tudo


Lúcia Guimarães - O Estado de S.Paulo
Querida, cheguei!
Robert Young, quer dizer, Papai, bate à porta do reluzente Mercury Monterey e atravessa o portão da cerca de estacas brancas. Jane Wyatt, quer dizer, Mamãe, sorri em seu uniforme caseiro, saia ampla escondida por um avental.
Na próxima meia hora, a claque de risadas vai interromper previsivelmente as one liners, as frases curtas de sitcoms, entre Papai, Mamãe e os filhos Betty, James e Kathy.
A colunista entrou em regressão profunda, há de suspeitar o leitor.
Já respondo: assista ao mais recente bate-boca político americano pela TV e seja tomado por uma estranha sensação de que escorregou, como a Alice de Lewis Carroll, numa toca de coelho e caiu de volta à década de 50. Não os anos 50 reais, assombrados pela aniquilação nuclear, a década que gestou a revolução sexual, os direitos civis e a era digital, mas a utopia do idílio doméstico apresentada por Hollywood.
Na semana passada, Hilary Rosen, estrategista política ligada ao Partido Democrata - mas não à campanha de reeleição de Barack Obama -, fez o seguinte comentário sobre a mulher de Mitt Romney, durante um debate ao vivo na CNN: "Ann Romney nunca trabalhou um dia na sua vida".
A reação partiu de Barack e Michelle aos pit bulls falantes empregados por Rupert Murdoch e foi comparável ao peso de cinco agentes do serviço secreto pulando em cima de um homem armado que se aproximasse do presidente num comício.
Em menos de 24 horas, Rosen se desculpou no novo templo da genuflexão politicamente correta, o Twitter: Peço muitas desculpas para as mães que trabalham em casa, a Senhora Romney e o Presidente. Tradução: reconheço que criar filhos e cuidar da casa é um trabalho, não quis insultar Ann Romney e, mais do que tudo, não quero erodir a enorme vantagem de Barack Obama com o eleitorado feminino.
Ann Romney, que criou cinco filhos e exerceu intermitentes atividades não remuneradas como voluntária de ONGs, foi à Fox faturar a gafe e ninguém questionou sua reação: "Minha escolha de carreira foi ser mãe". A passividade geral diante dessa declaração, depois de quatro anos da pior recessão desde a década de 30, já é notável. Mas ela veio da mulher de um proeminente membro da Igreja Mórmon que acumulou uma fortuna avaliada em US$ 250 milhões.
Não pude perguntar à minha mãe por que ela nunca se empregou em lugar nenhum, apesar da modesta renda do meu pai, que, mesmo aos 60 anos, chegou a se equilibrar por três empregos. Como minha chegada foi uma surpresa, depois dos 40, ela eventualmente arrastava sua quinta criança não planejada para um orfanato no bairro carioca do Rio Comprido, onde contribuía como voluntária. E, para horror de futuros psicólogos, ainda dizia: é bom você entender desde cedo como vivem os destituídos.
Vi a minha mãe pela última vez quando ela, com 48 anos, partiu na ambulância para um hospital público de onde nunca haveria de sair. Tenho ainda a memória clara de sua inquietação com as horas consumidas por preocupações mundanas, exilada do mundo de satisfação profissional do meu pai. "Ela era muito inteligente", dizia um tio, como se quisesse me tranquilizar sobre um risco para a condição feminina.
A falsa divisão alimentada pela superficialidade do debate político nos Estados Unidos não é entre a mulher que escolhe cuidar dos filhos e a desalmada que passa o dia afagando seu ego no escritório. A divisão não é entre a dureza do trabalho doméstico e o trabalho remunerado. A esmagadora maioria das mulheres, americanas ou brasileiras, não tem a escolha da "carreira de ser mãe", nem como arranjo temporário. Elas se separam de seus filhos bem antes do que gostariam.
Hilary Rosen começou o comentário indelicado, mas longe de ser infame, explicando que Mitt Romney andava pelos comícios dizendo: "Minha mulher me conta que as mulheres estão preocupadas com questões econômicas". Minha mulher me conta?
O refrão da sitcom americana de outrora era Margaret, a Mamãe, ser de fato o repositório de sensatez e sabedoria. Nesta campanha presidencial, Mamãe e Papai moram num set de filmagem, onde opiniões se fazem passar por fatos.

