O etanol já ajuda a reduzir as emissões dos carros, mas o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer quando se trata de popularizar alternativas ao diesel. A sueca Scania, fabricante global de veículos e motores, e a Gás Verde, do Rio de Janeiro, que produz biogás e biometano a partir principalmente do lixo, firmaram uma parceria que busca contribuir com essa mudança.
Juntas vão oferecer o que qualificam como serviço completo de transporte de baixa emissão –baixíssima, afirmam. Uma redução que pode chegar a 99% em relação ao transporte tradicional, considerando o sistema de produção da Gás Verde, que purifica ao máximo o combustível. As duas empresas investem forte nos negócios ligados à transição energética.
A Gás Verde, do grupo Urca, é a maior produtora de biometano da América Latina. Tem 12 unidades geradoras de biogás, biometano e energia elétrica em seis estados, e está focando no combustível. Vai converter suas térmicas a biogás em plantas de biometano, elevando a produção de 160 m3/dia (metros cúbicos por dia) para 650 mil até 2028.
"Essa parceria é uma virada de chave para empresa, pelo potencial e expansão do uso do biometano, porque a demanda é muito alta entre empresas que buscam reduzir as emissões, e é preciso seguir estruturando a oferta", afirma o CEO da Gás Verde, Marcel Jorand.
Numa comparação seca, o biometano ainda é cerca de 20% mais caro que o diesel. Mas Jorand afirma que o serviço completo tem um custo menor do que o movido a combustível fóssil quando se consideram outros gastos com descarbonização, como a compra de créditos de carbono
A Scania é a montadora dedicada a veículos pesados, como caminhões, que avança mais rápido na busca de descarbonização no mercado brasileiro. Quase 5% da produção são de modelos alternativos ao diesel. Investindo na modernização do transporte de carga a gás desde 2018, conseguiu inúmeros aperfeiçoamentos que deixaram os modelos com desempenho competitivo em relação a veículos a diesel.
Na parceria, por exemplo, é oferecido um modelo com um sistema batizado de "mochilão" –dois cilindros instalados atrás da cabine, que aumentam a autonomia do caminhão em até 650 km . O motor projetado para gás, com alto desempenho, tem força semelhante ao alcançado nas versões a diesel.
A Scania também apresentou em 2023 e está aperfeiçoando o X-Gás, primeiro caminhão do Brasil com autonomia para rodar 900 km com gás, seja GNV (gás natural veicular), biometano ou a mistura deles.
"Globalmente, a Scania trabalha com diesel, biodiesel, veículo elétrico, hidrogênio, gás, biometano, porque acredita que não haverá uma única matriz capaz de suprir mundialmente o transporte a diesel", explica Alex Nucci, diretor de Vendas de Soluções da Scania Operações Comerciais Brasil.
"Quando a gente aterrissa aqui, no Brasil, um país com distâncias continentais, onde um caminhão sai do Rio Grande do Sul e vai até Ceará, rodando 3.000, 5.000 quilômetros, o desafio é maior ainda."
O negócio oferecido pela parceria entre as duas empresas tem uma combinação eclética e meio fora dos padrões brasileiros para o fornecimento de infraestrutura de transporte com combustível renovável.
A Gás Verde não comprou, mas, sim, alugou os caminhões da Scania. Serão cem veículos zero quilômetro ao longo do ano. Os 40 primeiros são entregues em fevereiro. O cliente vai contratar o serviço, mas, se quiser, pode adquirir os veículos. O banco global da Scania tem um fundo verde com taxas de juros mais atraentes para incentivar a adoção de frotas que reduzem emissões.
O combo inclui o caminhão, acesso a toda a rede de 165 concessionárias e pontos de atendimento da montadora no Brasil, plano de manutenção, bem como garantia de fornecimento de biometano da Gás Verde, inicialmente, no Sudeste e, progressivamente, em outros locais do país, como Bahia, Pernambuco e Maranhão.
Os pontos de abastecimento ficarão nas proximidades de grandes rodovias, como Fernão Dias, Imigrantes e Dutra –que liga o Rio de Janeiro a São Paulo e já tem uma rede. Mas também será oferecido abastecimento em rotas alternativas, caso seja necessário. O pacote só não inclui os responsáveis pela operação do transporte, como motorista e carregadores.
BIOMETANO X GÁS FÓSSIL
- Em nível molecular, o biometano é idêntico ao gás de petróleo. Além de substituir o diesel em ônibus e caminhões ou a gasolina nos carros, o biometano pode ser misturado ao gás de petróleo numa rede de gasodutos, nos canos de casas e empresas e até nos tanques de veículos.
- O biometano apresenta uma diferença importante em relação ao gás natural no contexto da mudança climática: por se originar da reciclagem de matéria orgânica disponível na superfície da Terra, como lixo, restos de plantas e até cocô, é composto por moléculas que já estão na atmosfera —ou seja, quando é queimado não agrega gás carbono fóssil com efeito estufa.
- Cada poço de extração de gás fóssil aberto, por outro lado, libera automaticamente o gás anteriormente retido em um compartimento subterrâneo, gerando novas emissões. Emissões fugitivas de biometano, no entanto, são tão nocivas quanto as do gás natural de petróleo. Por isso, o sistema de produção e transporte é fundamental para o resultado final da contabilidade das emissões
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