segunda-feira, 15 de junho de 2020

Ruy Castro Noventa dias em casa, FSP

Enquanto isso, no Brasil paralelo, as pessoas são imunes ao contágio e às estatísticas

Eu e Heloisa completamos amanhã três meses de quarentena. Noventa dias em casa, sem descer sequer à portaria, sem tomar o elevador. E sem contato, exceto por vídeos, áudios e pensamentos, com as pessoas que conhecemos ou amamos.

A última vez na rua foi na manhã de 16 de março, uma segunda-feira. Como sempre, caminhamos até o Arpoador. Tomamos coco no quiosque, amigos pararam à nossa mesa e discutimos o assunto vírus. Já se sentia no ar a preocupação. Lá pelas dez horas, voltamos de táxi para o Leblon. Paguei a corrida em dinheiro —R$ 20. Foi a última cédula em que toquei. Entramos no prédio e brinquei com os porteiros, todos Flamengo, como eu. Foram as últimas pessoas com quem conversei ao vivo. Subimos, bati a porta atrás de mim e aqui estamos, à espera de, um dia, voltar à vida onde ela se passa de verdade —lá fora.

O noticiário, que acompanhamos com atenção, nos provoca duas reações. Uma, de preocupação para com as pessoas cujo trabalho as obriga a sair ou a abrir suas lojas —já que não contam com um planejamento amplo e oficial que as socorra e aos que dependem delas, e têm de se contentar com um dinheiro oferecido de má vontade e que muitos até agora nem conseguiram receber.

A outra reação é de inveja, ao ver as imagens dos calçadões, ruas, shoppings e galerias cheios de gente caminhando, correndo, pedalando, fazendo compras, empurrando carrinhos de bebê e se acotovelando em filas. Alguns de máscara, outros sem, mas todos pimpões, felizes, a salvo de contágio e imunes às estatísticas que falam de mais de um morto por minuto, a caminho dos 50 mil óbitos e do primeiro milhão de infectados. É como se fosse um Brasil paralelo, em que a Covid não existe, as mortes são de mentira e é tudo invenção da mídia.

Mas este Brasil, queira ou não, logo também descobrirá o que é ficar em casa. Muitos países já não nos querem nas ruas deles.

Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.

domingo, 14 de junho de 2020

Elio Gaspari Pandemia ensina que sociedade não funciona direito com milhões de excluídos, FSP

Aprendemos durante toda essa crise que havia 38 milhões de brasileiros invisíveis', disse Paulo Guedes

  • 12

A última reunião do ministério podia ser transmitida para casas de família. Nela, o ministro Paulo Guedes revelou que a pandemia ensinou muitas coisas ao governo e disse o seguinte:
“Aprendemos durante toda essa crise que havia 38 milhões de brasileiros invisíveis e que também merecem ser incluídos no mercado de trabalho”.

Ninguém aprendeu que existiam milhões de brasileiros sem proteção. Todo mundo sabia disso, inclusive Paulo Guedes. O que a epidemia poderá ensinar é que esse tipo de sociedade não funciona direito.

A nova moda é fingir que esse problema foi revelado pela epidemia. Passada a crise sanitária, vai-se fingir que ele também se foi. Quando isso acontecer, o capitão poderá repetir: “E daí?”.

PT ASSUSTADO

O PT começa a acordar para um pesadelo: terminada a eleição municipal, estará fora do segundo turno no Rio e em São Paulo.

FREIXO E WITZEL

deputado Marcelo Freixo disse tudo: “Alçado ao poder com apoio do Bolsonaro, Witzel cai como um aprendiz de Sérgio Cabral”.