Procurando bodes, ficou sem marca
Na segunda-feira passada, um conhecedor de Brasília e de Lula dizia: "Ele não sabe governar com pouco dinheiro". Na sexta, veio o Datafolha com o tombo de sua popularidade. Em seguida, chegou o Ipec informando que 62% dos entrevistados preferem que ele não dispute a reeleição. A erosão da popularidade do governo deu-se até mesmo no segmento de seus eleitores. Desde os tempos da Lava Jato, Lula não tinha uma semana tão amarga.
Não é só Lula que está com um problema nem é só o PT, prestes a completar 45 anos, numa situação esquisita. Divide-se entre ideias velhas, acreditando em reforma ministerial e projetos juvenis. A raiz de todas as dificuldades instaladas na segunda metade do mandato está lá atrás, nas primeiras semanas do Lula 3.0. Ele e seus companheiros leram mal a vitória de 2022. Não foi Lula quem ganhou, foi Bolsonaro quem perdeu.
Em 2022, formou-se um arco de defesa da democracia. Um clima de entendimento com o centrão é condição necessária para manter a governabilidade, mas não é suficiente. A preservação do arco democrático demandaria outros entendimentos, e eles foram desprezados. Em 2026, com Bolsonaro fora do pleito, esse arco estará mutilado, pois a direita não precisa mais de trogloditas assumidos.
Curto de dinheiro, Lula 3.0 está sem marca e acredita que pode resolver o problema colocando seu marqueteiro na Secretaria de Comunicação. Com a economia andando de lado, Lula e o PT gastaram dois anos tentando transformar Roberto Campos Neto em bode expiatório. O tempo passou, e os juros estão a 13,25% por decisão unânime do Copom, e é Gabriel Galípolo quem está no Banco Central.
O governo pensa grande e esquece o varejo. Até as pedras sabem a relevância da segurança pública para os cidadãos. O Ministério da Justiça produziu um plano grandiloquente com um jabuti destinado a transformar a Polícia Rodoviária Federal numa nova entidade. É sempre bom relembrar que, no governo de Bolsonaro, a PRF era conhecida como Polícia Rodoviária do Flávio. Afinal, todo governo sonha em dispor de sua polícia. Resultado: a ideia atolou, e a oposição de alguns governadores desacelerou as mudanças, inclusive as bem-vindas.
Assim, parou também a ideia que levaria as dezenas de sistemas de segurança a falarem entre si. A unificação dos sistemas contraria os interesses estabelecidos, que se beneficiam de contratos e favorecem a balbúrdia. Isso do lado das autoridades encarregadas de zelar pela ordem.
Na outra ponta, a dos bandidos, um relatório da Secretaria Nacional de Políticas Penais aponta indícios de que as duas grandes facções criminosas contornam rivalidades e colaboram em pautas comuns. Vexame maior não há: os bandidos se entendem, enquanto os poderes divergem.
Chegou-se ao extremo de o prefeito do Rio de Janeiro anunciar a criação de uma nova polícia (4.200 contratações até 2028) ressalvando que ela não reprimirá milícias nem traficantes.
Com as más notícias, sai do baú a discussão da conveniência de uma nova candidatura de Lula, como se houvesse alternativa na cartola dos mágicos.
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