quarta-feira, 22 de março de 2023

Povo queima juros em praça pública, mas Lula pode ajudar a apagar incêndio, VTF, FSP

 Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, está pop. Manifestantes puseram fogo em um boneco com a cara "desse cidadão" durante um protesto contra as taxas de juros, nesta terça-feira (21), na avenida Paulista.

Nas redes sociais, petistas faziam a caveira de Campos Neto. Na campanha, recorriam a slogans que cataram da boca de participantes de um seminário do BNDES. Luiz Inácio Lula da Silva deu mais caneladas no BC.

Porém, desde o começo de fevereiro "o mercado" diz "tamo junto". É sarcasmo, mas não muito. A taxa de juros de prazo de um ano caiu a 12,78%. Em novembro, fora a 14,6%, no pico do estresse causado pelo "Lula Day" e outros discursos do presidente eleito. A taxa de juro real (ex ante) baixou de 8,8%, no pior de novembro, para 6,8%. Taxas além de dois anos continuam horríveis.

Manifestantes ateiam fogo em cavalo de Troia de papelão com fotos de Roberto Campos Neto - Roberto Casimiro/Fotoarena/Agência O Globo

Ainda assim, apenas por milagre o Banco Central deve tirar a Selic dos atuais 13,75% nesta quarta-feira (22), o que ninguém na praça esperava mesmo. Espera-se, sim, sinal de que o arrocho comece a diminuir em maio, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária do BC. Lula e seu governo podem dar uma mãozinha.

Se cumprir a regra da sua ordem, o BC vai prestar mais atenção aos seus assuntos de costume, embora tenha havido novidade desde a última reunião do Copom (fevereiro).

As expectativas de inflação mais ou menos pararam de subir, mas no alto ficaram, acima das metas. O real se desvalorizou desde fevereiro. Vai ser difícil que a máquina de projeções do BC cuspa projeções muito favoráveis de inflação —talvez saia um IPCA na meta em 2024, se tanto.

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Enfim, Lula ainda não anunciou o "novo arcabouço fiscal" (limitador de gastos e dívida do governo), que está sob fogo amigo de petistas graúdos. O chá de revelação do plano fiscal ficou para o mês que vem. Então, talvez o ano comece em abril.

Sim, há mais sinais de desaceleração da economia brasileira, como no emprego. O impulso de crédito (uma medida de aumento do total de novos empréstimos bancários) é negativo desde outubro e baixa, embora o dado mais recente seja de janeiro. O mercado de capitais (onde empresas levantam dinheiro) deu uma engasgada feia em fevereiro. Juros para famílias e empresas estão horríveis.

Há uma crise financeira mundial fervendo baixo, com risco de novos derramamentos a qualquer momento e com efeito negativo sobre crédito e crescimento, lá fora e aqui. O preço de commodities caiu, em parte por causa da lambança bancária euroamericana, que é grande. O Credit Suisse desapareceu —não um banquinho ou um tamborete de criptomoedas.

Por estes dias, indicadores de estresse baixaram, mas o paciente (finança mundial) está dopado com ofertas maciças de dinheiro dos bancos centrais. Ou pelos calmantes da imperturbável Janet Yellen, secretária do Tesouro dos Estados Unidos. Nesta terça, Yellen disse que vai fazer o que puder a fim de evitar mais quebradeira ou tranquilizar depositantes, garantindo todo mundo caso outro banco vá à breca.

O BC do Brasil talvez apareça com alguma informação para a qual ninguém está olhando. Talvez uma alma literária invente por lá um discurso para mudar a orientação em tese previsível da política monetária. Seria surpresa.

Seja como for, se pode criar um ambiente mais favorável à queda da Selic. Isto é, queda mais rápida, pois em maio a economia pode dar sinais agudos de falta de ar, por causa do arrocho.

Dar à luz esse plano fiscal e parar de falar de metas de inflação (ao menos agora) ajudaria. Lula então poderia entrar no bonde que perdeu em novembro, que se dirigia para a baixa dos juros. Para lá não foi por causa da discurseira contraproducente que começou em novembro. E continua.


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