O cerco jurídico sobre Jair Bolsonaro está se fechando. Com o oferecimento da denúncia que o acusa de tentativa de golpe de Estado e outros crimes, é questão de semanas até que ele se torne réu. Não é impossível que até o final deste ano já tenha sido julgado e condenado pelo STF e quem sabe até esteja preso.
As primeiras reações de Bolsonaro e aliados próximos à denúncia da Procuradoria-Geral da República não deixam dúvida sobre qual será a estratégia do ex-presidente. Ele vai negar até o fim todas as imputações e dizer que é vítima de perseguição política.
Não dá para recriminá-lo por isso. Esse mesmo roteiro foi seguido com sucesso por Lula e Donald Trump, dois ex-presidentes condenados pela Justiça que depois conseguiram voltar ao cargo por vontade da maioria dos eleitores. Acredito, porém, que o caso de Bolsonaro tem algumas especificidades que tornam tal cenário menos provável.
No Brasil, a tendência é que condenações a políticos não se sustentam ao longo do tempo. Até o Cabral já está solto. A exceção a essa regra são condenações determinadas pelo Supremo Tribunal Federal em julgamento originário.
Estou falando basicamente do mensalão, o único dos grandes escândalos políticos cujas consequências penais não foram depois anuladas por corte superior. É que não há tribunal superior ao Supremo. E Bolsonaro será julgado originariamente pelo STF.
O timing político também não beneficia o capitão reformado. Especialmente agora, diante de um Lula enfraquecido, forças conservadoras da sociedade (agro, evangélicos, lúmpen-empresariado etc.) podem avaliar que é vantajoso lançar um candidato de direita menos histriônico do que Bolsonaro.
Se o que acontece na Europa vale como precedente, depois que a extrema direita demonstra sua viabilidade eleitoral, as lideranças originais desses movimentos, invariavelmente mais marginais e mais toscas do que a média dos políticos, tendem a ser substituídas por dirigentes mais sofisticados, não necessariamente menos radicais.
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