terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Secretariado de Ricardo Nunes combina forasteiros e comissionados de carreira, FSP

 Demétrio Vecchioli

São Paulo

Em seu segundo mandato como prefeito de São PauloRicardo Nunes (MDB) montou um secretariado que mescla políticos de cidades próximas que ficaram sem cargos eletivos em seus domicílios eleitorais e pessoas que há anos pulam entre cargos comissionados na prefeitura e no governo do estado.

O primeiro escalão municipal tem quatro ex-prefeitos que encerraram seus mandatos no último dia 31 de dezembro e 14 políticos que já haviam sido secretários de outras pastas.

É o caso de Eliana Maria das Dores Gomes, nova secretária de Assistência e Desenvolvimento Social, que já havia sido secretária interina na Habitação e no Urbanismo e Licenciamento. Também trabalhou no gabinete de Nunes e no comando do Serviço Funerário, à época da concessão do serviço. Fechou 2024 na Prodam, empresa municipal de tecnologia da informação e comunicação.

Ricardo Nunes (à esq.) durante reunião com secretários e chefes de órgãos públicos
Ricardo Nunes (à esq.) durante reunião com secretários e chefes de órgãos públicos - Tulio Kruse/Folhapress

A prefeitura disse à Folha que a equipe de secretários municipais representa um governo de frente ampla, plural e democrático, aprovado pelas urnas na eleição municipal. "A escolha de cada integrante atendeu a critérios como aptidão, capacidade técnica e reconhecimento profissional."

Dos 33 nomes anunciados, entre secretários e secretários-executivos, 13 foram mantidos e outros 13 chegam agora à prefeitura.

Outros sete foram realocados das pastas que comandavam no ano passado, como Gilmar Miranda, que pulou de Mobilidade Urbana e Transporte para a Secretaria Executiva de Mobilidade e Trânsito.

Candidato derrotado a deputado federal em 2018 pelo PSDB, o novo secretário das Subprefeituras, Fabrício Cobra, está completando dez anos em cargos do tipo. Ele foi secretário de Turismo no estado, subprefeito da Vila Mariana, adjunto na Gestão e, desde 2022, era secretário da Casa Civil na prefeitura.

Para o lugar dele, na Casa Civil, Nunes nomeou Enrico Misasi, ex-secretário-executivo de Relações Institucionais da prefeitura. Misasi também é o primeiro suplemente da bancada de cinco deputados federais do MDB. Ele foi deputado na legislatura passada e preside o partido na cidade.

O secretariado de Nunes conta com quatro políticos com mandatos legislativos, que se afastaram dos cargos para os quais foram eleitos. Dois são vereadores: Rodrigo Goulart (PSD), secretário de Desenvolvimento Econômico e Habitação, e Sidney Cruz (MDB), de Habitação. Ficam na Câmara Municipal o ex-secretário municipal no Esporte e na Assistência Social Carlos Bezerra Jr. (PSD) e o veterano Paulo Frange (MDB), em oitavo mandato.

O deputado estadual Rui Alves (Republicanos), pastor evangélico, segue no Turismo, abrindo cadeira na Alesp para o policial federal Danilo Campetti, aliado próximo Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Milton Vieira (Republicanos), deputado federal licenciado, foi trocado da Habitação para a Inovação e Tecnologia. A movimentação mantém Ely Santos (Republicanos) como deputada federal. Ela é irmã de Ney Santos, ex-prefeito de Embu das Artes, acusado de elo com o PCC.

No caminho contrário, Felipe Becari (União), que era secretário de Esporte, volta ao seu mandato na Câmara dos Deputados depois de ajudar a eleger vereador o marido da deputada federal Renata Abreu, Gabriel Abreu (Podemos).

A pasta volta a ser comandada por um filiado do Podemos, Rogério Lins, prefeito de Osasco por dois mandatos e, antes, vereador. Ele chegou a ser preso antes de tomar posse na prefeitura, em 2016.

Com Lins, são três os ex-prefeitos que se tornaram secretários no segundo mandato de Nunes. Ex-prefeito de Suzano, Rodrigo Ashiuchi (PL) assumiu o Verde e Meio Ambiente, enquanto Luiz Fernando Machado (PL), que deixou a Prefeitura de Jundiaí, será secretário de Desestatização e Parcerias a partir do fim do mês.

Orlando Morando, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e marido da deputada estadual Carla Morando (PSDB), comanda a Segurança Urbana. Em dezembro, ele deixou o PSDB depois de 20 anos na legenda e, hoje, é disputado por MDB e União.

