sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Energia Limpa - Ometto faz aposta errada e Raízen tem queda histórica. FSP

 A posição de Donald Trump em fortalecer a cadeia do petróleo nos EUA e as barreiras erguidas pela União Europeia ao etanol de segunda geração fizeram o bilionário Rubens Ometto amargar uma queda de 7,65% nas ações da Raízen. Os papéis bateram R$ 1,69 nesta quarta (5), a marca mais baixa da história.

O revés foi percebido com mais intensidade nesta semana pelo mercado, que já tem pressionado os papéis da companhia há um tempo. De janeiro até esta quarta, a queda acumulada é de 21,76% e, em 12 meses, ela chega a 54,93%.

Imagem mostra máquinas movimentando bagaço de cana em unidade da Raízen produtora de etanol de segunda geração em Guariba (SP)
Máquinas movimentam bagaço de cana em unidade da Raízen produtora de etanol de segunda geração em Guariba (SP) - Marcelo Toledo/Folhapress

No momento em que tenta reduzir sua dívida, pressionada pela alta dos juros, Ometto enfrenta dois reveses em seu ousado plano de construir, até 2030, 20 usinas de etanol de cana de segunda geração, conhecido como celulósico (porque é feito com bagaço).

O modelo escolhido usa biomassa para abastecer a usina. Nos EUA, que prefere o etanol de milho, essa produção ocorre tendo o gás natural como insumo da usina. Esse movimento, segundo analistas, ganhou força com o anúncio feito por Donald Trump de que haverá incentivos para combustíveis fósseis —petróleo e gás natural.

Por ter uma pegada de carbono menor, a Raízen acreditou que conseguiria um bônus na venda de seu etanol para os EUA e Europa. Ou seja: apostando na transição energética, o mercado pagaria mais por um combustível mais limpo.

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No entanto, isso não ocorreu nem na Europa (mais engajada na transição) e os investidores começaram a perceber que o investimento realizado pelo grupo de Ometto dificilmente conseguirá a amortização planejada com a rentabilidade obtida sem o prêmio.

Diante desse cenário, a Raízen demitiu boa parte de sua equipe de sustentabilidade, em um movimento que começou no ano passado, logo após a saída do então CEO da companhia, Ricardo Mussa, que tinha um foco maior nessa pauta. Essa divisão é responsável pelos biocombustíveis e pela transição energética.

Consultada, a companhia não quis comentar.

Endividamento

Na última quinta (30), a empresa informou a investidores que a agência de classificação de risco S&P Global Ratings revisou a perspectiva da empresa de "estável" para "negativa".

Segundo a agência, tanto a subsidiária Raízen quanto a Cosan fizeram investimentos significativos nos últimos anos e, agora, a alta dos juros pressionam os balanços.

Como resultado, a alavancagem (relação entre dívida e resultado) das empresas subiu excessivamente.

venda das ações da Vale ajudou com R$ 9 bilhões, mas o que está em jogo no momento são as receitas futuras para investimentos realizados nas usinas de etanol de segunda geração (chamado de celulósico).

No começo deste ano, o BNDES aprovou um financiamento de R$ 1 bilhão para a Raízen construir uma unidade de etanol de segunda geração no estado de São Paulo, com capacidade instalada de até 82 milhões de litros por ano. O projeto agora tem futuro incerto.

Com Stéfanie Rigamonti

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