quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Aeris: Credores devem rejeitar mais prazo para pagamento, FSP

 Stéfanie Rigamonti

São Paulo

Credores da Aeris Energy, empresa brasileira de pás eólicas, sinalizaram aos donos da companhia que recusarão a proposta de adiamento do pagamento das debêntures (títulos de dívida) por eles adquiridas na assembleia marcada para esta quarta (8).

A fabricante brasileira abriu o capital na B3 em 2020 em meio a um período de expansão da indústria, mas mergulhou em período de crise, acumulando uma dívida bruta de R$ 1,4 bilhão no terceiro trimestre de 2024.

Turbinas eólica na zona rural de Caetés, Pernambuco
Turbinas eólica na zona rural de Caetés, Pernambuco - Bruno Santos - 22.out.2024/Folhapress

Desse total, 70% são com emissões de debêntures. Houve duas emissões de papéis ao mercado. A renegociação dessa dívida era essencial para uma tomada de decisão de seus controladores.

Consultada, a Aeris disse que não vai comentar.

Na mira dos chineses

Recentemente, a empresa chinesa Sinoma fez uma oferta de aquisição da brasileira. O Painel S.A. apurou que companhia ofereceu cerca de R$ 20 por ação da Aeris, hoje cotada a R$ 7.

Uma aquisição é uma das saídas estudadas pela companhia, que, no fim de 2024, passou por períodos de ociosidade em suas unidades fabris, um problema frequente em empresas do setor.

Em meados de 2024, a companhia chegou a demitir 1.500 funcionários que trabalhavam em Pecém, no Ceará, por falta de demanda de suas pás eólicas.

A proposta da Sinoma é para fazer uma OPA (Oferta Pública de Aquisição de Ações), o que levaria a uma saída da Aeris da Bolsa.

Negócio familiar

Hoje, 37,1% do capital social da Aeris é da família Negrão, que também possui outros negócios. O patriarca da família era o empresário e piloto Alexandre Negrão, que morreu em 2023 vítima de um câncer.

Ele foi CEO da companhia. Em 1997, ele já tinha fundado a farmacêutica Medley, uma das maiores do setor no país, vendida em 2009 para o grupo francês Sanofi.

Quem assumiu a função de presidente da Aeris após a morte do empresário foi seu filho, o também piloto e executivo Alexandre Sarnes Negrão, que está no posto até hoje. Ele foi casado com a atriz Marina Ruy Barbosade quem se divorciou em 2021.

BNDES aprova R$ 1 bilhão para Raízen produzir etanol de 2ª geração, FSP

 Leonardo Vieceli

Rio de Janeiro

BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) anuncia nesta quarta-feira (8) a aprovação de financiamento de R$ 1 bilhão para a Raízen.

Conforme o banco, a quantia é destinada à construção de uma unidade de etanol de segunda geração, o E2G, no município paulista de Andradina (a cerca de 630 km de São Paulo). A capacidade instalada de produção, diz o BNDES, será de até 82 milhões de litros por ano.

O E2G é um biocombustível considerado mais eficiente e sustentável do que o etanol de primeira geração. É produzido a partir do reaproveitamento de resíduos gerados na produção do etanol comum e do açúcar.

Imagem mostra planta industrial da Raízen em Guariba (SP), onde se produz etanol de segunda geração
Planta industrial da Raízen em Guariba (SP), onde se produz etanol de segunda geração - Marcelo Toledo - 25.jul.24/Folhapress

Segundo o BNDES, o financiamento terá recursos do programa BNDES Mais Inovação (R$ 500 milhões) e do Fundo Clima (R$ 500 milhões), que é gerido pela instituição financeira. As taxas de juros e os prazos de pagamento não foram detalhados.

A planta será uma das seis previstas pela Raízen no país (em construção, comissionamento ou operação) para atingir a viabilidade econômica do E2G até 2028.

"Ao todo, o projeto da Raízen prevê investimentos de aproximadamente R$ 1,4 bilhão e a geração de mais de 1.500 empregos diretos, durante a fase de construção, e 200 durante a operação, por planta", declara o BNDES.

A fabricação do E2G ainda é incipiente no mundo. Representa menos de 1% da produção de etanol no Brasil, diz o banco.

