sábado, 4 de setembro de 2021

O bar, inimigo da família brasileira, Marcos Nogueira, FSP

 Marcos Nogueira

Sempre que passo sob o Minhocão, o olhar pousa no letreiro de um boteco na esquina das ruas Amaral Gurgel e Santa Isabel: “Lanchonete 4 Irmãos”.

Nunca entrei lá nem conheço a história do lugar. Melhor não conhecer, aliás, pois o conhecimento arruinaria os pensamentos que o letreiro me desperta.

Quatro irmãos! O que teria acontecido ao quarteto depois da abertura do bar? Guerra? Rompimento tetralateral? Rancor que vai para o túmulo?

É possível que ainda hoje o primeiro toque o caixa, o segundo pilote a cozinha, o terceiro atenda as mesas e o quarto fique em casa vendo TV. A harmonia fraternal é possível. Mas não é o mais frequente –em especial quando há a sociedade de um boteco no meio.

Que o digam os irmãos Pedro Anis e Marcos Benuthe, sócios da Mercearia São Pedro, uma instituição etílico-cultural da Vila Madalena.

A tragédia familiar tornou-se pública quando Marcos anunciou o fechamento da bodega, e Pedro o desdisse.

Nesta semana, um cliente filmou Marcos arrebentando na porrada as cadeiras e mesas do botequim, aos gritos. “Eu que abri este bar, e ele foi roubado de mim!” Pedro diz que foi a sétima vez que o irmão armou semelhante circo.

Não sei quem tem razão. Não sei se alguém tem razão. Não quero saber. É tudo triste demais.

A sociedade é o caminho mais curto para destruir amizades, casamentos e laços familiares. De novo: sei que há uniões societárias felizes e duradouras, mas não é a regra.

Bares e restaurantes são terreno fertilíssimo para semear a cizânia entre sócios.

Porque é o tipo de negócio que atrai gente com uma visão distorcida do tal do empreendedorismo. Fulano sonha em se libertar da vida besta que tem no escritório. Como? Montando um boteco.

Aí reúne um grupo de amigos para ajudá-lo a realizar o sonho. Para inteirar o investimento, põe também o irmão no negócio. Só gente que nunca ralou atrás de um balcão.

Para começar, cada um dos sócios cria um conceito mental para o bar. O que sai, concretamente, não é nenhuma dessas simulações. Ou, pior ainda, é o projeto pessoal de um dos sócios, que já se indispõe na largada com o resto.

Com o bar em funcionamento, desmorona o parque de diversões dos amigos/parentes. Todos querem receber clientes, conhecer pessoas, pagar de descolado, ser o rei da noite.

Ninguém quer saber do cano que estoura, das compras que chegam pela manhã, de correr atrás de um extra para cobrir falta de funcionário, de controlar as contas da birosca.

Dinheiro, como sabemos, é a raiz das brigas entre parceiros de negócio. Sempre tem aquele folgado que dá bebida para os amigos. Sempre tem aquele que “empresta” uma graninha do caixa para cobrir dívidas pessoais. Sempre tem aquele que trabalha mais que os outros e, portanto, se acha no direito de tirar um valor maior.

E sempre tem o álcool, que inflama discussões destemperadas.

Se você ama seus amigos e seus parentes, não faça como os quatro irmãos do Minhocão. Fique longe do bar.

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