Quem acompanha o noticiário político já deve ter ouvido o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) falar sobre o nióbio e suas maravilhas. O uso político não ajudou a levar esse metal a sério, mas agora surge uma parceria que pode mudar essa história. A VWCO (Volkswagen Ônibus e Caminhões) anunciou nesta quinta-feira (16) que o elemento será usado nas baterias de seus veículos elétricos.
A produção está a cargo da CBMM, sediada em Araxá (MG), que é líder mundial na produção e comercialização de produtos de nióbio. A empresa, desde os anos de 1960, tem como controlador a família Moreira Salles, que também é acionista de companhias como Alpargatas e Itaú Unibanco. Os Moreira Salles têm 70% da CBMM. Os chineses controlam 15%, e os outros 15% pertencem a um consórcio formado por japoneses e sul-coreanos.
“A vantagem está na recarga ultrarrápida, o tempo pode cair de quatro horas para seis minutos”, diz Roberto Cortes, presidente da VWCO. “E tempo de parada vale dinheiro.”
A VW foi a primeira empresa a fabricar um caminhão elétrico no Brasil, o eDelivery, lançado em julho. Apesar do preço alto em relação aos modelos a diesel de mesmo porte —a versão 4×2 com 110 quilômetros de autonomia parte de R$ 780 mil—, há fila de espera pelo modelo. A montadora pretende dobrar a produção assim que o fornecimento de componentes permitir.
Mas o uso do nióbio viabiliza um sonho maior da VWCO. As novas baterias serão utilizadas nos futuros ônibus elétricos da empresa.
“A aplicação inicial será nos ônibus, a ideia é usar um sistema parecido com o pantógrafo para recarga”, afirma Cortes.
Mas em vez de o equipamento permanecer ligado o tempo todo à rede elétrica, como ocorre nos trólebus, a conexão ocorrerá nos pontos finais de parada, onde as baterias do veículo serão reabastecidas.
A CBMM atua com produtos industrializados de nióbio, que não é um minério ou uma commodity. O elemento passa por diversos processos químicos e metalúrgicos até estar pronto para ser utilizado.
Segundo a empresa, o nióbio pode ser manufaturado a partir de minérios diversos, como pirocloro e columbita. O produto usado na bateria será o óxido de nióbio, com atuação complementar nas baterias de íon de lítio.
Ricardo Lima, vice-presidente da CBMM, explica que o metal substitui o anodo de carbono. Segundo o executivo, a troca elimina os riscos de superaquecimento e explosões, o que permite fazer recargas super-rápidas sem riscos.
Cortes diz que, embora a mudança encareça as baterias, a velocidade de reabastecimento vai reduzir a necessidade de um conjunto muito grande de baterias – o que por si só representará uma boa economia. Os veículos também ficarão mais leves, o que aumenta a capacidade de carga.
A tecnologia foi desenvolvida pela CBMM em parceria com a japonesa Toshiba. O primeiro protótipo começará a rodar em 2022 dentro da fábrica da VWCO, em Resende (RJ).
Lima diz que o nióbio não é um metal raro: há pelo menos 85 reservas conhecidas no mundo. A CBMM tem planos de expandir a operação para atender à indústria global. “Se pegarmos só as nossas reservas em Araxá, temos mais de 100 anos de vida útil.”
Hoje a empresa tem capacidade para produzir 150 mil toneladas de nióbio por ano, e a demanda estimada é de 120 mil toneladas em 2022. O elemento já é muito utilizado na siderurgia.
Uma das aplicações está na construção de carrocerias automotivas. Associado ao aço, o nióbio confere alta resistência com tenacidade, evitando que o componente seja partido ou deformado em caso de colisão, explica Lima.
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