quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

A DIMENSÃO HUMANISTA DOS PROFISSIONAIS DA ENGENHARIA, por Alvaro Rodrigues do Santos

 A Técnica e a Tecnologia não podem ser frias e estanques diante da vida humana. Há

muitos riscos no exercício dessa dissociação, e que já trouxeram desgraças imensas à

Humanidade.

Choca-me e consterna-me perceber colegas de profissão incapazes de se encantar diante

de uma música, de uma pintura, de um livro, de um poema, alguns até achando que esse

sentimento do deslumbramento diante do belo seja mais próprio a intelectuais, gays ou

malucos. Sem essa dimensão humana da Vida a quem dedicarão suas habilidades, por

que crivos de julgamento submeterão suas decisões técnicas?

Vejo a Técnica e a Tecnologia, enfim o Conhecimento Técnico-científico, como

instrumentos do processo civilizatório maior da espécie humana, assim nunca podendo

ser utilizados com objetivos alheios a essa maravilhosa dimensão. O próprio

equacionamento físico e matemático das soluções tecnológicas adotadas responderá

sempre às visões que o profissional tenha sobre o mundo e a sociedade dos Homens. E

essas soluções deverão servir, não limitada e falseadamente a interesses locais de lucro ou

qualquer outra mesquinhez, mas sempre a uma entidade impessoal e maior, a

Humanidade.

Em resumo, o que nos falta hoje é justamente o que por aí andam pregando como

desnecessário (ou adjetivações mais agressivas e estúpidas), qual seja a reimpregnação de

valores humanistas ao nosso ensino de ciências exatas. Um engenheiro, um físico, um

geólogo, um arquiteto, um agrônomo, um médico, etc., devem sair da Universidade

sabendo exatamente que sua ação profissional interferirá inexoravelmente com a vida de

seus semelhantes. Deverá saber, mesmo nos pequenos espaços profissionais que lhe

sobrem, que a ele se apresentarão opções de escolha sobre essa ou aquela abordagem

profissional que seja melhor ou pior frente aos referenciais de uma sociedade que tenha

como pilares os valores da dignidade espiritual e material de todos seus cidadãos. Ou

escolhas que se definirão pelo exercício da compaixão humana, atributo maior do

Homem civilizado.

Não é apenas sua competência na profissionalização técnica dos alunos que caracteriza

uma verdadeira Universidade, mas também sua capacidade complementar de os prover

de uma formação crítica e de uma visão humanista sobre o horizonte maior de suas

profissões.

Ou seja, caros amigos, as coisas devem se colocar justamente no caminho inverso dos

apelos pragmáticos e tecnicistas que hoje são comumente lançados sobre o mundo da

Educação. Na verdade, poderíamos dizer que hoje no Brasil o campo educacional das

ciências exatas pede socorro ao seu campo complementar das ciências humanas, é

preciso que os valores humanistas e iluministas voltem a fazer parte e dar sentido

humano, social e civilizatório às carreiras profissionais tidas como isoladamente do

mundo das exatas. A separação entre esses dois mundos somente interessa àqueles que

veem a sociedade humana a partir de seus próprios umbigos e, egoistamente, a partir de

seus interesses pessoais, sem qualquer preocupação de ordem humana e social. Se, ao

contrário, alimentamos uma visão social de integração e felicidade entre os seres

humanos, não poderemos nunca admitir a dicotomia e a independência entre o mundo

das ciências exatas e o mundo das ciências humanas.


Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br)

Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT e Ex-Diretor da Divisão de Geologia

Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do

Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual

Básico para Elaboração e Uso da Carta Geotécnica”, “Cidades e Geologia”

Consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente

Nenhum comentário: