Após três anos aproveitando os preços favoráveis do etanol hidratado, os consumidores desse combustível vão viver um período de pressão no bolso nos próximos meses.
Seca, geada, queda de produtividade do canavial e consequente redução da produção de álcool colocaram os preços desse combustível desfavoráveis em relação aos da gasolina.
Atualmente, o valor do etanol corresponde a 78% do da gasolina. Pesquisas indicam que, para que o derivado de cana tenha vantagem econômica em relação ao custo da gasolina, essa margem tem de ficar próxima a 70%.
E as perspectivas para o retorno de uma paridade favorável do etanol, em relação à gasolina, não ocorrerá antes dos próximos seis meses.
O cenário de manutenção dos preços elevados do etanol, com a chegada da entressafra, e da gasolina, devido aos custos internacionais do petróleo, vai apertar ainda mais a renda do consumidor e pressionar a inflação.
O consumidor será o fiel da balança na demanda por etanol nos próximos meses. Há os que utilizam o combustível por uma questão de preservação do meio ambiente, e há os que, com renda menor, ainda optam pelo produto devido ao seu custo na bomba.
O litro de gasolina chega a valer R$ 1,50 a mais do que o do etanol nos postos de abastecimento. Devido ao rendimento energético menor do derivado da cana, porém, os usuários voltam com mais frequência às bombas, e o ganho é apenas ilusório.
Com as adversidades climáticas deste ano e com a perda de produtividade da cana, a colheita, que em geral avança até dezembro, deverá terminar já em outubro.
Com isso, a entressafra da cana vai ter um período mais longo, e, consequentemente, os preços do etanol ficarão elevados por um tempo maior. A próxima safra só terá início oficialmente em abril. Algumas usinas, dependendo o ano, antecipam a colheita para março.
Os números da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) da colheita deste ano apontam o recuo da produção. Iniciada em abril, a moagem acumulada de cana da safra 2021/22 ficou em apenas 393 milhões de toneladas até o início deste mês, com recuo de 6% em relação a igual período do ano passado.
A produção total de etanol caiu para 18,6 bilhões de litros, com queda de 2,2%. A oferta de etanol hidratado, no entanto, aquele que vai diretamente no tanque dos veículos, teve retração de 15%.
Já a produção do etanol anidro, em menor volume e o que vai misturado à gasolina, teve alta de 27% na oferta. Antonio de Padua Rodrigues, diretor da Unica, afirma que as usinas têm estoques suficientes para etanol anidro até a próxima safra.
Já o mercado de hidratado será definido pelo consumidor, segundo Padua. Com safra mais curta e produção menor, só uma redução da demanda poderá dar equilíbrio ao setor, e esse equilíbrio será feito via preços. “O consumidor é que vai regular o mercado”, diz ele.
As diferenças de preços do etanol são bastante acentuadas entre uma cidade e outra. A pesquisa da ANP (Associação Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) detectou valor para o etanol hidratado em até R$ 5,80 por litro em Indaiatuba (SP), preço bem distante da média de R$ 4,495 na capital paulista.
Padua diz que os preços que saem das usinas são apontados pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Logística, carga tributária, margens das distribuidora e dos postos vão determinar o restante dos valores.
A oferta de etanol hidratado só não piora porque o Brasil deverá reduzir em 1 bilhão de litros as exportações deste ano. Em 2020 atingiram 2,65 bilhões. Neste, deverão somar 1,55 bilhão.
O país tem também um crescimento exponencial na produção de etanol vindo do milho. Em 2021, a produção deverá atingir 3,35 bilhões de litros, e já soma 10% do volume de etanol de cana.
Exportações menores em 1 bilhão de litros e oferta maior de 800 milhões de etanol de milho, garantirão um extra de 1,8 bilhão para esta safra.
A pesquisa mais recente da ANP indicou que a média nacional dos preços da gasolina é de R$ 6,076 por litro. Em algumas regiões já atinge R$ 7,199.
Já o etanol tem valor médio nacional de R$ 4,704, mas com picos de até R$ 7 por litro. No caso do diesel, a média nacional é de 4,709 por litro, com valores de até 6,480 em algumas cidades.
Dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) mostram que a paridade do etanol, em relação à gasolina, esteve próxima de 70%, ou até bem abaixo desse percentual, do início de 2018 aos primeiros meses deste ano na cidade de São Paulo.
Neste mês, a paridade é de 78%. Em setembro de 2018, estava em 60% e, nos mesmos meses dos dois anos seguintes, esteve em 65%.
Nenhum comentário:
Postar um comentário