Por causa da pandemia e do maior tempo gasto em casa, um imóvel maior é o sonho do momento, e fica ainda melhor se tiver vista para o mar.
Na Lopes, a procura por imóveis no litoral cresceu 331%. Na Imovelweb, a alta na categoria foi de 43%.
"Santos estava fora do turismo, todo mundo viajava para fora, as casas de temporada ficaram abandonadas. Agora mudou totalmente, conforme a pandemia chegou, faltou imóvel para alugar e tem casas que não ficaram mais vagas desde então", diz Carlos Meschini, diretor regional do Secovi-SP em Santos.
Regiões que eram anteriormente muito buscadas para segunda moradia, como a Riviera de São Lourenço, em Bertioga, explodiram.
"Em tempos normais, moravam 4.000 pessoas ali, que trabalhavam em Santos, São Paulo, no ABC. No começo de 2020 passou para 10 mil pessoas e agora estimamos que esteja em 15 mil", afirma Meschini. O mesmo é sentido no litoral norte do estado.
Em cidades como Praia Grande, Santos e Caraguatatuba, ainda há espaço para novos prédios. Já em Ubatuba, Ilhabela, São Sebastião e na Riviera, por exemplo, predominam os condomínios de casas, por causa das leis locais.
E não está fácil encontrar um lar com o pé na areia, porque as áreas mais próximas às praias já foram ocupadas ou estão muito caras.
O que se vê são lançamentos de condomínios de altíssimo padrão longe da praia, com campo de golfe e heliponto.
Os preços de imóveis no litoral norte aumentaram 30% desde 2020, mas vinham de um período de queda.
"Eles recuperaram valor", afirma Alfredo Freitas, diretor da Nova Freitas Negócios Imobiliários, que atua na região.
Hoje sócia de uma startup de realidade aumentada, Renata Soares Pereira, 48, presenciou esse aumento. Ela morava em um apartamento em Alphaville (Barueri) e decidiu mudar seu estilo de vida, inspirada pela pandemia.
Pereira foi passar 15 dias em uma casa no litoral norte de São Paulo, com os filhos, em maio de 2020. Eles voltaram, mas ela resolveu ficar. "Eu sabia que iria morar no litoral norte um dia, desacelerar o ritmo de trabalho, e a pandemia trouxe isso muito antes do que eu esperava", afirma.
Pereira alugou um imóvel em Camburi, praia de São Sebastião (SP), e levou seis meses para conseguir encontrar uma opção para comprar.
"A demanda aqui estourou, o preço foi para as cabeças e quem quer comprar está com muita dificuldade para encontrar. Vi imóvel quase dobrar de preço", afirma.
Ela alugou seu apartamento em Alphaville e comprou outro em Camburi com a metade da metragem, 54 m².
Pereira agora está reformando o imóvel para começar a viver no local, e não pretende voltar ao seu apartamento antigo.
Ela começa o dia fazendo ioga, pedalando ou surfando, e trabalha durante a tarde. "Percebi que consigo fazer meus negócios daqui, sem comprometer o desempenho, e que não preciso ter uma casa com milhões de coisas", diz.
Na Baixada Santista, o mercado imobiliário vinha de uma alta no número de lançamentos e o estoque por enquanto está dando conta do aumento da procura, aponta o diretor do Secovi local. Mas podem faltar imóveis novos no futuro se a onda migratória não se reverter.
"Nós prevemos que vai faltar produto em dois ou três anos, porque o medo dos incorporadores em lançar é real. É preciso tomar cuidado com o produto que vai entrar agora porque ele vai ser entregue em 2025, e não sabemos qual será a situação do mercado até lá", avalia Meschini.
O interior paulista também atrai quem percebeu que não precisa morar em uma metrópole para conseguir um bom trabalho. Na Imovelweb, a busca por imóveis no interior de São Paulo aumentou 42% de 2020 para cá. Na Lopes, a alta no segmento foi de 328%.
Cidades a até 100 km de São Paulo, entre elas Bragança Paulista, Sorocaba, Campinas, Atibaia, Indaiatuba e São José dos Campos, tiveram destaque na procura.
Em um cenário de trabalho híbrido, no qual o profissional poderá optar por ir ao escritório uma ou duas vezes na semana, elas se apresentam como alternativas viáveis para manter a residência fora da capital mesmo depois da pandemia.
Segundo os especialistas, a procura maior é por casas em condomínios fechados. "Ninguém quer se mudar para Sorocaba para morar em apartamento", diz Cyro Naufel, diretor institucional da Lopes. Na imobiliária, a busca pela cidade cresceu 220% entre fevereiro e novembro de 2020.
Freitas, que tem a sede da sua empresa em São José dos Campos, afirma que não há mais lotes disponíveis nos empreendimentos que foram lançados na cidade. "Os estoques estão zerados, mas vamos ter novos lançamentos ainda nos próximos meses para suprir essa demanda." Ele estima um aumento de 25% a 30% na procura por imóveis por lá, desde o início da pandemia.
"A realização de loteamentos fechados já era uma tendência no passado e agora virou uma necessidade dos empreendedores, porque a procura é muito grande", diz José Augusto Viana Neto, presidente do Creci-SP.
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