"O apoio do BNDES para a construção de uma unidade de etanol avançado vai contribuir para a expansão da fronteira tecnológica brasileira, além de atrair mais investimentos para a cadeia de fornecedores de insumos, máquinas e equipamentos", afirma em nota o presidente da instituição financeira, Aloizio Mercadante.

Nesse sentido, ele ainda diz que o banco dispõe de "instrumentos fundamentais", como o Fundo Clima, que apoia projetos de descarbonização, e o programa Mais Inovação, que prevê auxílio ao desenvolvimento de tecnologias consideradas disruptivas.

O governo Lula (PT) defende uma atuação fortalecida do BNDES como financiador de investimentos em diferentes setores da economia. A posição, contudo, é vista com ressalvas por uma ala de analistas que teme um inchaço do banco.

A direção da instituição já rebateu as críticas em diferentes ocasiões, dizendo que mira em áreas estratégicas, como transição energética e inovação.

Também em nota, o diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, José Luis Gordon, avalia que o aumento da produção de E2G contribuirá para fortalecer a posição do país entre os "principais produtores potenciais de novos biocombustíveis".

"Apenas para SAF [combustível sustentável de aviação] e combustível marítimo, a demanda mapeada pelo BNDES para investimentos é da ordem de R$ 167 bilhões. São investimentos que garantirão a expansão da fronteira tecnológica brasileira", afirma o diretor.

A Raízen foi criada em 2011, a partir de uma joint venture (união de empresas) entre a Cosan e a Shell.

Suas atividades incluem cultivo de cana-de-açúcar, produção de açúcar e etanol, cogeração de energia, logística, transporte e distribuição de combustíveis. A companhia emprega cerca de 45 mil funcionários.

O que ela queria ser quando crescesse, Ruy Castro, FSP

 Há 49 anos, em janeiro de 1976, a repórter de uma revista perguntou a Fernanda Torres, filha de Fernanda Montenegro e Fernando Torres: "O que você quer ser quando crescer?". A pergunta fazia sentido: Fernanda tinha 10 anos.


"As meninas da minha idade querem trabalhar na televisão, porque acham bonito. Eu não", ela respondeu. "Eu gosto mesmo é de teatro, e sei muito bem como é. Assisto sempre aos ensaios da mamãe, fico um tempão vendo todo mundo decorando os papéis. E nunca me chateio. Também faço teatrinho no colégio, nas aulas de criatividade. Mas não gosto de teatro infantil, por isso só vou ser atriz quando crescer."

A repórter era Christina Lyra e a revista era a Domingo, a primeira semanal colorida em formato revista a circular dentro de um jornal no Brasil, no caso o Jornal do Brasil. A pergunta surgira na primeira reunião de criação da revista, que começaria a circular dali a três meses. Dessa reunião, quase uns sobre os outros na minúscula salinha que nos fora destinada pelo jornal, faziam parte o diretor Isaac Piltcher, os redatores Marcos Santarrita e Sergio Ryff, as repórteres Cleusa Maria e Christina Lyra e o editor-executivo, por acaso eu.

Um de nós teve a ideia de fazer aquela pergunta a algumas crianças, ideia certamente roubada da americana Esquire, nossa secreta inspiração. Tudo bem, mas quais? Horas depois, decidimos pelos filhos ou netos de gente conhecida —Zagallo, Marcia Kubitschek, Chico Anysio, o senador Gustavo Capanema e os queridos Fernandos. O pulo do gato era fazer a mesma pergunta a um menino de comunidade, filho de um trabalhador anônimo. Christina foi a repórter destacada para conversar com as crianças. A matéria saiu no nº 1 da Domingo, com data de 11 de abril.

Não sei se os outros fizeram jus às suas aspirações. Fernanda Torres, grande vencedora do Globo de Ouro, sim. E com o detalhe de um espantoso requinte. À pergunta de Christina sobre se gostava também de cinema, disse "Claro!" e acrescentou: "Sabe, eu adoro filme de mistério e espionagem." Bem, quer mais mistério e espionagem do que em "Ainda Estou Aqui"?

Reportagem com Fernanda Torres (esquerda) no no. 1 da revista Domingo, do Jornal do Brasil, em 1976
Reportagem com Fernanda Torres (esquerda) no no. 1 da revista Domingo, do Jornal do Brasil, em 1976 - Reprodução