O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a autoridade monetária fará o necessário para levar a inflação de 2022 à meta, mas que isso não significa "mudar plano de voo" a cada divulgação de dados.
Com isso, o titular do BC indicou que, mesmo após a inflação de agosto surpreender para cima, o Copom (Comitê de Política Monetária) deve seguir o sinalizado na próxima reunião, em 21 e 22 de setembro, e elevar a taxa básica de juros em 1 ponto percentual, a 6,25% ao ano.
"Temos um instrumento na mão que vai ser usado e entendemos que podemos levar a Selic até onde precisar ser levada para que tenhamos convergência da meta no horizonte relevante. Mas também gostaríamos de dizer que isso não significa que o BC vai reagir ou alterar o plano de voo a cada dado de alta frequência que sai", disse Campos Neto em evento promovido pelo BTG Pactual nesta terça-feira (14).
"Ou seja, algumas coisas a gente tem comunicado, já tinha antecipado, algumas coisas de disseminação [na inflação] estão um pouco piores de fato na ponta, mas temos um plano de voo que olha no horizonte mais longo. Isso não significa que não vamos atingir o objetivo de estabilizar a inflação, mas significa que não obrigatoriamente temos a necessidade de reagir a dados de alta frequência", completou.
Para 2021, há consenso no mercado e no BC de que a inflação deverá estourar a meta fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), de 3,75% —com 1,5 ponto percentual de tolerância para cima e para baixo.
Hoje, o Copom já mira a inflação de 2022 e 2023, no chamado horizonte relevante, para quando o comitê entende que a política monetária pode fazer efeito, com metas de 3,5% e 3,25%, respectivamente.
Na semana passada, foi divulgado o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de agosto, que alcançou a maior taxa para o mês em 21 anos, com 0,87% e encostou em dois dígitos no acumulado de 12 meses, com 9,68%. A alta veio acima das expectativas do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 0,71%.
Com a surpresa inflacionária, economistas revisaram para cima as expectativas para a escalada de preços para este ano e para o próximo. Segundo o relatório Focus do BC divulgado na segunda-feira (13), o mercado espera que a inflação chegue a 8% em 2021 e 4,03% em 2022.
É 23ª vez seguida que a pesquisa mostra uma alta da estimativa para a inflação em 2021.
Para fazer frente à pressão nos preços, os economistas consultados pelo BC projetam que a Selic deve fechar o ano a 8% ao ano.
No mês passado, o diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, afirmou que o Copom poderia acelerar ainda mais o ritmo de alta de juros, elevando a Selic acima de 1 ponto percentual a cada reunião, se o cenário piorasse, o que foi reforçado por Campos Neto posteriormente.
No evento do BTG, Campos Neto falou ainda sobre a dinâmica da inflação global atual, que se mostrou mais persistente que o esperado. Segundo ele, a tese entre banqueiros centrais mais otimistas era de que os preços de serviços, que caíram durante períodos de forte distanciamento social, voltassem mais lentamente após a reabertura porque são historicamente mais rígidos.
A teoria projetava ainda que os preços de bens se estabilizassem rapidamente.
"Isso não se mostra verdade. Não só não está melhorando como está piorando em alguns casos. É o caso de semicondutores [dos preços]. Esperava-se que fosse estabilizar em seis meses e agora, passados os seis meses, falamos em um ano", ressaltou.
Para o presidente do BC, os problemas nas cadeias produtivas, que interferem na oferta e elevam preços, não foram os principais responsáveis pela elevação da inflação, mas sim uma mudança estrutural que levou à elevação de demanda por alguns produtos.
No Brasil, Campos Neto destacou ainda a crise hídrica, que afeta diretamente o valor da energia elétrica.
Além disso, ele repetiu que o "pano de fundo" fiscal é melhor que o esperado e que ruídos se devem à percepção do mercado de que o governo quer elevar gastos com o novo Bolsa Família para as eleições de 2022.
O titular do BC ressaltou que o ruído deve diminuir quando o governo explicar como o programa será financiado e após "virar a página", os agentes econômicos devem enxergar os dados fiscais, que estão melhores, segundo ele.
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