domingo, 16 de fevereiro de 2025

Lula pôs o dedo na lenga-lenga ambientalista, Elio Gaspari, FSP

 Quando Lula disse que "não dá para a gente ficar nesse lenga-lenga" na questão ambiental para a exploração das reservas de petróleo da chamada "Foz do Amazonas" foi ao olho do problema.

É sabido que a centenas de quilômetros do litoral norte do continente, nas águas do Amapá, há uma rica província petrolífera. Chamá-la de Foz do Amazonas é um truque de retórica, pois esse estuário fica a 500 km da chamada Margem Equatorial.

Explorando-a, a Guiana e o Suriname vivem um período de bonança. Em 2013, a Petrobras, num consórcio internacional, arrematou o lote FZA-M-57 para sua eventual exploração. O que se pretende para toda a área é uma licença para novas perfurações. Defendendo o meio ambiente, o Ibama congelou a pesquisa.

Três pessoas estão em uma reunião, com um mapa-múndi ao fundo. À esquerda, uma mulher de cabelo curto e grisalho, usando óculos e uma blusa azul escura, está com as mãos unidas. No centro, um homem de cabelo grisalho e barba, vestido com um terno escuro e gravata, sorri enquanto coloca suas mãos sobre as delas. À direita, um homem de cabelo grisalho e barba, usando um terno escuro e um chapéu claro, olhando para baixo, tenta juntar as mãos dos outros dois a de uma outra pessoa, cujo braço aparece à direita dele
O presidente Lula ao lado da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e do presidente da COP-30, Andre Correa do Lago, em Brasília - Ueslei Marcelino - 21.jan.2025/Reuters

Há anos o Ibama e a Petrobras estão numa lenga-lenga. O Ibama pede garantias, a Petrobras responde, e o instituto pisa no freio.

Em outubro passado, 26 técnicos do Ibama rejeitaram o material enviado pela empresa e recomendaram não só indeferimento do pedido de licença, mas o arquivamento do processo. O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, abriu uma janela, pedindo novos estudos e providências à Petrobras (Agostinho está na mesa das frituras do Planalto).

Os riscos de vazamento de óleo, bem como os eventuais danos à fauna aquática, envolvem complexas questões técnicas. Nesse campo, tanto a Petrobras como o Ibama são entidades respeitáveis, a menos que suas posições estejam contaminadas por outros objetivos.

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Uma petroleira estaria contaminada, se tivesse um passado de irresponsabilidade. Não é o caso da Petrobras. Um instituto de defesa do meio ambiente estaria contaminado se, na raiz de suas objeções, estiver uma pura e simples condenação da exploração de combustíveis fósseis. Nesse caso, o que Lula chamou de lenga-lenga chama-se trava.

A associação dos servidores do Ibama soltou uma nota condenando a fala de Lula com sólidos argumentos institucionais. Não enumerou um só fato que desminta que há uma lenga-lenga na decisão do que em burocratês se chama de Avaliação Ambiental de Área Sedimentar, ou AAAS.

Apesar da grandiloquência, a nota reconheceu: "Porém, não se tem notícias de pressão do Palácio do Planalto para que a AAAS saia do papel."

Zero a zero, bola ao centro. Não tendo havido pressão, haveria lenga-lenga, disfarce da trava.

Em terra firme, os ambientalistas enfrentam os agrotrogloditas e muitas vezes se valem de travas. Em alto mar, a Petrobras já mostrou que não é uma petrotroglodita, mas está sendo tratada como se fosse. Afinal, se um sujeito é contra a exploração de combustíveis fósseis, a própria lenga-lenga seria perda de tempo.

Muita gente boa do universo ambientalista usa a trava para exercer seu poder. Trata-se de uma tática tóxica. Por irracional, robustece trogloditas do outro lado, e eles já governaram o Brasil.

A criação da Autoridade Climática é um exemplo do uso da trava para preservar quadrados de poder burocrático. No início de 2024 ela era uma promessa de campanha de Lula, mas foi esquecida. Em setembro, diante dos fogaréus, ele anunciou em Manaus que criaria essa nova entidade. Cadê?

A promessa está atolada no manguezal onde se chocam duas visões. Numa, a Autoridade ficaria apensa à Presidência da República, com poderes sobre todos os ministérios. Noutra, ela ficaria dentro do ministério do Meio Ambiente, preservando-se todos os quadrados de poder da burocracia ambiental. O projeto está na Casa Civil, submetido a outra lenga-lenga.

SERVIÇO

O Amapá é brasileiro desde 1900 porque foi conquistado no tapa e na lábia de espanhóis, holandeses, ingleses e franceses. No site do Senado dois livros contam essa bela história.

Um é "Amapá: A Terra onde o Brasil Começa", de José Sarney e Pedro Costa. O outro é "Santana da Amazônia - A Ocupação e Conquista de Santana e o seu Papel para a Consolidação da Amazônia Brasileira", de Marlus Carvalho. Ambos grátis em PDF.

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