quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Deirdre Nansen McCloskey - Vida, arte e ciência em 'Transatlântico', na Netflix, FSP

 Acabei de assistir aos sete episódios da série "Transatlântico", na Netflix (2023). Duas vezes.

É maravilhosa. Fala sobre um grupo que em 1940 ajudou a sair da França de Vichy pessoas que fugiam dos nazistas, especialmente judeus, como o pintor Marc Chagall e a escritora política Hannah Arendt.
É lindamente escrita, tem um ótimo elenco e excelentes atuações. Usando de muita beleza, combina histórias de amor, política liberal e aventuras aterrorizantes daqueles que buscavam fugir das autoridades francesas e alemãs com a indiferença isolacionista de meu próprio país à ameaça fascista —até que os japoneses, no final de 1941, nos forçaram a lutar.

Comparem, brasileiros, com sua indiferença em relação à ameaça neofascista vinda de Putin e sua guerra na Ucrânia.

Quanto mais vocês souberem sobre as figuras históricas envolvidas naquele evento do século passado, como Walter Benjamin, Max Ernst, Marcel Duchamp, mais vão adorar.

Conheci pessoalmente um de seus heróis, Albert Hirschman (1915-2012).

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Albert era um economista judeu alemão extremamente sofisticado, com quem almocei e jantei muitas vezes, junto com Sarah, durante os anos de 1983 e 1984. Ele foi meu anfitrião no Instituto de Estudos Avançados, o "Instituto Einstein", em Princeton. Albert nunca mencionou que havia sido um herói na Guerra Civil Espanhola contra o fascismo, no Exército Francês contra a invasão alemã, na Resistência durante e depois da ação do filme e, finalmente, no Exército dos Estados Unidos.

Cena da série 'Transatlântico', da Netflix
Cena da série 'Transatlântico', da Netflix - Reprodução

Ele era assim, um cidadão mundial multilíngue, com especial interesse pela América Latina, um dos grandes economistas —mas sem exibir nenhum dos tentáculos de egoísmo de tantos homens realizados e de algumas poucas mulheres realizadas.

E ele era um defensor do que alguns de nós hoje chamamos de "humanomia", uma economia que usa todos os recursos de nossa cultura, dos números às palavras, da vida à arte. E foi um verdadeiro liberal.

Não no sentido de Bolsonaro, de um Partido Liberal fascista de direita, ou no sentido americano de uma social-democracia de fascismo de esquerda. Ele acreditava na dignidade humana e estava disposto a arriscar a vida em sua missão.

Para vergonha perene do comitê de economistas da Academia Sueca, ele nunca recebeu o Prêmio Nobel. Estatistas antiliberais sim, receberam. Suecos neutros de terceira categoria, certamente. Técnicos em finanças, repetidamente. Mas não Hirschmann, Boulding, Kirzner, Alchian, Gerschenkron. Leia qualquer livro de Albert e você verá.

E assista a "Transatlântico".

Vida, arte, ciência. Humanomia.

O efeito Milei e o Itamaraty, Elio Gaspari, FSP

 O anarcocapitalista Javier Milei surpreendeu arrebatando 30% dos votos na primária presidencial argentina. A eleição será em outubro e muita água passará debaixo da ponte. Mesmo assim, num país com 114 % de inflação anual, o Banco Central (que ele promete fechar) subiu os juros para 118%, em poucos dias, o dólar disparou e os títulos da dívida argentina despencaram.

A encrenca argentina é séria, mas não é inédita. Lá, o general Jorge Rafael Videla, ditador deposto em 1981, morreu num banheiro da cadeia em 2013. Em 2001, o presidente civil Fernando de la Rúa fugiu da Casa Rosada e em duas semanas o país teve três presidentes.

O governo do presidente Alberto Fernández está bichado. Cumpriu-se parcialmente uma profecia de Jair Bolsonaro, impropriamente enunciada durante a campanha eleitoral de los hermanos. Fernández e Lula aproximaram-se. Javier Milei, por sua vez, aproximou-se de Bolsonaro.

O candidato a presidente da Argentina Javier Milei comemora o resultado das prévias eleitorais, no último domingo (13) - Alejandro Pagni/AFP

Com as cartas que estão na mesa, é forte o efeito gravitacional que levaria o Brasil a se meter na encrenca argentina. Se Bolsonaro não deveria ter se metido na campanha de 2019, o governo de Lula não deve se meter na disputa de 2023. À primeira vista isso parece impossível, até injusto. Seria como tirar o sapato sem tirar a meia.

Para diplomatas competentes, não só isso é possível, como em circunstâncias piores, o Itamaraty já fez a mágica.

Em 1982, os presidentes Leopoldo Galtieri e João Baptista Figueiredo eram bons amigos. Militares brasileiros sequestravam exilados argentinos no Brasil e militares argentinos sequestravam brasileiros em Buenos Aires. O general Galtieri (um bebum) teve sua ideia: invadir as ilhas Falklands, terras perdidas no meio do oceano, governadas pelos ingleses.

A primeira parte foi fácil e ele tomou as Malvinas. Restava a segunda: o que faria a Inglaterra, governada pela primeira-ministra Margaret Thatcher? No dia 23 de abril de 1982, o embaixador do Brasil em Londres, Roberto Campos, informava: "Especula-se que as propostas britânicas estariam divididas em três fases: retirada argentina, período de transição, onde o Reino Unido faria algumas concessões no sentido de uma administração partilhada, e de uma negociação da situação final das ilhas, inclusive da questão da soberania".

