quinta-feira, 23 de março de 2023

Produtora da TV Justiça é suspeita de desviar R$ 3,5 mi com empresa laranja, FSP

 

SÃO PAULO

O advogado Ricardo dos Santos Castilho apresentou, nesta segunda-feira (20), sua carta de renúncia da presidência da Fundac (Fundação para o Desenvolvimento das Artes e da Comunicação). A fundação é responsável, entre outros contratos, pela produção e transmissão da TV Justiça.

A renúncia, em caráter "irrevogável e irretratável", ocorre em meio a uma crise que envolve um pedido de intervenção ao Ministério Público do Distrito Federal e, ainda, suspeitas de desvio de verbas dos cofres da entidade estimados em R$ 3,5 milhões por meio de uma empresa "laranja".

A Fundac é uma entidade privada, sem fins lucrativos, instituída em 1999 pela Sociedade de Amigos da ECA-USP. Ela atua em parceria com o poder público e é especializada em televisão legislativa. "Somos uma fundação, uma família, um grupo de amigos em ebulição", diz lema da fundação.

Fachada do STF (Supremo Tribunal Federal), em Brasília, que tem contrato com a Fundac, que acabou de perder seu presidente - Gabriela Biló/Folhapress

Além do STF (Supremo Tribunal Federal), a fundação mantém contrato com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), TV Câmara, Assembleia Legislativa de SP e Prefeitura de São Paulo. A receita anual está estimada em R$ 84 milhões, há cerca de mil funcionários, mas os atrasos de salários são recorrentes.

As suspeitas foram apresentadas à Polícia Civil de São Paulo na última quinta (16) pelo presidente do Conselho Curador, o também advogado Danilo Alexandre Mayriques, após um levantamento interno realizado por ele, com ajuda de outros funcionários.

A queixa à polícia foi registrada após uma reunião tensa na sede da Fundac, na própria quinta, que foi interrompida por Leonardo Goes Castilho, 27, membro do Conselho Curador, e filho do presidente. Mayriques disse que decidiu registrar o boletim ao se sentir impedido de desempenhar seu papel de fiscalização.

De acordo com o boletim de ocorrência, ao qual a reportagem teve acesso, o possível desvio ocorreu por meio de notas fiscais emitidas em nome da empresa Bruno Meireles de Souza Serviços Administrativos e de Informática Ltda., que pertence a suposto funcionário da fundação ligado a Castilho.

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Conforme o documento, entre maio de 2021 e março de 2023, a Fundac pagou R$ 3,5 milhões por supostos serviços prestados por Souza. A empresa foi criada no mesmo mês em que começou a emitir notas, tem capital declarado de R$ 5.000 e tem como sede o apartamento de Souza, na região central da capital.

O pedido de intervenção feito pelo Conselho Curador à Promotoria ocorreu no início de março, assinado por Mayriques e também pelos professores da USP Mário Carlos Beni e Luiz Fernando Santoro, ambos do conselho. O principal motivo era a suposta falta de transparência da presidência.

funcionários digitam em computadores da Fundac
Funcionários da Fundac somam cerca de 1.000 profissionais, em seis contratos com órgãos públicos - Reprodução Site Fundac

OUTRO LADO

Procurado, Ricardo Castilho disse ter tomado a decisão de renunciar na última quinta-feira. Segundo ele, uma série de motivos o levaram a essa decisão, como excesso de atividades profissionais e, ainda, uma suposta agressão física do presidente do Conselho Curador.

"Motivos não faltaram, mas o senhor Danilo agrediu fisicamente meu filho na semana passada! Temos um BO de lesão corporal e calúnia. Tem relação com minha integridade física, mas, sobretudo, a falta de tempo mesmo, sou advogado, professor, escritor e mantenedor de uma faculdade", diz mensagem à Folha.

Mayriques diz ter três testemunhas que desmentem a agressão ao conselheiro.

Ainda segundo Castilho, o presidente do Conselho Curador não teria legitimidade para falar em nome da fundação. "Entrei na fundação não tem dois anos, porque ela tinha quebrado, inclusive, a convite do senhor Danilo. Fiz aportes expressivos para revitalizar, modernizei a instituição, mas, com esse conflito instalado por parte do senhor Danilo, não faz sentido."

Em nota, a Fundac informou que "não houve intimação, até o presente momento, para que tenhamos acesso ao citado boletim de ocorrência, tampouco as supostas suspeitas de desvios mencionadas". "Assim, somente após termos conhecimento de todo o conteúdo é que poderemos nos manifestar."

Bruno Meireles de Souza negou à reportagem irregularidade na prestação de serviço e disse que as afirmações contra ele são mentirosas.

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