segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Showmício da violência, Alvaro Costa e Silva, FSP

 Em outubro de 2022, no calor da corrida presidencial, Lula usou um boné com as siglas CPX em visita ao Complexo do Alemão. Logo surgiram notícias falsas ligando o candidato a facções criminosas. A abreviação, comum em músicas e usada pela Polícia Militar, significa "complexo", não "cupincha", como os adversários do petista insinuavam. Negociado em troca da doação de uma cesta básica ao conjunto de favelas da zona oeste do Rio, o boné virou hit entre famosos.

Àquela altura Lula liderava as pesquisas. Dentro da Polícia Federal urdia-se uma estratégia de campanha. Entregue à CPI do 8/1, uma anotação no celular da delegada Marília Ferreira, braço direito do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, afirma que "havia certa pressão" após o primeiro turno para que ela indicasse uma relação do PT com grupos criminosos. Sem a máquina a seu lado, restava a Lula xingar Bolsonaro de miliciano.

Fingir que se vai combater bandidos, além de chamar o oponente de cúmplice de bandidos, é lugar-comum no processo de atrair votos no Brasil. Prometer segurança pública faz parte do manual da política populista. Resolver o problema, o mais grave e complexo do país, fica sempre para depois.

Até que o depois não seja mais possível. A realidade hoje é que pessoas são mortas por engano, comentem-se chacinas para esconder chacinas, sem que a polícia possa evitar ou mesmo tenha tempo de investigar. A brutalidade é ágil (33 disparos em 25 segundos no caso do triplo homicídio na Barra); a justiça do Estado paralelo, célere na hora de mandar seus sicários à vala.

Com igual rapidez, surgem mais soluções para o espetáculo eleitoral baseado na violência. Que tal um general com punhos de ferro? É o argumento do PL para levar Braga Netto, ex-interventor federal no Rio, à disputa da prefeitura. O difícil será conseguir verbas milionárias para a Guarda Municipal.

Policiais em operação no Complexo da Maré, Vila Cruzeiro e Cidade de Deus, no Rio - Eduardo Anizelli - 9.out.23/Folhapress

ESTADÃO / CULTURA / CINEMA Como um filme perdido de 1918 sobre a Amazônia foi descoberto agora em Praga,

 Ansa - Dado como perdido mas redescoberto na Cinemateca de Praga, o filme Amazonas, O Maior Rio do Mundo terá sua estreia mundial na próxima terça-feira, 10, no Festival de Cinema Mudo de Pordenone, na Itália.

A obra é considerada o primeiro longa-metragem filmado na Amazônia, um documento que já em 1918 destacava a enorme riqueza natural e os recursos desta área que se estende por quase sete milhões de quilômetros quadrados.

Ele foi encontrado nos primeiros meses deste ano no arquivo Národní filmovì.

“Após uma visita a esse arquivo, os curadores me enviaram o link para assistir a um filme que havia sido catalogado como Maravilhas da Amazônia, uma produção americana de 1925. Assim que comecei a assistir, percebi que o filme remontava a anos anteriores e não poderia ser uma produção americana. Após alguma pesquisa, tive a forte sensação de que se tratava da obra lendária de Silvino Santos”, explicou Jay Weissberg, diretor do festival.

Santos era um português que se mudara para o Brasil quando jovem e foi um dos pioneiros do cinema brasileiro. Contatado por Weissberg, o pesquisador de Belém, Sávio Stoco, que fez uma tese sobre o cineasta, confirmou que era mesmo o filme perdido.

O negativo havia sido furtado e levado para a Europa pelo sócio do diretor, que, assumindo a autoria do documentário e mudando seu título, havia, sem o conhecimento do autor, feito acordos para comercializá-lo no velho continente, onde foi exibido a partir de 1921.

Capitu

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Cena do filme Amazonas, O Maior Rio do Mundo, de Silvino Santos, encontrado nos arquivos da Cinemateca de Praga
Cena do filme Amazonas, O Maior Rio do Mundo, de Silvino Santos, encontrado nos arquivos da Cinemateca de Praga Foto: Arquivo Národní Filmový

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Em 1925, chegou também à Checoslováquia, mas desde 1931 estava perdido.

Amazonas, O Maior Rio do Mundo, possui belas imagens do rio, das cidades de Belém e Manaus e do povo Huitoto.

O filme será posteriormente apresentado no Ji.hlava International Documentary Film Festival, na República Checa, e no Brasil.

'Vidas Duplas', de Olivier Assayas, extrapassa amores clandestinos, FSP

 

VIDAS DUPLAS (DOUBLES VIES)

  • Quando Estreia nesta quinta (18)
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Guillaume Canet, Juliette Binoche, Vincent Macaigne
  • Produção França, 2018
  • Direção Olivier Assayas

Veja salas e horários de exibição

O termo "literário" é um clichê no qual se enquadram tantos filmes franceses, nos quais o privilégio dado à palavra aparece como uma qualidade anticinemática, um defeito.

Tratemos desse aspecto como uma qualidade que permeia a produção de Olivier Assayas, ex-crítico de cinema que circula com desenvoltura, e muitas palavras, entre diferentes gêneros e, digamos, estilos.

"Personal Shopper" (2016) foi visto como hitchcockiano; ecos de Bergman pairam em "Acima das Nuvens" (2014).

De "Vidas Duplas", disse a Cahiers du Cinéma, revista onde ele começou sua carreira, que evoca o cinema do francês Roger Vadim, com seu olhar para o comportamento das personagens.

No caso, personagens de uma burguesia esclarecida que se debate com o passar do tempo —plasmado neste, como nesses outros filmes mais recentes do cineasta, na tecnologia.

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Na nova trama, o embate com o tempo ganha a forma das renovações impostas ao mundo editorial, em torno do qual circulam os protagonistas.

Alain (Guillaume Canet), editor, é casado com Selena (Juliette Binoche), atriz.

Ele se recusa a publicar o novo livro de Léonard (Vincent Macaigne), autor de sua casa e marido da idealista Valérie (Nora Hamzawi), que trabalha como assessora de um político de esquerda.

As vidas dos dois casais se entrelaçam também fora do campo profissional, e as relações se complicam com a entrada em cena de Laure (Christa Theret), contratada por Alain para levar a editora que dirige a um patamar mais afinado com os novos tempos.

A questão da digitalização é o pano de fundo para a ciranda amorosa que vai se desenrolando.

Além da encruzilhada dos e-books e blogs, compõem o quadro o debate sobre exposição pública na obra de Léonard; as relações algo entediadas de Laure; e a fadiga de Selena, que não quer continuar a fazer a mesma série de TV.

Na política, o campo de atuação de Valérie, personagem que faz um contraponto discreto aos demais, as vicissitudes de um mundo digital surgem com o avatar da pós-verdade.

Parece espinhoso, e é, mas Assayas consegue equilibrar todos esses temas na tela por meio do discurso de seus personagens.

Esse discurso soa, por muitas vezes, forçado para nossos padrões --mas é crível no contexto filme de uma burguesia intelectualizada tão francesa em seu hábito de debater em jantares.

De conversa em conversa, entendemos que as vidas duplas do título não são somente uma expressão que diz respeito aos amores clandestinos dos casais.

Ela também nos fala do desdobramento que a geração hoje na faixa dos 50 se vê forçada a fazer para se manter igual num mundo que muda —como, não por acaso, diz a famosa frase de Lampedusa notabilizada em "O Leopardo", de Luchino Visconti, recuperada em um dos muitos diálogos do filme.