No início do ano, um acadêmico evangélico me escreveu: "Talvez você se interesse por este livro. Todos que conheço da ciência política estão falando bem". Ele se referia ao recém-publicado "Evangelicals and Electoral Politics in Latin America" (Evangélicos e a política eleitoral na América Latina, em tradução livre), do cientista político Taylor Boas, da Boston University.
O professor Boas examina a participação política da comunidade evangélica, comparando os casos de Chile, Peru e Brasil, para mostrar o que há de particular em cada um deles.
Ele argumenta, em resumo, que o envolvimento de evangélicos brasileiros com a política é maior que nesses outros países por dois motivos: aqui, evangélicos buscaram representação política por se sentirem frequentemente acuados e por conseguirem superar disputas e concorrência entre igrejas e tradições do protestantismo.
No Brasil, a separação entre Estado e igreja se dá a partir da constituição de 1891. Nas décadas seguintes, a Igreja Católica fez esforços para retomar sua posição privilegiada, por exemplo, com a formação da Liga Eleitoral Católica em 1933 para promover candidatos católicos.
Foi naquele ano, Boas argumenta, que a comunidade evangélica se organizou pela primeira vez para defender seus interesses.
No Chile, a separação entre Estado e igreja aconteceu só em 1925, a partir de um plebiscito. E o papa recomendou que os bispos chilenos não se opusessem àquela decisão. Por isso, segundo Boas, evangélicos se sentiram representados em termos de valores e visões de mundo pelos candidatos católicos e tiveram menos motivos para se envolver com a política.
Evangélicos do Brasil se viram acuados outras vezes, como nas deliberações para a Constituição de 1988. Dessa vez, pela presença de grupos da sociedade defendendo pautas como legalização do aborto e direitos dos grupos LGBT. É nesse contexto que a Frente Parlamentar Evangélica se estabelece, explica Boas, atuando para defender a liberdade religiosa e a cosmovisão cristã conservadora.
Finalmente, o caso do Peru mostra uma participação menor na política em comparação ao caso brasileiro, o que, segundo Boas, resulta das disputas internas entre igrejas e candidatos evangélicos. No Brasil, igrejas e políticos evangélicos conseguem, apesar das muitas diferenças, se unir em favor de interesses comuns.
Se católicos e evangélicos se aproximam em relação ao conservadorismo, evangélicos trazem ao cenário político pluralidade e capacidade de adaptação que o Vaticano por enquanto não oferece. Por isso, a curva de crescimento da população evangélica é semelhante nos três países e é uma tendência na América Latina como um todo. Daí o valor do livro de Taylor Boas.
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