Há tempos, desde que a vacinação contra a Covid dividiu o mundo —de um lado, governantes dispostos a proteger sua população; do outro, Jair Bolsonaro decidido a matar o maior número possível de pessoas—, comecei a me perguntar como seria quando Bolsonaro tivesse de fazer uma viagem internacional. Como os serviços diplomáticos relatam a seus superiores o que acontece nos países em que estão baseados, não era segredo para nenhum chefe de Estado que Bolsonaro não apenas se recusava a se vacinar como fazia tudo para o vírus grassar no Brasil.
Fiquei a imaginar potentados como a alemã Angela Merkel, o chinês Xi Jinping e o próprio russo Vladimir Putin, para não falar do papa Francisco, sendo obrigados a receber Bolsonaro. O protocolo da OMS já tornara obrigatório o uso de máscara e o roçar de cotovelos no lugar do aperto de mãos, e, diante da notória recusa de Bolsonaro a respeitar essas orientações, não seria surpresa se aqueles líderes sentissem nojo dele.
O ser humano tem uma tendência irreprimível a demonstrar repulsa ou medo na presença de alguém suspeito de uma doença contagiosa, e não há etiqueta diplomática que atenue isso. A prova de que o nojo a Bolsonaro é um fato está em que o único governante digno de nota com quem ele conseguiu falar em sua ida à Assembleia-Geral da ONU foi o britânico Boris Johnson, hoje um líder quase de segunda divisão.
E, para azar de Johnson, o homem cuja mão ele apertou trazia um infectado em sua comitiva.
Ao saber disso, todos os diplomatas e funcionários que estiveram a um metro de qualquer brasileiro no evento da ONU foram se submeter a exame. O Brasil passou a provocar asco planetário.
Para eles, esse Brasil somos nós. Não sabem que, aqui, estamos tentando fazer a nossa parte, nos vacinando em massa —e que também nos enojamos com esse Brasil que arrota pizza e arrogância e mostra seu sórdido dedo para o mundo.
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