No dia seguinte, foi além: "Vários observadores vêm insistindo em que seria muito pouco provável que o Reino Unido inicie operações militares contra a Argentina enquanto estão em curso negociações".

Ilusão do doutor. Thatcher desceu a frota, retomou as ilhas e Galtieri, humilhado, foi mandado para casa. No Itamaraty, estava o chanceler Ramiro Guerreiro, de sapatos e meias. Ele sabia que a aventura militar acabaria em desastre. Tratava-se de dissociar-se da maluquice, sem colocar o Brasil na condição de aliado dos ingleses numa questão sensível para todos os argentinos.

Guerreiro conteve os ímpetos de Figueiredo e dos militares brasileiros aliados da ditadura argentina, com suas dezenas de milhares de mortos. O chanceler Guerreiro era um diplomata discreto. Seu colega Araújo Castro dizia que ele era a única pessoa capaz de dormir durante o próprio discurso.

Por calado, Guerreiro não deixou registro público da sua mágica. Seus detalhes estão nos arquivos do Itamaraty. Passados 41 anos, eles estão disponíveis para quem sente o impulso de se meter na encrenca argentina e na alma aventureira de Javier Milei.

terça-feira, 15 de agosto de 2023

Após série de falhas, ViaMobilidade faz acordo e desembolsará R$ 150 mi em indenização, RF

 Folha de S. Paulo – Foi assinado nesta segunda-feira (14) um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) entre a ViaMobilidade e o Ministério Público de São Paulo em relação à operação das linhas 8-diamante e 9-esmeralda, que estão sob concessão da empresa desde 27 de janeiro de 2022.

O contrato de concessão prevê o investimento total de R$ 4 bilhões pela ViaMobilidade em melhorias na operação das linhas. A empresa afirma que, deste montante, já investiu mais de R$ 2,5 bilhões.

Com o TAC, a ViaMobilidade se compromete a pagar uma indenização de R$ 150 milhões, sendo R$ 147 milhões para investimentos imediatos não previstos originalmente e R$ 3 milhões que serão depositados no Fundo de Interesses Difusos (FID), que financia projetos para reparação de danos diversos, como ao ambiente e ao consumidor.

Segundo nota divulgada pela concessionária, dos R$ 147 milhões, R$ 50 milhões poderão ser aplicados na construção de escolas ou centros educacionais nos municípios atendidos pelas linhas 8 e 9: São Paulo, Osasco, Carapicuíba, Barueri, Itapevi e Jandira. “A ViaMobilidade e o Ministério Público discutirão com as prefeituras locais a viabilidade de disponibilizar áreas para isso”, diz a nota.

“Os R$ 97 milhões restantes serão destinados a aprimorar aspectos da infraestrutura das linhas 8-diamante e 9-esmeralda, identificados pelo Ministério Público, ViaMobilidade e Estado de São Paulo, que vão além dos investimentos originalmente estabelecidos no Contrato de Concessão”, diz o comunicado.

QUAIS DEVEM SER OS INVESTIMENTOS

  • Linha 8-diamanteAmpliação do mezanino e interligação das plataformas da estação Barra Funda, incluindo a instalação de três novas escadas rolantes e o retrofit de outras quatro já instaladas, para proporcionar melhor fluxo de passageiros e mais conforto e agilidade nos embarques, desembarques e integrações, além de reduzir o risco de superlotação das plataformas
  • Linha 8-diamanteRequalificação da estação Antônio João, contemplando a instalação de quatro escadas rolantes, quatro elevadores, novo mezanino, cobertura em toda área útil das plataformas de embarque e desembarque, piso de granito, novos sanitários públicos, bicicletário e paraciclo
  • Linha 9-esmeraldaAmpliação da quantidade de bloqueios de acesso à estação Autódromo-Interlagos e da sua cobertura externa, a fim de reduzir filas e aumentar o conforto dos passageiros que ingressam no sistema
  • Linhas 8-diamante e 9-esmeraldaInstalação de estrutura de interligação das plataformas da estação Presidente Altino, para distribuir melhor a ocupação e o fluxo de passageiros, especialmente na integração entre as linhas 8-diamante e 9-esmeralda, trazendo mais segurança e conforto
  • Linhas 8-diamante e 9-esmeraldaImplantação de sistema que permitirá ao passageiro acessar informações sobre o próximo trem, por meio da leitura com smartphones de QRCodes exibidos nas estações

Segundo a ViaMobilidade, o que sobrar desses R$ 97 milhões também será destinado à desapropriação das áreas necessárias ao projeto de requalificação da estação Antônio João e à construção de um centro esportivo nas imediações da estação Grajaú, da linha 9-esmeralda.

Além disso, a concessionária disponibilizará canais de contato com passageiros, na forma de sites e aplicativos para smartphone, para informá-los de quaisquer intercorrências nas suas linhas, permitindo que programem seus respectivos itinerários e tempo de deslocamento mesmo que não estejam nas estações.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/08/apos-serie-de-falhas-viamobilidade-faz-acordo-e-desembolsara-r-150-mi-em-indenizacao.shtml