sexta-feira, 31 de março de 2023

Relatório do Ministério Público vê irregularidades em reparos de vigas do monotrilho de SP, FSP

SÃO PAULO

Parecer técnico produzido pelo Núcleo de Engenharia do CAEx (Centro de Apoio Operacional à Execução), do Ministério Público, apontou irregularidades em reparos feitos em vigas da linha 15-prata, do monotrilho, que circula na zona leste paulistana.

O documento, de 41 páginas, divulgado no fim da tarde desta quinta (30), foi elaborado a pedido do Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social da Capital para investigar a queda de um bloco de concreto, da altura de 15 metros, em um trecho da ciclovia da avenida Professor Luiz Ignacio Anhaia Mello, entre as estações Oratório e Parque São Lucas.

No episódio, em setembro do ano passado, pedaços de concreto ficaram espalhados pela via de ciclistas e pelo gramado ao lado. Ninguém se feriu.

O Metrô diz em nota que não teve acesso ao documento e que prestará todos os esclarecimentos ao Ministério Público.

Buraco em viga da linha 15-prata após queda de um bloco de concreto sobre a ciclovia que fica na avenida Professor Luiz Ignacio Anhaia Melo, na zona leste de São Paulo
Buraco em viga da linha 15-prata após queda de um bloco de concreto sobre a ciclovia que fica na avenida Professor Luiz Ignacio Anhaia Melo, na zona leste de São Paulo - Reprodução/Diário do Transporte

O relatório também cita que na manhã de 11 de janeiro deste ano um pedaço de concreto em uma das vigas se destacou, entre as estações Vila Prudente e Oratório, causando a interrupção do trecho entre as estações Vila Prudente e Vila União.

A vistoria, em três pontos da viga, ocorreu na madrugada do último dia 18 de janeiro, quando os trens não estavam em operação, e foi realizada por dois engenheiros do CAEx, acompanhados pelo Metrô.

O órgão também diz no documento que teve uma reunião com o Metrô, nesse mesmo dia, para conversar sobre as falhas.

"Não se observou risco iminente de desplacamento de reparos estruturais nesses locais [vistoriados]", diz trecho do documento, que aponta, porém, a constatação de irregularidades que prejudicam a durabilidade e a segurança do local, caso não sejam tomadas medidas de correção ou a substituição dos consertos.

O texto cita que o tipo de concreto usado em reparos pode ter fissuras prematuras. "Segundo o Manual de uso, operação e manutenção de via elevada, para todos os elementos estruturais deverão ser tomadas todas as medidas tecnológicas para assegurar a vida útil, mínima, de 100 anos", explica trecho do parecer.

No relatório, o CAEx afirma que há necessidade de se revisar os métodos empregados nos reparos e reconstituições nas estruturas de concreto realizados pelo CEML (Consórcio Expresso Monotrilho Leste), responsável pela construção da linha, bem como a elaboração de projetos específicos para a realização desses serviços.

O promotor Silvio Antonio Marques, da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social, que investiga a sequência de problemas e acidentes no monotrilho há cerca de três anos, vai discutir o conteúdo documento com o Metrô e com o consórcio na próxima segunda-feira (3).

Procurado para comentar o parecer técnico, o CEML não respondeu até a publicação desta reportagem. Na época da queda do concreto, em setembro, o consórcio disse que que o evento era pontual e isolado, sem dano material ou pessoal, e que o o reparo foi integralmente realizado.

O consórcio também afirmou em setembro de 2022 que realizou vistoria completa na junção das vigas e constituiu um grupo de trabalho técnico para apurar as causas da queda do concreto.

Um relatório anterior produzido pelo Caex sobre o monotrilho, em outubro de 2021, já havia apontado falha de projeto na construção da linha, assim como na fabricação e montagem dos trens.

A Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social também deverá pedir ao consórcio uma indenização por danos coletivos e ao patrimônio público pelo que considera uma má execução da obra.

O monotrilho acumula uma série de problemas e acidentes, o que provocou a instauração de um inquérito no Ministério Público em 2020, quando o estouro de um pneu lançou uma placa de metal que caiu na avenida Sapopemba e paralisou a linha durante cerca de cem dias.

Em janeiro de 2019, dois trens se chocaram na estação Jardim Planalto. Um dia depois, um equipamento chamado terceiro trilho se soltou e ficou pendurado a 15 metros do solo. Depois, o muro de uma das novas estações desabou sobre a escada que dá acesso à plataforma.

Neste mês houve duas colisões seguidas com trens do monotrilho. A primeira delas foi entre as estações Sapopemba e Jardim Planalto, no dia 8. A segunda, na madrugada do dia 9, quando funcionários trabalhavam para separar os dois trens batidos. Segundo o Metrô, não houve vítimas ou novos danos materiais.

 

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