Parecer técnico produzido pelo Núcleo de Engenharia do CAEx (Centro de Apoio Operacional à Execução), do Ministério Público, apontou irregularidades em reparos feitos em vigas da linha 15-prata, do monotrilho, que circula na zona leste paulistana.
O documento, de 41 páginas, divulgado no fim da tarde desta quinta (30), foi elaborado a pedido do Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social da Capital para investigar a queda de um bloco de concreto, da altura de 15 metros, em um trecho da ciclovia da avenida Professor Luiz Ignacio Anhaia Mello, entre as estações Oratório e Parque São Lucas.
No episódio, em setembro do ano passado, pedaços de concreto ficaram espalhados pela via de ciclistas e pelo gramado ao lado. Ninguém se feriu.
O Metrô diz em nota que não teve acesso ao documento e que prestará todos os esclarecimentos ao Ministério Público.
O relatório também cita que na manhã de 11 de janeiro deste ano um pedaço de concreto em uma das vigas se destacou, entre as estações Vila Prudente e Oratório, causando a interrupção do trecho entre as estações Vila Prudente e Vila União.
A vistoria, em três pontos da viga, ocorreu na madrugada do último dia 18 de janeiro, quando os trens não estavam em operação, e foi realizada por dois engenheiros do CAEx, acompanhados pelo Metrô.
O órgão também diz no documento que teve uma reunião com o Metrô, nesse mesmo dia, para conversar sobre as falhas.
"Não se observou risco iminente de desplacamento de reparos estruturais nesses locais [vistoriados]", diz trecho do documento, que aponta, porém, a constatação de irregularidades que prejudicam a durabilidade e a segurança do local, caso não sejam tomadas medidas de correção ou a substituição dos consertos.
O texto cita que o tipo de concreto usado em reparos pode ter fissuras prematuras. "Segundo o Manual de uso, operação e manutenção de via elevada, para todos os elementos estruturais deverão ser tomadas todas as medidas tecnológicas para assegurar a vida útil, mínima, de 100 anos", explica trecho do parecer.
No relatório, o CAEx afirma que há necessidade de se revisar os métodos empregados nos reparos e reconstituições nas estruturas de concreto realizados pelo CEML (Consórcio Expresso Monotrilho Leste), responsável pela construção da linha, bem como a elaboração de projetos específicos para a realização desses serviços.
O promotor Silvio Antonio Marques, da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social, que investiga a sequência de problemas e acidentes no monotrilho há cerca de três anos, vai discutir o conteúdo documento com o Metrô e com o consórcio na próxima segunda-feira (3).
Procurado para comentar o parecer técnico, o CEML não respondeu até a publicação desta reportagem. Na época da queda do concreto, em setembro, o consórcio disse que que o evento era pontual e isolado, sem dano material ou pessoal, e que o o reparo foi integralmente realizado.
O consórcio também afirmou em setembro de 2022 que realizou vistoria completa na junção das vigas e constituiu um grupo de trabalho técnico para apurar as causas da queda do concreto.
Um relatório anterior produzido pelo Caex sobre o monotrilho, em outubro de 2021, já havia apontado falha de projeto na construção da linha, assim como na fabricação e montagem dos trens.
A Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social também deverá pedir ao consórcio uma indenização por danos coletivos e ao patrimônio público pelo que considera uma má execução da obra.
O monotrilho acumula uma série de problemas e acidentes, o que provocou a instauração de um inquérito no Ministério Público em 2020, quando o estouro de um pneu lançou uma placa de metal que caiu na avenida Sapopemba e paralisou a linha durante cerca de cem dias.
Em janeiro de 2019, dois trens se chocaram na estação Jardim Planalto. Um dia depois, um equipamento chamado terceiro trilho se soltou e ficou pendurado a 15 metros do solo. Depois, o muro de uma das novas estações desabou sobre a escada que dá acesso à plataforma.
Neste mês houve duas colisões seguidas com trens do monotrilho. A primeira delas foi entre as estações Sapopemba e Jardim Planalto, no dia 8. A segunda, na madrugada do dia 9, quando funcionários trabalhavam para separar os dois trens batidos. Segundo o Metrô, não houve vítimas ou novos danos materiais.
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