Até a década de 1940, Copacabana era um conjunto de sobrados da elite carioca com prédios esparsos, sendo um deles o Casino Copacabana (ou Copacabana Palace Hotel). Em 1946, a prefeitura permitiu que o gabarito dos prédios no bairro chegasse a 13 andares, gerando um boom construtivo na região.
Enquanto a cidade crescia, a mistura de pessoas proporcionava encontros, interações e, como consequência, produtividade e novas ideias. O rápido processo de transformação levou Copacabana a se tornar, na década de 1950, o principal cenário da bossa nova, que nasceu como fruto da urbanidade que se encontrava nas ruas, nas esquinas e nos botecos.
Ruy Castro, no livro "Chega de Saudade", relata que o símbolo dessa aglomeração criativa, que atraía artistas de outros estados, era o Beco das Garrafas.
O local reunia quatro boates vizinhas e ficava próximo do Copacabana Palace, de onde os artistas internacionais muitas vezes saíam, após seus shows, para se divertir e interagir com os músicos brasileiros na viela.
Era, talvez, o epicentro dos 43 bares mapeados pelo autor que foram palco da história da música no Rio de Janeiro. Foi a partir da mistura de influências do jazz e do samba, da construção coletiva e da improvisação, que o novo movimento musical da bossa nova surgiu.
Talvez a história da bossa nova tivesse sido diferente se João Gilberto não houvesse saído de Juazeiro, na Bahia. Mas, em respeito a Juazeiro, em qual cidade do interior seria possível ver essa confluência de músicos, boates, hotéis e moradores de diversas especialidades? A história da bossa nova é, em essência, uma história sobre por que grandes cidades existem.
O surgimento das cidades, esse aglomerado de pessoas morando, trabalhando e interagindo no mesmo local, não ocorreu ao acaso. Ele se deu, fundamentalmente, por motivos econômicos. Cidades possibilitam ganhos de escala e de aglomeração. Se há muitas pessoas vivendo no mesmo local, há escala suficiente para equipamentos e especialidades profissionais que não seriam factíveis em comunidades menores.
Não é por acaso que algumas profissões altamente especializadas só existem no Brasil em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, ou que essas duas cidades, combinadas, tenham um terço dos times da Série A do Brasileirão.
Ao mesmo tempo, através dos efeitos de rede, grandes cidades tornam seus moradores mais produtivos: pesquisadores do Santa Fe Institute (EUA) verificaram que, à medida que cidades crescem, indicadores como PIB per capita e patentes per capita aumentam proporcionalmente mais do que o aumento populacional.
Com tanta área disponível no Brasil, alguns se espantam ao ver nossa aglomeração em pequenos apartamentos em cidades ou ao ver grandes cidades que continuam crescendo.
Ainda, algumas reportagens noticiam a estagnação populacional das capitais, sugerindo a saturação do modelo urbano. No entanto, as cidades das regiões metropolitanas, que circundam os polos e formam o mesmo mercado de trabalho, têm apresentado um crescimento populacional em taxas acima da média do país. Entre migrantes de todas localidades e rendas, a motivação é simples: a busca por oportunidades.
No Brasil, passamos um século demonizando esse movimento espontâneo para as cidades, classificando o fenômeno da urbanização como inerentemente negativo. Depois de anos de fracasso, é preciso reconhecer que esse fenômeno está aquém do nosso controle.
Edward Glaeser, economista de Harvard, descreve cidades como a "maior invenção da humanidade", um motor para o progresso que nos torna mais ricos, inteligentes, verdes e saudáveis.
É sobre esse paradigma que precisamos nos debruçar para enfrentar os desafios da urbanização brasileira. Ao invés de continuar concentrando esforços pensando em como fazer cidades pararem de crescer —apenas para vê-las crescerem nas bordas, sem infraestrutura ou planejamento—, devemos entender os motivos pelos quais elas crescem e, considerando essa realidade, como torná-las mais humanas, acessíveis, diversas e dinâmicas.

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