Desde que o mundo é mundo, tem sido mais fácil encontrar um culpado do que uma solução. Adão lançou a culpa sobre Eva; e Eva, sobre a serpente.
Em 1961, quando decretou a brutal desvalorização do cruzeiro, a moeda na época, o então presidente Jânio Quadros espinafrou os Estados Unidos. Quando alguém o alertou que os Estados Unidos não tinham nada a ver com o valor da moeda nacional, Jânio se limitou a dizer: “Mas é preciso arranjar um culpado...”.
O presidente Lula enfrenta graves encrencas na área econômica. O Produto Interno Bruto (PIB) se encaminha para a estagnação; a quebra da Americanas e a crise bancária global provocaram retração do crédito que, por sua vez, aponta para a recessão; a inadimplência cresce entre as empresas e as famílias; pelo terceiro ano seguido, a inflação deverá ultrapassar a meta; o rombo fiscal não para de subir; já embicando para o quarto mês depois da posse, o governo Lula não consegue desembuchar o tal arcabouço fiscal; a indústria continua se desidratando; a confiança que já era débil ameaça se esvair; o Congresso não ajuda e de todo lado aparecem reivindicações, exigências e pedidos de verba.
Além disso, o ambiente externo joga contra. A inflação e a crise bancária no Hemisfério Norte aprofundam o cenário de recessão global – que já estava no radar – e como consequências para o Brasil estão uma possível redução das encomendas (exportações) e a retranca dos investimentos externos.
Enfim, as soluções vão rareando e, nesse clima, fica mais fácil apontar o indicador para os disponíveis a culpados da hora.
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Bolsonaro e os bolsonaristas seriam as opções mais à mão, pela herança bem mais maldita do que a que fora deixada em 2002 pelo então presidente Fernando Henrique. Mas Lula logo percebeu que, para compor a base de sua sustentação política, não poderia exagerar nas acusações, porque precisa do Centrão, da velha burguesia nacional e de grande número de apoiadores do ex-presidente Bolsonaro.
Assim, o papel de bode expiatório sobrou para o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que está lá para o que foi chamado a fazer, ou seja, para reconduzir a inflação para a meta, mas sofre ataques enfurecidos, que ignoram o cerne das questões técnicas propriamente ditas. Querem a derrubada dos juros, mas não são capazes de mostrar que essa atitude produziria redenção.
Em nenhum momento, Lula admitiu que a escolha por uma âncora fiscal consistente fosse capaz de virar o jogo. Até agora, o conteúdo do pacote está sendo negociado a sete chaves por um governo que se declarou de frente ampla e plural, e cujo partido sempre defendeu o orçamento participativo e a incorporação de opiniões divergentes.
A quilometragem rodada dos 100 primeiros dias do governo Lula, que se completará em 10 de abril, vem sendo marcada por incertezas e por clima geral de desalento. Resta saber se virão soluções para os problemas que precisam ser resolvidos ou se apenas mais ataques.
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