Fevereiro de 2022 está às portas e não será surpresa se adiarem o Carnaval para a comemoração do centenário da Semana de Arte Moderna, que se deu naquele mês de 1922. Não serei consultado, óbvio, mas, se fosse, diria por que não? Afinal, já em 1922 a Semana ignorou o Carnaval, embora estivesse a duas semanas dele. Foi pena, porque um dos modernismos no encasacado Municipal poderia ser a declamação da letra de “Ai Seu Mé”, marchinha de Careca e Freire Junior e sátira ao odiado presidente Arthur Bernardes. Pensando bem, isso não seria possível —exceto Di Cavalcanti, os modernistas eram governistas.
Que o centenário da Semana, pelo menos, promova a revalorização de alguns de seus protagonistas. O citado Di, por exemplo. Sem ele, carioca morando em São Paulo, não teria havido em 1917 a famosa exposição de pintura de Anita Malfatti. Foi Di o primeiro a conhecer Anita e a gostar de seus quadros. E foi quem a convenceu a expô-los, o que provocou o brutal ataque de Monteiro Lobato a Anita pelo jornal e congregou em torno dela os futuros modernistas.
Em 1921, foi também Di quem apresentou os rapazes a Graça Aranha, que, ao saber que eles planejavam um festival de arte moderna ou coisa assim, sugeriu-lhes procurar seu amigo rico Paulo Prado, para que ele bancasse a empreitada. Foi Di que Paulo Prado recebeu em seu salon e a quem garantiu que a elite de São Paulo prestigiaria o evento —já ali batizado por Marinete, Sra. Prado, de Semana de Arte Moderna.
O papel de Di Cavalcanti nessa história é pouco valorizado, talvez porque sua ideia de modernidade fosse diferente. Era o único ateu e comunista da turma. Oswald e Mario de Andrade eram carolas de acompanhar procissão, e Oswald, de família latifundiária urbana, quatrocentão orgulhoso e íntimo dos fazendeiros do café e políticos que dominavam o país com suas eleições fraudadas.
Mas, enfim, nem todos os modernistas eram modernos.
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