terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Corinthians celebra 25 anos do Mundial e luta para recuperar relevância internacional, FSP

 Marcos Guedes

São Paulo

final do Mundial de Clubes de 2000 teve um coro quase ininterrupto, entoado pelos cerca de 25 mil corintianos presentes no Maracanã. "Ô, ô, ô, todo-poderoso Timão", cantou o bando, apoio vital para um time brilhante, mas extremamente desgastado.

Vampeta, Ricardinho e Edílson, figuras importantes na campanha, não suportaram os 120 minutos de duelo sem gols com o Vasco, no Rio de Janeiro. Substituídos, viram de fora o triunfo por 4 a 3 nos pênaltis, ápice do Corinthians do fim do século 20, também campeão brasileiro em 1998 e 1999.

Marcelinho era o grande jogador daquele Corinthians - Dan Chung - 14.jan.00/Reuters

Daquele 14 de janeiro para cá, o time conquistou sete Campeonatos Paulistas, duas Copas do Brasil e quatro Campeonatos Brasileiros. Obteve também o sonhado título da Copa Libertadores, em 2012, seguido do bi mundial e do triunfo na Recopa Sul-Americana.

Os últimos anos, porém, não têm sido fáceis para aqueles que se habituaram a gritar "todo-poderoso Timão". Eles não berram "é campeão" desde 2019, um jejum de seis anos que já é o maior do período de seca, entre os Paulistas de 1954 e 1977. Internacionalmente, a equipe não chegou nem perto de nenhum troféu depois da Recopa de 2013.

Cheio de problemas administrativos, com uma dívida declarada de R$ 2,4 bilhões, o Corinthians se acostumou a lutar contra o rebaixamento no Brasileiro. Foi o que ocorreu novamente em 2024, até que ocorresse uma surpreendente arrancada, com nove vitórias nas últimas nove rodadas. O alvinegro pulou da 18ª para a sétima colocação e obteve uma vaga na fase preliminar da Libertadores.

Memphis Depay teve identificação rápida com a torcida - Carla Carniel - 21.set.24/Reuters

Os problemas administrativos estão muito longe de acabar –basta observar que o clube atrasou os salários de dezembro e que o presidente Augusto Melo encara dois processos de impeachment, por "gestão temerária". Mas o término positivo do ano em campo e a vaga na principal competição sul-americana levaram os torcedores a sonhar novamente com um time internacionalmente relevante.

O interesse estrangeiro na equipe cresceu bastante com a midiática contratação em setembro do atacante holandês Memphis Depay, de 30 anos, nome conhecido do futebol europeu. Ele de cara soube lidar com a torcida, correspondeu em campo (foram sete gols e quatro assistências em 14 jogos) e ajudou dois jogadores a subir bastante de produção, o meia argentino Rodrigo Garro e o atacante Yuri Alberto.

Como não ocorria havia bastante tempo, o corintiano começou o ano demonstrando otimismo, que poderá ou não ser justificado. Antes de pôr a confiança à prova, ele celebra os 25 anos do dia em que foi todo-poderoso.

"Todo-poderoso Timão" foi canto eternizado em 2000 - Jorge Araújo - 14.jan.00/Folhapress

"Foi o melhor time em que joguei em toda a minha vida", resumiu o ex-zagueiro Fábio Luciano. Ele havia acabado de chegar da Ponte Preta, ainda um jovem de 24 anos, e não tinha o desgaste de seus companheiros, campeões brasileiros em 22 de dezembro de 1999, em decisão contra o Atlético Mineiro.

"A gente tinha acabado de disputar o Brasileiro até o final, sem descansar, e a caminhada antes da decisão foi dura", afirmou o capitão Rincón, que morreu em 2022, em acidente de carro. "Por isso, o jogo contra o Vasco foi tão difícil. O time deles estava descansado e contava com muitos jogadores de qualidade: Romário, Edmundo, Juninho Pernambucano, Felipe..."

O Corinthians estava no Grupo A daquele Mundial, o primeiro organizado pela Fifa (Federação Internacional de Futebol). Campeão nacional também em 1998, o time entrou na disputa como o representante do país-sede. Já o Vasco ganhou sua vaga como campeão da Copa Libertadores de 1998. O critério confuso gerou reclamações do Palmeiras, que conquistou a Libertadores em 1999.

A disputa foi dividida ente São Paulo e Rio de Janeiro. Na capital paulista, no estádio do Morumbi, o Corinthians venceu o Raja Casablanca por 2 a 0, empatou com o Real Madrid por 2 a 2 e derrotou o Al Nassr por 2 a 0, avançando como primeiro do grupo, no saldo de gols, à decisão.

