quinta-feira, 11 de junho de 2020

O QUE A FOLHA PENSA O erro do New York Times

Jornal presta desserviço à liberdade de expressão ante protestos contra artigo

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Sede do jornal The New York Times - Angela Weiss - 6.set.18/AFP

Um teste simples pode verificar se alguém leva a sério a liberdade de expressão. A pessoa estará aprovada se, diante de um artigo que defenda de maneira enfática as ideias que mais despreza, não se opuser à sua divulgação. Muitos, incluindo jornalistas, fracassam.

Foi o caso de leitores e parte dos profissionais do jornal The New York Times, que se revoltaram com a publicação, em 5 de junho, de um artigo de opinião assinado pelo senador republicano Tom Cotton, em que o parlamentar do Arkansas advogou uma resposta militar incisiva contra as manifestações antirracistas que se espalharam por várias cidades dos EUA.

Os protestos da equipe surtiram efeito. O editor da seção, James Bennet, deixou o cargo, e o jornal divulgou uma nota de retratação em que aponta falhas técnicas no artigo, critica seu tom excessivamente duro e considera equivocada a publicação. De acordo com o documento, houve falhas no processo de edição. O veículo não removeu o texto de seus arquivos.

As ideias defendidas pelo senador Cotton são horríveis —afrontam valores básicos de uma sociedade democrática e pacífica. Ainda assim, são apenas ideias.

A deplorável proposta de enviar militares das forças regulares para reprimir manifestantes já aparecera nas páginas do próprio New York Times, quando aventada pelo presidente Donald Trump.

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Ao desenvolver o tema ao longo de vários parágrafos sem apresentar nenhum bom argumento para a intervenção, Cotton acaba revelando como era problemática a tese original. Assim, a publicação se encaixa perfeitamente nos cânones do livre debate e, dados os defeitos do texto, ainda oferece munição para os adversários.

Momentos de emoções à flor da pele não raro descambam para atos obscurantistas —veja-se a decisão da plataforma HBO Max de retirar de seu catálogo o filme “E o Vento Levou”, diante da onda de manifestações contra o racismo.

É triste que jornalistas, em particular, não compreendam o valor de publicar ideias que contrariem frontalmente as suas próprias.

Talvez haja aí um fator geracional. A maioria dos profissionais hoje em atuação se formou num período em que a liberdade de expressão jamais esteve ameaçada.

Não tem em sua memória coletiva, pois, quão difícil foi assegurar que todos tenham o direito de dizer o que pensam, qualquer que seja o conteúdo de tais pensamentos.

editoriais@grupofolha.com.br

Grupo dono da Zara anuncia fechamento de 1.200 lojas após vendas caírem 44%, FT FSP

Varejista teve quase 90% fechadas durante o período de isolamento social

LONDRES | FINANCIAL TIMES

A Inditex, maior varejista de roupas do mundo e dona das redes Zara e Massimo Dutti, sofreu seu primeiro prejuízo trimestral como empresa de capital aberto e anunciou um plano de 2,7 bilhões de euros que prevê o fechamento de 1.200 lojas como parte de uma tentativa de impulsionar as vendas.

O grupo espanhol estabeleceu na quarta-feira (10) metas de vendas online que representarão 25% do total de vendas até 2022, contra 14% no ano passado.

Os bloqueios econômicos forçaram dezenas de milhões de consumidores a confiar nas compras online para tudo, com exceção de artigos essenciais, nos últimos três meses. A Inditex, fundada pelo bilionário espanhol Amancio Ortega, planeja gastar 900 milhões de euros anualmente nos próximos três anos para melhorar sua tecnologia e enfocar em suas melhores lojas.

Loja da Zara em Paris, França - Benoit Tessier - 11.mai.2020/Reuters

Os planos de investimento ocorreram quando a Inditex reportou um prejuízo líquido de 409 milhões de euros nos três meses até o final de abril, em comparação com um lucro de 734 milhões de euros no mesmo período do ano passado. A perda trimestral mais recente inclui uma cobrança de 308 milhões de euros por seu programa de "otimização de lojas". As vendas do primeiro trimestre caíram 44% em relação ao ano anterior, para 3,3 bilhões de euros, já que quase 90% de suas lojas fecharam.

A Inditex, que ajudou a lançar o varejo de moda rápida, disse que 78% de seus 5.743 pontos de venda estão abertos hoje. O desempenho começou a melhorar em maio, e nos mercados que foram totalmente abertos na primeira semana de junho as vendas caíram apenas 16%. Todas as suas lojas espanholas estão abertas desde segunda-feira (8).

As ações da Inditex subiram 2,7% no pregão à tarde em Madri.

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Pablo Isla, presidente-executivo do grupo, disse que o estoque do grupo era 10% menor no final do trimestre do que no ano anterior. "Compramos semanalmente, e no início de maio começamos a comprar novamente", acrescentou.

Como parte de sua estratégia 2020-2022, o grupo sediado em La Coruña (noroeste da Espanha) prometeu investir 1 bilhão de euros em sistemas de TI para tornar o comércio mais flexível e eficiente e reduzir os custos de distribuição.

Além de fechar lojas, a Inditex disse que planeja abrir 450 novos pontos, avançando para um modelo de espaços maiores. A maioria das lojas menores que fecharão são as mais antigas, pertencentes a outras marcas que não a Zara.

A posição de caixa líquido da empresa ficou em 5,8 bilhões de euros no final de abril, em comparação com 6,7 bilhões em abril do ano passado, informou o grupo.

A pandemia do novo coronavírus atingiu os varejistas em uma época em que eles já enfrentavam problemas, e a pandemia provocou milhares de perdas de empregos e fechamentos permanentes de lojas no setor.

Na quarta-feira (10), os grupos de moda britânicos Monsoon e Quiz iniciaram processos de insolvência. Centenas de empregos serão eliminados no Monsoon Accessorize.

Tradução Luiz Roberto M. Gonçalves