sábado, 18 de março de 2023

Sobressaltos bancários adiam recuperação global para 2024, Rodrigo Zeidan, FSP

 


Apertem os cintos, o regulador sumiu. A quebra do banco Silicon Valley (SVB, em inglês) acendeu o alerta no mercado financeiro mundial.

Estamos à beira de uma crise financeira global como a de 2008? Felizmente não, mas isso pode contribuir para desacelerar a economia global.

Há chance de uma crise financeira no Brasil? Também não, já que temos um dos reguladores mais conservadores do mundo.

O SVB quebrou por ter dinheiro demais, o que parece estranho à primeira vista, é claro. O banco recebeu uma enxurrada de mais de US$ 120 bilhões em novos depósitos em 2020 e 2021, com preços de ativos financeiros nas alturas; em 2019, o total de depósitos não chegava a metade disso.

Não conseguiu emprestar boa parte desse dinheiro, que seria o normal para um banco. Escolheu comprar títulos públicos americanos de dez anos, mesmo que estivessem pagando uma ninharia de juros à época.

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O banco esperava usar o retorno dos títulos, mesmo que pequeno, para se remunerar pelo "inconveniente" de guardar mais de US$ 100 bilhões dos seus clientes. Mas, em 2022, o Federal Reserve começou a jogar os juros para cima a fim de combater a inflação americana. E, com isso, o preço dos títulos despencou, para compensar a alta dos rendimentos.

Sede do Federal Reserve, o Banco Central dos EUA, em Washington - Leah Millis - 19.mar.19/Reuters

O SVB cometeu dois erros crassos: comprou títulos de longo prazo, sujeitos à flutuação de taxa de juros, em vez de títulos de curto prazo, e não fez operações de hedge (seguro) para se proteger de aumento de taxa de juros. Durante a maior parte de 2022 o banco não tinha um diretor de risco, incompetência gerencial pura e algo impensável em outras instituições.

Em somente algumas horas, no dia 9 de março, os clientes retiraram US$ 42 bilhões das suas contas, ou cerca de US$ 5 bilhões por hora, depois que o banco anunciou que iria precisar captar recursos para cobrir o rombo criado, em parte, pelo aumento dos juros americanos.

Não é todo dia que se vê banco indo à falência porque os juros subiram; durante os últimos dez anos, investidores nos Estados Unidos e na Europa reclamavam da baixa rentabilidade dos bancos pelas baixas receitas com empréstimos. Se isso fosse comum, não haveria um banco em pé no Brasil.

Para evitar situações como essa, bancos devem fazer testes de estresse, no qual estimam o efeito de mudanças em variáveis como taxas de juros sobre seus balanços. Contudo, os Estados Unidos cometeram um erro: desregulamentaram os testes de estresse para bancos regionais como o SVB em 2018.

A moral da história é que bancos quebram por vários erros, não um só. O problema é que crises bancárias se espalham. O banco central suíço já anunciou que vai emprestar mais de US$ 50 bilhões para que o Credit Suisse, um dos maiores bancos do mundo, não siga pelo caminho do SVB.

Ainda assim, a crise não deve se espalhar, a não ser que haja mais algum foco de problemas escondido e que vá ser revelado nos próximos dias. E, se houver algum problema, as autoridades monetárias vão ter seu momento Mario Draghi, que, como presidente do Banco Central Europeu, anunciou, em 2012, que faria "tudo o que fosse necessário" para manter a zona do euro intacta. Conseguiu, assim como os reguladores vão conseguir frear uma nova crise.

Mas uma coisa é certa: problemas bancários vão travar mercados de crédito no mundo, seja por receio das instituições, seja por resposta dos reguladores. E o resultado já sabemos: maior custo de crédito e diminuição do crescimento econômico.

Recuperação mundial? Talvez em 2024.


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