quinta-feira, 12 de novembro de 2020

ODED GRAJEW Uma proposta para Luiza Helena Trajano, FSP

 Presidente do Conselho Deliberativo da Oxfam Brasil, presidente emérito do Instituto Ethos e conselheiro da Rede Nossa São Paulo e do programa Cidades Sustentáveis; é idealizador do Fórum Social Mundial

Em 5 de outubro, no programa Roda Viva, da TV Cultura, a empresária Luiza Helena Trajano, a mulher mais rica e uma das mais influentes do Brasil, dona do Magazine Luiza, citou a desigualdade como um dos maiores senão o maior problema brasileiro. Ela tem toda razão. As nossas desigualdades —econômica, social, de gênero, de raça, territorial e na representação política— estão entre as maiores do mundo. Exemplo disso é o fato de que apenas 1% da população possui 48% da riqueza nacional.

Ao mesmo tempo, somos a nona economia do mundo. Nosso problema não é falta de recursos, mas a sua distribuição. Uma das estruturas que sustenta e alimenta as nossas desigualdades é o sistema tributário. Em nosso país, quem tem mais paga menos, e quem tem menos paga mais tributos. O sistema é regressivo, taxando mais o consumo e menos riquezas e patrimônios. Brasil e Estônia são os únicos países do mundo que não taxam lucros e dividendos. É um sistema anticonstitucional, já que a nossa Carta Magna determina que reduzir as desigualdades é um dos princípios e objetivos fundamentais do Brasil.

Durante o Roda Viva, quando questionada se aceitaria pagar um imposto sobre grandes fortunas (como é usual em muitos países e até uma demanda de muitos bilionários conscientes pelo mundo), Luiza Helena disse que não gostaria de pagá-lo pelo temor de que o dinheiro seja usado de forma indiscriminada e ineficaz pelo governo. Ela se disse a favor de distribuir recursos, mas desde que tivesse controle sobre seu destino, que fossem bem empregados.

O imposto sobre grandes fortunas existe em muitos países e consta da nossa Constituição. Milionários americanos comandados por Bill Gates pediram recentemente serem mais taxados como forma de reduzir as desigualdades. A proposta da Reforma Tributária Solidária, elaborada pela Fenafisco (Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital) e pela Anfip (Associação Nacional dos Auditores Fiscais) e organizada pelo professor Eduardo Fagnani, propõe uma taxação que varia de 0,5% a 1,5% sobre as 59 mil pessoas (apenas 0,028% da população) com patrimônio superior a R$ 10 milhões. Essa taxação renderia R$ 40 bilhões por ano. O Bolsa Família custa R$ 35 bilhões por ano.

Conheço Luiza Helena há muitos anos. Tenho grande admiração por ela. Sempre, desde a fundação da empresa, advogou e principalmente praticou a responsabilidade social com o genuíno interesse de melhorar a vida das pessoas. Sempre enxergou o resultado financeiro da empresa não como fim, mas como meio de contribuir para melhorar a comunidade e o país. O sucesso da empresa demonstra que praticar a responsabilidade social compensa.

Faço então uma proposta para Luiza Helena: que encampe a ideia de taxar a fortuna dos mais ricos. Os recursos arrecadados com este imposto seriam integralmente destinados a um programa que garanta uma renda mínima para os brasileiros e brasileiras mais pobres.

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O programa teria um conselho, com a participação da sociedade, incluindo Luiza Helena e alguns outros milionários brasileiros, que fiscalizaria a correta aplicação dos recursos. Atenderia desta forma à preocupação da grande empresária sobre a necessidade de garantir o uso adequado deste imposto.

Já está mais do que comprovado que programas de transferência de renda para os mais pobres ajudam a reduzir as desigualdades e até reativam a economia. Nossas desigualdades inviabilizam qualquer projeto de um país melhor. Isso passa necessariamente por redistribuir recursos. Esses recursos para os paupérrimos não viriam dos pobres, como sugeriu nosso ministro da Economia, mas dos mais ricos.

Para isso, são necessários vontade política e apoio e participação da sociedade. O engajamento daqueles que têm poder econômico, político e consciência social, como Luiza Helena, é fundamental.


Mariliz Pereira Jorge Cala a boca, Bolsonaro, FSP

 Não aguento mais ouvir a voz de Jair Bolsonaro. Não importa o que ele diga. Desenvolvi um tipo de fonofobia do presidente. Não suporto qualquer som emitido por ele. Tanto faz se está acuado, raivoso ou histérico. Se está feliz me irrita ainda mais, porque deve ser à custa da desgraça de alguém. Diante do desastre que são as mais de 162 mil mortes pela Covid, o sujeito tripudia e diz que "todos nós vamos morrer um dia". Haja antiácido.