O otimismo da jabuticaba


OSÉ ROBERTO DE TOLEDO - O Estado de S.Paulo
O brasileiro é antes de tudo um otimista. Ele acredita que as coisas vão melhorar, sempre. Se estão ruins, ele aposta na virada. Se já estão boas, ele crê que vão melhorar ainda mais. Essa característica se acentuou nos últimos tempos, fruto da percepção da maioria da população de que andou para frente. O otimismo é, portanto, uma projeção do passado recente. Mas não precisávamos exagerar.
Segundo pesquisa do Gallup, o Brasil é onde há proporcionalmente menos pessoas "sofrendo" no mundo. A sondagem foi feita em 146 países, ao longo de 2011. Juntos, eles representam mais de 95% da população mundial. Computadas as dezenas de milhares de entrevistas, o instituto concluiu que só no Brasil menos de 1% da população se enquadra na categoria "sofrimento".
Para comparar, na média mundial, 13% estão "sofrendo". Em 18 países, pelo menos 1 em 4 habitantes está nessa situação. São aqueles pintados de verde claro no mapa que ilustra este texto. O pior é a Bulgária: 45% da população está "sofrendo".
Se não "sofrem", como estão os brasileiros?
Segundo o Gallup, 59% estão "prosperando", e os demais 41%, "batalhando". O Brasil é o 9º colocado na proporção de "prósperos", empatado com a Áustria. Só perde para Dinamarca (74% "prosperando"), Holanda e Canadá (66% ambos), Israel e Suécia (65%), Austrália e Finlândia (64%) e, por pouco, para a Nova Zelândia (60%).
Segundo o instituto, há proporcionalmente mais brasileiros "prosperando" do que norte-americanos (56%), sul-coreanos (50%), britânicos (50%), franceses (46%), alemães (42%) e japoneses (26%). Todas essas nações aparecem muito à frente do Brasil tanto no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) quanto na renda per capita.
Mesmo em comparação com outros países ditos emergentes o Brasil aparece muito mais bem colocado na pesquisa. Tem 37 pontos porcentuais de "prosperidade" a mais do que a Rússia (22% "prosperando", 58% "batalhando" e 19% "sofrendo), 41 pontos mais do que a China (18%, 70% e 12%, respectivamente) e inacreditáveis 48 pontos a mais do que a Índia (11%, 66% e 24%).
O Brasil é, portanto, um ponto muito fora da curva. O que explica esse resultado literalmente excepcional? O otimismo.
Para compreender o porquê, só entendendo com funciona a metodologia do índice de bem-estar. Um dos maiores institutos do mundo, o Gallup desenvolveu seu indicador a partir da tradicional escala Cantril de auto-avaliação, e o vem usando há décadas.
Pioneiro no estudo da opinião pública, Hadley Cantril desenvolveu um método que se tornou referência. Ele permite a cada indivíduo estabelecer sua própria escala de valores sem, todavia, abrir mão da capacidade de compará-las. A "escada de Cantril" também elimina o viés provocado pelas diferenças de significado que o mesmo conceito tem para diferentes pessoas, ou que uma expressão tem em diferentes idiomas.
Escala. O grau de "sofrimento" no indicador de bem-estar do Gallup não é fruto de uma pergunta direta do entrevistador, mas de uma combinação de resultados. O entrevistado é convidado a imaginar uma escada de 0 a 10, onde o topo representa a melhor condição de vida possível, e o zero, a pior. Em seguida, o pesquisador pergunta em qual degrau o entrevistado se encontra e em qual ele estará daqui a cinco anos.
A divisão em três grupos ("prosperando", "batalhando" e "sofrendo") é obtida pela combinação das respostas. Para entrar no grupo da "prosperidade", o entrevistado tem que estar hoje no degrau 7 ou acima dele, mas não só. Ele tem também que enxergar um futuro melhor, ou seja, deve projetar estar no mínimo no degrau 8 daqui a cinco anos. Já para cair no grupo "sofrendo", o entrevistado tem que se ver em má situação hoje (degrau 4 ou inferior) e achar que o futuro permanecerá ruim (abaixo do 5º degrau). Quem não se encaixa em nenhuma dessas categorias está "batalhando".
Os 59% de brasileiros classificados pelo Gallup como "prosperando" não estão hoje no topo da escada, nem a um passo de chegar lá. Estão concentrados entre o 7º e o 8º degraus. Porém, quando indagada onde estará daqui a cinco anos, a grande maioria afirma que chegará ao último degrau, ou seja, à melhor condição de vida que podem imaginar.
Mesmo aqueles brasileiros que estão abaixo do 7º degrau acham que chegarão, no futuro próximo, ao topo da escada, ou muito perto disso. Quase ninguém acha que está mal (abaixo do 5º degrau) e vai continuar assim ou piorar. Por isso menos de 1% est "sofrendo". Essa auto-avaliação otimista dos brasileiros é exagerada? Só o futuro dirá. Mas certamente é uma jabuticaba. Só tem aqui.

