quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Ruy Castro - O covarde Bolsonaro, FSP

 Espumar insinuações sem provas pelo canto da boca e, ao levar uma resposta, recuar, fingir-se de ofendido e se desmentir é uma tática de covarde. Desfilar tanques do Exército para ameaçar as instituições e, diante do fiasco que lhe poderia custar o mandato, pedir a alguém que lhe escreva uma carta de retratação também denuncia o covarde. Fazer-se de macho para meia dúzia de beócios no cercadinho, insultar mulheres repórteres e cercar-se de esbirros, gente dada a violências físicas, igualmente é de covarde.

Jair Bolsonaro não é só o pior presidente da história do Brasil democrático. É também o mais covarde. Sua tática de falar que "ficou sabendo", "ouviu dizer" e "estão dizendo que tem coisa", sem se assumir como quem acredita naquela informação, é de covarde. E sua campanha contra a vacina nunca é feita com afirmativas tipo "A vacina faz mal!" ou "Não se vacinem!". Esconde-se em perguntas que induzem à dúvida e ao medo, como "Quem garante que não vai fazer mal?" ou "Quem se responsabiliza?". Coisa de covarde.

Bolsonaro desfila sem máscara entre multidões, jactando-se de não ter se vacinado. Será? Quem garante? Pode muito bem ter sido vacinado em segredo por seu cúmplice, o ex-médico Marcelo Queiroga, que, pelo menos, ainda deve saber aplicar injeção. Talvez já tenha tomado até a terceira dose. Se seus próprios ministros se vacinaram pelas suas costas, por que Bolsonaro não se vacinaria pelas costas da nação?
Aliás, não sou eu, mas estão dizendo por aí que tem coisa em tudo que Bolsonaro faz pelas costas da nação.

Cara Catarina Rochamonte. Sobre sua coluna "Os esbirros de Lula" (10/1), em que me atribui o poder de "usar régua de cálculo eleitoral para prejudicar a pré-candidatura Sergio Moro" —e precisa?—, você ficaria surpresa se soubesse por quantos segundos por ano me ocupo de Sergio Moro.

O QUE A FOLHA PENSA - INFLAÇÃO Além da conta

  EDIÇÃO IMPRESSA

Inflação de alimentos afetou sobretudo os mais pobres em 2021 - Eduardo Matysiak/Futura Press/Folhapress

A inflação ao consumidor terminou o ano passado em 10,06%, a maior variação desde 2015 e uma das mais altas da série histórica a partir do advento do sistema de metas para a inflação, em 1999.

É fato que o problema da alta acelerada dos preços se mostra global —nos Estados Unidos o índice comparável subiu 7%, em face principalmente de choques setoriais ocasionados pela pandemia.

Mas no Brasil a má gestão do Executivo, na saúde e na economia, impôs desnecessário peso sobre a população mais vulnerável. O perfil da alta dos preços foi especialmente cruel, com destaque para o encarecimento de produtos de primeira necessidade, como alimentos, energia e gasolina. Em 2021, esses três itens subiram 8,2%, 21,2% e 47,5%, respectivamente.

De outro lado, a inflação de serviços, notadamente os prestados pela mão de obra informal e menos especializada, foi menor (4,75%). Na prática houve uma grande perda de renda disponível para os mais pobres, agravada pelo desemprego.

As cenas de fome nas cidades e o crescimento da miséria —em julho de 2021 cerca de 13% da população vivia com renda domiciliar per capita abaixo de R$ 261 mensais, o maior percentual em uma década— expõem o drama social.

Embora, segundo estimativas do Banco Central, quase 70% da inflação de 2021 possa ser atribuída a fatores externos —alta das matérias-primas e variação do câmbio—, a desconfiança quanto à política econômica amplificou a pressão.

Num ano em que os preços de itens exportados pelo país, caso de minério de ferro e soja, dispararam no mercado internacional, seria esperado que o dólar caísse. Não foi o que ocorreu, sobretudo depois que o governo burlou os limites de gastos públicos para bancar a agenda eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O resultado foi a disparada do câmbio e das expectativas de inflação, o que obrigou o BC a ampliar o choque dos juros, que já chegam a 9,25% e atingirão dois dígitos em janeiro. Não por acaso as projeções de crescimento para 2022 caem continuamente.

O combate à inflação ocupa os principais bancos centrais do mundo. No caso dos EUA, o Federal Reserve já indicou que subirá a taxa básica com mais rapidez e retirará liquidez dos mercados. Mesmo assim, a política monetária permanece favorável ao crescimento e espera-se convergência às metas.

No Brasil, além das dificuldades de sempre, como a indexação que alonga o impacto do choque de preços, é mais difícil obter essa convergência quando há incerteza em relação à responsabilidade fiscal. O custo social é bem maior que alhures. Essa parte da conta pode ser atribuída a Bolsonaro.


quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Mariliz Pereira Jorge - Moro, o candidato coach, FSP

 Quando vejo gente disposta a votar em Sergio Moro para presidente entendo o sucesso do coach que convenceu 60 pessoas despreparadas a subir os 2.400 metros do Pico dos Marins, interior de São Paulo. A metade que chegou ao cume precisou ser resgatada, uma epopeia de nove horas, que evitou uma tragédia, segundo os bombeiros.

O curso vendido por Pablo Marçal, chamado de "O pior ano de suas vidas", incluía essa expedição. Marçal em sua conta no Instagram escreveu, "só conquista o topo dessa montanha quem está disposto a entregar todos os recursos durante o caminho. Sangue, suor, lágrimas e gordura. O que te impede de viver aventuras como essa?".

Não ser trouxa me parece uma boa razão. Isso inclui não cair no papo furado de coaches e não votar em aventureiros. Sergio Moro é um pré-candidato que se encaixa nas duas categorias. Curso de oratória e fonoaudiologia são parte do verniz. O despreparo ele tenta camuflar levando para o seu entorno nomes palatáveis a quem se deixa iludir. É a pegadinha do Posto Ipiranga. Cai quem quer.

Não há nada no histórico de Sergio Moro que o habilite à Presidência. Entendo que depois de Jair Bolsonaro haja quem considere qualquer coisa melhor. Moro não é melhor, e qualquer tentativa de um plano seu de governo poderia ser batizada de "Os piores anos de sua vida "" Parte 2". O Brasil não aguenta mais amadores. Não temos mais quatros anos para desperdiçar com aventureiros. Moro já deixou claro que é exatamente isto: amador e aventureiro.

O ex-juiz precisa dar um rumo na vida depois de ter encerrado sua carreira no Judiciário para integrar um governo fascista e incompetente. Mas o que ele oferece como candidato é uma jornada sem equipamentos de segurança por uma trilha com histórico de acidentes fatais, em que o eleitor tem que dar "sangue, suor, lágrimas" e o resgate só chegará depois de quatro anos.