Quando Bolsonaro começa a falar, os sintomas de intolerância, típicos da fonofobia, se manifestam. A irritação fica a mil, bate ansiedade, o mau humor sai pela orelha, tenho vontade de sair correndo, mas me lembro que estou na minha própria casa. O coração acelera, fico estressada e, às vezes, grito com a televisão, coitada.

Bolsonaro no Palácio do Planalto - Lucio Tavora/Xinhua

Aquela fala sem ritmo, ao mesmo tempo com pausas nervosas, típicas de quem não consegue formular um raciocínio, é gatilho para o sistema de repulsa entrar em ação. O sujeito abre a boca e minha cabeça dói, porque lá vem mentira, provocação, alguma atrocidade e um festival de preconceitos como o desta semana.

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Em 24 horas, ele diz que somos um país de maricas, comemora a interrupção dos estudos da vacina contra a Covid sobre o cadáver de um voluntário, desdenha de uma possível segunda onda da doença e quer resolver as relações com os Estados Unidos com pólvora. Quem mais consegue suportar isso?
Retiro o que escrevi há pouco mais de um ano, quando pedi que Jair Bolsonaro falasse, falasse mais, vomitasse toda a podridão de que são formadas as suas sinapses. Talvez assim morresse pela boca.

Acreditava eu que teríamos instituições fortes para colocar um freio nesse ignóbil. Mas, como percebemos, nossas instituições são feitas de castelos de cartas de repúdio. Jair continua testando a democracia como pode, até que uma hora ela desmorona. E ninguém poderá dizer que ele não avisou.

Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

Juiz diz que Oswaldo Eustáquio fez acusações ‘sabidamente inverídicas’ contra Boulos e determina exclusão de vídeo, OESP

 Paulo Roberto Netto e Fausto Macedo

11 de novembro de 2020 | 20h25

O juiz Emílio Migliano Neto, da 2ª Zona Eleitoral de São Paulo, mandou tirar do ar vídeo publicado pelo blogueiro Oswaldo Eustáquio com acusações ‘sabidamente inverídicas’ contra o candidato à Prefeitura Guilherme Boulos (PSOL). Mais cedo, o blogueiro afirmou que o psolista usa empresas de vídeo para ‘lavar dinheiro’, acusação que foi usada por Celso Russomanno (Republicanos) durante o debate realizado pela Folha/UOL nesta quarta, 11.

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Segundo o magistrado, o caso revela ‘sem sombra de dúvidas’ que houve um ‘estratagema altamente reprovável’ na publicação do vídeo e seu uso pelo candidato durante o debate.

“O cenário delineado pela matéria produzida pelo representado não encontra lastro nem sequer em indícios, como demonstrado de forma contundente na sua inicial pelo ora representante, sendo refutado pontualmente, permitindo-se, sem temor, de ser adjetivado de sabidamente inverídico, extravasando o debate político-eleitoral”, afirmou.

A ação foi protocolada nesta tarde pela defesa de Boulos e da coligação ‘Pra Virar o Jogo (PSOL, PCB E UP)’. Nos autos, o psolista relembra que Oswaldo Eustáquio é investigado no inquérito que mira o financiamento e organização de atos antidemocráticos em Brasília, e que ele foi preso pela Polícia Federal.

Para a defesa de Boulos, a acusação de Oswaldo Eustáquio ‘não foi mera divulgação de mensagens caluniosas e difamatórias’, mas a tentativa de imputação de ‘prática de crime pelo qual nunca foi investigado’. O Ministério Público Eleitoral foi acionado a se manifestar sobre o caso.

O candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos. Foto: Fabio Motta/Estadão

Oswaldo Eustáquio é investigado junto do blogueiro Allan dos Santos e da extremista Sara Winter no inquérito que investiga suposto esquema de organização e financiamento de atos em defesa da ditadura militar e pelo fechamento do Congresso Nacional.

Em julho, ele foi preso pela Polícia Federal após transitar pela fronteira com o Paraguai e foi proibido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, de utilizar as redes sociais (sua conta é administrada hoje por aliados).

COM A PALAVRA, OSWALDO EUSTÁQUIO
A reportagem busca contato com a defesa de Oswaldo Eustáquio. O espaço está aberto a manifestações (paulo.netto@estadao.com)