No Maracanã, no Rio, o Vasco fez 2 a 0 no South Melbourne, triunfou sobre o Manchester United por 3 a 1 e superou o Necaxa por 2 a 1. E foi à final, também no Maracanã, um jogo truncado que ficou no 0 a 0 até o fim da prorrogação.

Nos pênaltis, Rincón, Fernando Baiano, Luizão e Edu marcaram para o Corinthians. Marcelinho parou no goleiro Helton, mas o erro não custou o título. Pelo Vasco, balançaram a rede Romário, Alex Oliveira e Viola. Gilberto teve sua cobrança defendida por Dida. E Edmundo chutou para fora a última bola do campeonato.

Edmundo lamenta a falha no último lance do Mundial - Antônio Gaudério - 14.jan.00/Folhapress

Resoluções para o ano novo geralmente são na verdade mandamentos tresloucados, FSP

 Janeiro já está em sua segunda semana e noto, sem surpresa, que muitas publicações continuam em seu modo de férias.

Essas férias começam em meados de dezembro, quando se enchem páginas com os "balanços" do ano. Você conhece: fatos relevantes, personalidades relevantes, figuras relevantes de 2024.

Depois, quando o ano termina e um novo começa, é só virar o disco e publicar as "previsões". O mesmo cardápio: fatos relevantes, personalidades relevantes, desastres hipotéticos para 2025.

Mas existe uma terceira moda que tem crescido de ano para ano, prolongando a hibernação geral: a moda das "resoluções".

Em que consiste essa doença?

São conselhos muito sábios, e muito dementes, para que os leitores possam "crescer" (espiritualmente) e "enriquecer" (materialmente). É como se as redações, depois de esgotarem os seus arquivos, assaltassem os manuais de autoajuda enquanto a ressaca das festas não passa de vez.

Nos últimos tempos, tenho colecionado as recomendações mais comuns, que podem ser facilmente agrupadas em sete mandamentos tresloucados. Confira.

Mãos de um homem segurando uma garrafa de espumante prestes a estourar
Ilustração de Angelo Abu para coluna de João Pereira Coutinho - 14 de janeiro de 2025 - Angelo Abu/Folhapress

1. "Aprenda a dizer ‘não’ mais vezes." Pelo visto, o pessoal diz sim a tudo com uma gentileza servil. Mas quem é o pessoal? Se você faz parte de uma classe afluente e ociosa, tudo bem. Dizer não é um luxo a que se pode permitir. Se você tem de penar para pagar boletos e não sabe o dia de amanhã, a recusa pode ser a diferença entre o jantar e a fome.

2. "Desistir não é uma opção." Lembro sempre esse conselho quando penso no pintor Paul Gauguin. Se ele não tivesse desistido da sua carreira de corretor da Bolsa, teria sido um dos melhores especuladores da sua geração. O mesmo é válido para o compositor Hector Berlioz —poderia ter sido um grande médico—, o escritor James Joyce —um grande professor— ou o ator Harrison Ford —um talentoso carpinteiro.

Uma hipótese alternativa para isso: saber desistir, e quando desistir, é tão importante como saber insistir, e quando insistir.

3. "Viva cada dia como se fosse o último." Aliás, esse é o caminho mais rápido para a depressão (primeira hipótese) ou para a euforia patológica (segunda). Como seres temporais, sabemos que vamos morrer. Mas, para nos protegermos, vivermos, amarmos, fazermos planos, temos de cultivar uma ilusão de imortalidade. O fim tangível dessa ilusão leva qualquer um ao desespero —ou, então, à ruína festiva e ao descontrole emocional maior.

Quando isso acontece, descobrimos amargamente que só há uma coisa pior do que ter vivido o último dia de nossas vidas. É concluir, na cadeia ou no manicômio, que afinal não era o último dia.

(Há uma variação desse mandamento no sentido oposto: "Viva um dia de cada vez". Não sabia que era possível viver dois ou três dias ao mesmo tempo, mas estamos sempre aprendendo.)

4. "Siga a sua paixão e o dinheiro virá." Sem dúvida. Se as suas paixões incluírem o tráfico de droga, o proxenetismo e a criação de seitas religiosas. São negócios que podem acabar mal, mas dificilmente não geram bons lucros.

Para os restantes, a paixão pode não bastar quando não vem acompanhada por estudo, trabalho, dedicação —e, claro, um tanto de uma sensibilidade particular à sorte (ou à falta dela).

De resto, a ideia romântica de que a paixão antecede a profissão talvez não se verifique em todos os casos. Há profissões inusitadas que levam a paixões inusitadas —ou, pelo menos, a paixões que nunca teriam sido descobertas se nunca tivessem sido tentadas.

5. "Antes de amar alguém, aprenda a amar a si mesmo." Claro que, no limite, esse pode ser um amor não correspondido. Você acredita que, na sua essência, é uma pessoa bondosa, honesta, generosa e criativa, digna de ser amada —quando, na realidade, você é cruel, dissimulado, egoísta e boçal, um castigo para qualquer pessoa que cruze o caminho.

