quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

O recado de Lula para ministros após a demissão de Nísia na Saúde; leia a coluna, OESP

 Por Vera Rosa

Atualização: 

Pouco depois da demissão de Nísia Trindade, nesta terça-feira, 25, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em conversa reservada com auxiliares, que o Ministério da Saúde precisa mudar. A ordem agora é para que a pasta seja conduzida de forma mais política e entre o mais rápido possível na disputa por uma marca de governo.

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Dois anos se passaram e Lula não vê nada de novo na prateleira para vender, além dos planos já anunciados. Reembalou alguns, como o Farmácia Popular, e vai mudar o nome de outros considerados indecifráveis, como o PMAE – Programa Mais Acesso a Especialistas. Mas o fato é que, até hoje, não encontrou um mote para tirar o governo da crise.

A escolha mais difícil para o presidente, porém, ainda está por vir e será fundamental para a construção das alianças no ano eleitoral de 2026. Apesar da acentuada queda de popularidade, Lula quer que o novo articulador político do governo comece a discutir desde já a montagem dos palanques nos Estados para a campanha do ano que vem.

Lula diz que Ministério da Saúde precisa mudar, entrar na briga política e ter um mote. Nísia Trindade foi demitida da pasta nesta terça-feira, 25
Lula diz que Ministério da Saúde precisa mudar, entrar na briga política e ter um mote. Nísia Trindade foi demitida da pasta nesta terça-feira, 25 Foto: Wilton Junior/Estadão

Sem maioria no Congresso, o presidente procura um nome que transite bem do Centrão à esquerda, passando pelo PL de Jair Bolsonaro, para cumprir essa tarefa. Ele tem sido pressionado a anunciar o sucessor de Alexandre Padilha nas próximas horas.

Até agora comandada por Padilha, que foi transferido para a Saúde, a Secretaria de Relações Institucionais é chamada de “UPA” do Palácio do Planalto. Por lá passam diariamente dezenas de parlamentares, muitos com semblante enfezado. Ali, os sofás de couro preto do quarto andar do Planalto, perto do gabinete do ministro, estão sempre lotados e a maioria dos deputados que bate ponto na “UPA” briga pela liberação do dinheiro das emendas.

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Apesar do desafio de construir uma nova marca para o ministério, após a demissão de Nísia, Padilha não esconde o alívio de deixar o posto com assento no quarto andar. No governo Dilma Rousseff, o ocupante daquela cadeira chegou a ser chamado, pejorativamente, de “garçom” do Planalto. Não sem motivo: só servia para “tirar os pedidos” de deputados e senadores, mas quem resolvia mesmo era a Casa Civil. De lá para cá, tudo só piorou.

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José Múcio Monteiro, hoje ministro da Defesa, esteve à frente da coordenação política do governo de 2007 a 2009, no segundo mandato de Lula. Pernambucano, servia bolo de rolo aos parlamentares. “Aceite um pedaço de bolo porque aqui só tem rolo”, dizia ele.

Pouco antes de Múcio, quem comandou a Secretaria de Relações Institucionais foi Walfrido dos Mares Guia. Empresário, Mares Guia prestigiou a última cerimônia de Nísia no Planalto, nesta terça-feira. Acompanhado pelo ministro da Defesa, ele também conversou com Lula na semana passada.

“Eu disse ao presidente: o novo coordenador político do governo precisa incluir os parlamentares para que todas as flechas sejam atiradas na mesma direção, e não cada uma para um lado”, afirmou Mares Guia. “Na nossa época, as emendas não eram impositivas como agora. Tínhamos como negociar. Hoje, a realidade é outra.”

Múcio resume a situação em uma única frase. “Para se dar bem nesse cargo, você tem que engolir sapo e ainda pedir a receita”, ensina ele. Depois de tanto mal-estar no Planalto, só resta esperar que, na disputa fratricida por uma marca de governo, o próximo articulador político não sofra de azia.

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