Na Cultura, o novo secretário é Totó Parente, ex-vereador de Cuiabá (MT), que também foi assessor de Lindbergh Farias (PT) na Prefeitura de Nova Iguaçu (RJ).

Outros políticos de primeiro escalão na gestão Nunes também são de fora da cidade, casos de Cacá Viana (Podemos), ex-secretário de Educação de Diadema e de Esporte em São Paulo, agora adjunto na Habitação, e Silvia Grecco, que segue na Secretaria da Pessoa com Deficiência. Ela foi secretária de Assistência Social de Mauá por quase uma década.

Além dela, 12 secretários seguem onde estavam, incluindo Fernando Padula (Educação), Luiz Felipe Arellano (Fazenda), Marcela Arruda Nunes (Gestão), Edson Aparecido (Governo Municipal), Luiz Carlos Zamarco (Saúde) e Bete França (Urbanismo), todos em cargos estratégicos.

Entre as novidades estão o jornalista Fábio Portela, na Comunicação, Angela Granda (ex-secretária nacional da Família do governo Jair Bolsonaro), em Relações Internacionais, e Celso Caldeira, em Mobilidade e Trânsito. Luciana Sant'ana Nardi havia sido anunciada em novembro como nova procuradora-geral.

Erramos: o texto foi alterado

O que esperar da relação entre governo Trump e setor de tecnologia, Álvaro Machado Dias, FSP

 O Vale do Silício surgiu no pós-guerra, enquanto os tecnologistas que construíram impérios a partir de garagens, dando fama à região, apareceram em sua segunda geração. Seu principal representante foi David Packard, conhecido apoiador dos republicanos.


A virada ao liberalismo sociocultural só se consolidou décadas depois, com as redes sociais, o que se explica (1) porque o discurso da inclusão e multiplicidade cultural é o mais alinhado à ambição de ter o planeta inteiro como cliente e (2) porque a produção no Vale depende da contínua atração de talentos técnicos do exterior, briga que Musk sintomaticamente comprou com o establishment republicano.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, conversa com Elon Musk - Brandon Bell - 19.nov.24/Pool via Reuters

Sob Biden, esses princípios serviram de base para medidas impopulares entre os empresários e fundos, e.g., responsabilização das plataformas, fortalecimento dos sindicatos, ações antitruste e regulação da IA e das criptomoedas, levando a uma mudança de ventos que já podia ser sentida nas respostas dos grandes doadores (e gestores de fundos) aos protestos contra Israel nas universidades americanas no final de 2023, vistos como degeneração ideológica forjada pelo wokismo digital. Esse é o pano de fundo para o reposicionamento da Meta, o qual inclui mudanças no conselho gestor.

O mais sagaz entre os ex-apoiadores dos democratas a mudar de trem foi Elon Musk, que fez um dos melhores negócios da vida comprando o Twitter e usando figuras como Alexandre de Moraes de escada para cavar sua inserção na política, a qual lembra a dos magnatas do petróleo do início do século 20. Musk investiu U$44 bilhões na compra da rede e algumas centenas de milhões na campanha de Trump. Uma semana após a eleição, já estava U$70 bilhões mais rico. Contexto não falta. J.D. Vance, o vice-presidente eleito, é ex-gestor de fundos de tecnologia e próximo da máfia do Paypal —turma de onde veio Musk e que tem como ideólogo principal Peter Thiel, dono da fabricante de softwares militares Palantir.

A conjuntura dá pistas sobre o que esperar para o setor de tech no governo Trump. Considerar esses pontos é importante para se preparar para os debates vindouros e, sobretudo, para ajustar a rota de políticas estratégicas como o PL da IA.

I. Assim como o petróleo fundamentou o expansionismo americano há um século, a inteligência artificial e seus processadores serão a base sob a liderança de Trump. A IA será tratada por Washington como infraestrutura planetária, na linha da telefonia e da internet, com seus cabos submarinos.

II. O uso do X como referência para políticas digitais irá muito além da Meta. A briga oficial é com a China, mas a tensão com a Europa deve crescer.

III. Políticas antitruste terão efeito mitigado e a responsabilização das plataformas deve ser reduzida. Esses pontos darão suporte continuado ao M&A do governo com o setor.

IV. Armas autônomas terão lugar especial no orçamento governamental. Palantir e outras estão formando um convênio para abocanhar esses contratos.

V. Tecnologias espaciais irão avançar, na linha do programa Guerra nas Estrelas de Ronald Reagan. Há uma pequena chance de Musk convencer Trump a investir na criação das bases para uma futura colonização de Marte.

VI. Produtos financeiros baseados em criptomoedas devem proliferar. Novos golpes digitais vêm aí.