Um dos maiores enigmas da música sertaneja é que acontece após o término de uma dupla. Ambos acham que poderão constituir carreiras solo de sucesso. Mas quase sempre isso não acontece.
Um dos casos mais notórios foi o de Milionário & José Rico. Em 1992 eles se separaram e José Rico, a primeira voz da dupla, tentou emplacar carreira solo. Sem sucesso.
Milionário lançou um disco com Mathias, outro gigante do gênero que havia se separado da dupla com Matogrosso. Não deu em nada. Então Milionário se juntou a Robertinho, ex-parceiro de Leo Canhoto. O sucesso parecia escrito nas estrelas. Mas faltou combinar com o público, que não aprovou a nova dupla.
As separações de duplas, especialmente quando há atritos públicos, não são bem vistas pelos fãs, que acabam não abençoando as novas carreiras. Outro caso exemplar foi a separação de João Mineiro & Marciano em 1993. Em carreiras independentes, nenhum dos dois chegou perto do sucesso que haviam conquistado em dupla nos anos 1980.
Há certa pressão entre as duplas sertanejas para permanecer fiel ao parceiro. A ideia é que, se um artista surgiu para o grande público através do formato dupla, deve seguir a vida artística inteira assim. É praticamente uma sina.
Atentos a essa particularidade da música sertaneja, algumas duplas até tiveram rupturas em determinados períodos da carreira, mas resolveram retomar a trajetória juntos. Foi o caso de Milionário & José Rico, que retomaram a carreira em 1994. Chrystian & Ralf se separaram diversas vezes ao longo da carreira, mas voltaram também várias vezes, pois a carreira solo de ambos nunca foi tão bem sucedida quanto a da dupla.
Rick & Renner também se separaram duas vezes devido a desentendimentos e acontecimentos turbulentos da vida de Renner. Mas também voltaram a cantar juntos.
Mais recentemente Victor & Leo se separaram depois que Victor foi acusado de violência doméstica. Em 2018 a dupla anunciou a separação por tempo indeterminado. Apesar do excelente disco "Projeto VC", nem assim a carreira solo de Victor decolou, nem tampouco a de Leo. Em 2023 eles retomaram a dupla.
Em geral o público sertanejo só compra a carreira solo de artistas consagrados em duplas em duas situações. Primeiro: quando um dos parceiros morre. É o que aconteceu com Daniel (ex de João Paulo) e Leonardo (ex de Leandro), cujos parceiros tiveram mortes trágicas.
Outro caso recente chamou a atenção, o de Simone Mendes, que desde a infância cantava com a irmã Simária.
Desde que se separou da irmã em agosto de 2022, Simone vem perfilando uma série de sucessos, entre eles "Dois Tristes", "Daqui Pra Frente" e especialmente "Erro Gostoso", um dos maiores hits de 2023. Em 2024, Simone participou do programa global "Amigas", ao lado de outras cantoras da música sertaneja, consolidando seu espaço no primeiro escalão do gênero.
No caso da cantora, pesou o fato de que a irmã se mostrou publicamente e por muito tempo como alguém bastante desequilibrada. Simária diminuia artisticamente Simone em surtos ególatras que eram visíveis para grande parte do público. Quando se separaram, a aura de sucesso que a dupla construiu ficou com Simone, e Simária relegada ao esquecimento.
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