Antes de "aprender a amar a si mesmo", verifique primeiro se a idealização corresponde à realidade. Às vezes podemos não estar falando da mesma pessoa.

6. "Não tenha medo de sair da sua zona de conforto." Se estivermos a falar da conhecida síndrome de Estocolmo, em que as vítimas de sequestro ou violência se sentem confortáveis com os seus sequestradores ou agressores, essa resolução faz algum sentido.

7. "A única pessoa que pode parar você é você mesmo." Mas também um infarto, um acidente vascular cerebral, mutações celulares que dão errado, um caminhão sem freio, um raio intempestivo atraído pelo seu piercing —ou, menos tragicamente, a inveja, a estupidez e a maldade de terceiros. Não somos apenas o que queremos ser, mas o que podemos ser. Acreditar na nossa absoluta autossuficiência é uma receita para a infelicidade.

Gabriel Rostey Dezoito anos da Lei Cidade Limpa: por acaso ela foi revogada?, FSP

 Gabriel Rostey

Criador do podcast Conversas Urbanas, é consultor em política urbana, patrimônio cultural e turismo, ex-membro do Conselho Municipal de Política Urbana de São Paulo e ex-secretário-geral da Associação Preserva São Paulo

Em vigor desde o início de 2007, a Lei Cidade Limpa ordenou o caos visual paulistano e foi sucesso de público e crítica: aprovada por 68% da população em pesquisa Datafolha de 2013, também recebeu diversos prêmios internacionais.

Ainda assim, todas as gestões que sucederam à de Gilberto Kassab (PSD), autora da medida, não zelaram por essa conquista: a aplicação de multas por infração despencou ano a ano a ponto de hoje ser praticamente uma opção respeitá-la.

Além dessa virtual suspensão de fiscalização, o jornal Agora São Paulo revelou em 2018 que apenas 18% das multas aplicadas eram efetivamente pagas. Por fim, o valor de R$ 10 mil, em vigor desde 2007, jamais foi reajustado, o que diminui muito a dor no bolso do infrator: corrigida pelo IPCA, a multa aplicada há 18 anos equivaleria a quase R$ 35 mil atualmente.

Quando vemos o rigor na fiscalização da Zona Azul, pensamos o que justifica a prefeitura não aplicar multas fundamentais para uma política tão relevante e cujo valor ainda iria para seus cofres? Além da poluição visual, a inação municipal dá margem à corrupção de fiscais, que podem cobrar para garantir vistas grossas aos infratores. O resultado da quebra de harmonia é o atual efeito cascata, no qual o estabelecimento que respeita a lei fica escondido, eclipsado pelo vizinho infrator, até que decide desrespeitá-la e superar o "concorrente" nessa disputa selvagem por atenção, sem que sofra qualquer punição.

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Loja de baterias que desrespeita a Lei Cidade Limpa - Zanone Fraissat - 6.jul.23/Folhapress


Pouco se nota que o objetivo da lei não é meramente estético, já que o controle da publicidade externa é basilar para outras políticas. Se a prefeitura quiser instalar novos banheiros públicos nas ruas, isso poderá ser feito sem custos, com investimento privado de um licitante que em troca explorará anúncios no mobiliário urbano. Só que na atual terra de ninguém, com qualquer um anunciando o que quiser em qualquer lugar, essa viabilidade econômica é perdida.

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Inviabiliza também a publicidade em telas de restauração de bens tombados, que ajudaria a financiar as obras.

Com o acúmulo de abusos ao longo dos anos, novas barreiras são quebradas: inicialmente, foi o tamanho da identificação dos estabelecimentos; depois, a colocação de cavaletes nas calçadas e lambe-lambe nos muros; veio então a cobertura de fachadas inteiras com chapas de alumínio; agora pipocam anúncios de terceiros, como marcas de refrigerantes em bares, padarias e bancas de jornal.

A lei nunca foi desfigurada ou teve seu texto alterado. A cada proposta de mudança formal, a reação da opinião pública provoca recuos. Mas a Cidade Limpa está sendo morta por um deliberado abandono prático.

Em tempos nos quais tanto se fala em defesa da democracia, fazer valer uma lei em vigor, proposta pelo Executivo e aprovada pelo Legislativo, também é compromisso com o Estado democrático de Direito. Ou por acaso a lei foi revogada?

Em dezembro, a prefeitura publicou portaria para criar o Plano de Ordenamento e Proteção da Paisagem, que seria promissor. Porém como esperar seu sucesso sem respeito sequer à Cidade Limpa? Hoje o que impera é o retrocesso de fachadas que tinham sido reveladas pela lei —antes sufocadas por outdoors— sendo pouco a pouco cobertas novamente.