Eleições devem movimentar R$ 6 bilhões no País. Como aproveitar essas oportunidades


Negócios| 16 de abril de 2012 | 7h 26


Produtoras de vídeo e áudio, agências de publicidade, além de empresas gráficas e prestadores de serviço podem se dar bem
CRIS OLIVETTI, OPORTUNIDADES

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Segundo Fernando Pinheiro, demanda cresce 1000% nesta época
 Produtoras de vídeo e áudio, agências de publicidade, de marketing eleitoral e de divulgação, empresas de eventos, gráficas e prestadoras de serviços de internet já se preparam para abocanhar uma parte dos R$ 6 bilhões que os partidos e candidatos devem gastar neste ano durante a campanha eleitoral municipal no País. No total, o pleito deve movimentar cerca de R$ 13 bilhões, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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“O Brasil tem mais de cinco mil municípios. Serão eleitos 5.565 prefeitos e 57.748 vereadores, o que equivale a quase meio milhão de candidatos. São números fantásticos”, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), Fabio Arruda Mortara. Em sua opinião, as eleições locais são as mais importantes para o segmento. “Nossa estimativa é de que a indústria gráfica, que movimenta R$ 30 bilhões, tenha aumento de 15% nas demandas.” 

Segundo Mortara, o acréscimo só não é maior porque nos grandes centros os impressos têm menos alcance do que outras mídias. “No interior, esse material tem importância muito maior do que na metrópole.” Para evitar problemas na hora do recebimento, Mortara recomenda:. “É bom avaliar o cadastro do cliente e vincular a entrega do material com o pagamento.”

Atuando no mercado de marketing político desde 2004, o diretor da Produzvideo.com e Audiofive.com, Fernando Pinheiro, afirma que nesse período as demandas crescem 1000%. 
“Em ano eleitoral o trabalho aumenta absurdamente e nos tornamos uma grande empresa. Contratamos cerca de 200 profissionais terceirizados e sublocamos outras estruturas, onde montamos mais estúdios para darmos conta do trabalho.” 

Pinheiro diz que fora do período eleitoral suas empresas operam com 20 colaboradores. O empresário conta que registrou o domínio campanhaeleitoral2012.com.br e que o número de acessos ao site de mesmo nome tem em torno de 700 acessos diários.

De olho nos bilhões de reais que serão desembolsados pelos políticos, Pinheiro inovou criando estúdios móveis. “Montamos duas estruturas móveis que percorrerão o País produzindo material de campanha de alta qualidade para candidatos que não têm acesso às produtoras.” Essas unidades têm toda estrutura de produção com estúdio para gravar jingle e tirar fotos. 
Segundo Pinheiro, o pacote básico de serviços inclui foto oficial de campanha, jingle, vídeo que pode ser veiculado tanto na TV, como na internet, e a criação de um site do candidato. O preço desse pacote pode variar de R$ 15 mil a R$ 150 mil.

Para o empresário, a campanha deste ano será impar. “Ela será histórica, porque em 2008 o Facebook não tinha a penetração que tem hoje e mal usávamos o YouTube. Acredito que muitos candidatos serão eleitos com a força da publicidade na internet.” 

Apostando na influência da rede nestas eleições, a Área Comunicação fechou parceria com a Interagentes e com a Publisher Brasil para oferecer aos candidatos soluções digitais na internet, com foco nas redes sociais. O diretor de comunicação da empresa, José Antonio do Santos Pereira, afirma que hoje, com um bom trabalho na rede, é possível influenciar até 1/4 do eleitorado. “O que pode ser determinante para uma eleição”, acredita.

O diretor explica que a parceria é uma estratégia para potencializar o trabalho das três empresas, consideradas de pequeno porte. “A Área irá contribuir com sua expertise no atendimento a clientes públicos, somada à força da Publisher na produção de conteúdo e à experiência da Interagentes no desenvolvimento de estratégias de rede.”

Segundo Pereira, uma campanha digital é muito mais do que produzir um site bonito e criar um perfil social. “É preciso falar a linguagem das redes e transmitir conteúdo adequado ao público certo. Vamos monitorar a audiência, identificar tendências e propor ações que viabilizem as propostas dos candidatos, criando condições reais de fidelização do eleitorado.”
A proposta da Área é criar um palanque digital, onde será possível mobilizar a militância, realizar rápida transmissão de conteúdo e manter maior interação entre o candidato e o eleitorado.