segunda-feira, 6 de abril de 2020

Ministério muda estratégia e propõe reduzir isolamento em estados e cidades com 50% da capacidade de saúde vaga, G1

Ministério da Saúde propõe reduzir parcialmente o isolamento em cidades e estados com metade dos leitos e estrutura de saúde vagos. A medida, de acordo com o boletim divulgado nesta segunda-feira (6), passaria a valer na segunda-feira (13).
A partir da próxima semana, portanto, cidades com mais de 50% da capacidade de atendimento médico disponível poderiam passar do Distanciamento Social Ampliado (DSA) para uma transição ao Distanciamento Social Seletivo. Veja a diferença entre os dois, de acordo com documento do ministério:
  • Distanciamento Social Ampliado (DSA): Estratégia que não tem limitações apenas para grupos específicos - todos os setores da sociedade devem permanecer em isolamento.
  • Distanciamento Social Seletivo (DSS): Apenas alguns grupos ficam isolados. Pessoas com menos de 60 anos e sem condições que elevam o risco de casos graves poderão circular livremente.
As cidades que não apresentarem mais de 50% dos leitos vagos, entre outros critérios médicos, deverão manter o Distanciamento Social Ampliado até a estabilização do sistema de saúde.
"Hoje publicamos informações sobre o Distanciamento Social Ampliado, Distanciamento Social Seletivo, e Bloqueio Total (lockdown). As medidas são temporárias, localizadas e o governo federal está fazendo de tudo para que elas sejam minimizadas ao máximo possível", disse nesta segunda-feira Wanderson Oliveira, secretário de vigilância em saúde do ministério, em entrevista a jornalistas.
--:--/--:--
Brasil tem 553 mortes e 12.056 casos confirmados de coronavírus, diz Ministério da Saúde

Estado de SP mantém quarentena

Mais cedo, o governo de São Paulo ampliou a quarentena até o dia 22 de abril. A medida segue sem flexibilizações, e foi tomada para conter o avanço do coronavírus no estado. A determinação será publicada no Diário Oficial desta terça-feira (7).
"Sim, a prorrogação da quarentena será feita em São Paulo por mais 15 dias, do dia 8 até o dia 22 de abril, pelo conjunto de razões que já foram claramente expostas", afirmou o governador João Doria.
Ele ainda afirmou que os prefeitos têm a obrigação de seguir a orientação e usar o "poder de polícia em caso de desobediência".
"Nenhuma aglomeração de nenhuma espécie em nenhuma cidade ou área do estado de São Paulo será admitida. As Guardas Municipais ou Metropolitanas deverão agir", afirmou.
"Isso é constitucional, não é uma deliberação que pode ou não ser seguida. Ela deve ser seguida por todos os municípios do estado", completou.

Situação no Brasil

O último balanço dos casos de Covid-19 divulgados pelo Ministério da Saúde aponta:
  • 553 mortes
  • 12.056 casos confirmados
  • 4,6% é a taxa de letalidade
No domingo (5), havia 486 mortes e 11.130 casos confirmados. Em relação ao balanço anterior, foram acrescentadas 67 mortes e 926 casos confirmados.

OMS alerta para escassez de máscaras para profissionais da saúde, OESP

Paulo Beraldo, O Estado de S.Paulo
06 de abril de 2020 | 13h53
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou nesta segunda-feira, 6, para a possibilidade de escassez de máscaras e equipamentos de proteção necessários para profissionais da saúde. Na entrevista, ele esteve acompanhado da cantora Lady Gaga e do filantropo Hugh Evans, fundador do projeto Global Citizen, que anunciaram uma campanha para que as pessoas fiquem em casa e respeitem as medidas de distanciamento social. 
"Estamos preocupados que o uso em massa de máscaras médicas pela população em geral possa exacerbar a escassez para as pessoas que mais precisam. Em alguns lugares, a escassez está colocando em risco os trabalhadores da saúde", afirmou Tedros. A OMS continua recomendando o uso de máscaras médicas, respiradores e outros equipamentos de proteção individual em centros de saúde, mas, nas comunidades, sugere o uso de máscaras médicas apenas por pessoas doentes e por aqueles que cuidam dos doentes. 
"Eles estão morrendo enquanto salvam vidas. Cada indivíduo precisa reconhecer o papel dos profissionais da saúde e ajudá-los, protegê-los e respeitar o que eles têm feito", afirmou Tedros.
Tedros
Tedros Adhanom, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS)  Foto: REUTERS/Denis Balibouse
Segundo a instituição, países podem considerar o uso de máscaras apenas em comunidades onde medidas como lavar as mãos e adotar o distanciamento físico sejam mais difíceis de implementar. Tedros destacou ainda que somente as máscaras não podem parar a pandemia e que os países devem testar, isolar e tratar todos os casos e rastrear todas as pessoas que tiveram contato com infectados. 
A OMS lançou nesta segunda a campanha #TogeterAtHome (Juntos em casa) para que em 18 de abril as pessoas estejam em casa e acompanhem um show com artistas como Lady Gaga, Elton John, Chris Martin, John Legend, Andrea Bocelli, Paul Mccartney e Alanis Morissette. 

Heranças da pandemia, Daniel Martins de Barros, O Estado de S.Paulo

A covid-19 não cria quase problema, e sim amplifica os que já nos cercam há tempos


06 de abril de 2020 | 05h00
Tenho dado muitas entrevistas e conversado com muita gente sobre os aspectos emocionais e psicológicos da pandemia em que nos encontramos. E embora os públicos sejam variados, as perguntas são mais ou menos as mesmas. O que não surpreende, já que estamos todos atravessando a mesma tempestade. 
LEIA TAMBÉM >O novo normal
Refletindo sobre as questões mais frequentes, que vão de preocupações leves até grandes angústias, comecei a me dar conta de que a covid-19 não cria quase nenhum problema. O que ela faz é amplificar – em alguns casos em escala exponencial, é verdade – os problemas que já nos cercam há tempos. Muitos são tão entranhados em nossa sociedade, contudo, que achávamos que podíamos passar a vida os ignorando. Mas eis que chega uma pandemia e joga tanta luz sobre eles que já não conseguimos enxergar outra coisa. 
Faça o teste. Escolha qualquer uma das dificuldades atuais, sejam os desconfortos diários que não ganham as manchetes, sejam os enormes desafios enfrentados pelos líderes mundiais, e reflita sobre como aquela questão vinha sendo tratada antes da pandemia. Irá se surpreender ao descobrir que o problema já estava lá. 
Veja a angustiante questão dos idosos. População de risco especialmente alto para caírem vítimas do novo coronavírus, são eles os que mais precisam ficar isolados. E por isso de repente tomamos consciência de que eles estão lá, sozinhos, tendo que se virar para dar conta da vida, lutando contra a redução de sua autonomia, sem poder contar com nossa presença. Como se grande parte deles não estivesse exatamente na mesma situação antes. Isolados, perdendo autonomia, lutando para manter a dignidade, sem poder contar com nossa presença. Como estavam presentes nas reuniões de família, nem pensávamos que nos outros dias, sem festa nem ligações, continuavam lá, talvez precisando de uma assistência que não queriam pedir e ninguém lembrava de oferecer. A pandemia não nos deixa esquecer mais. 
E a falta de vagas em UTIs? Como qualquer funcionário da saúde pode confirmar, a falta de vagas de UTI está muito longe de ser um problema recente. Há anos minha falecida avó teve um mal súbito e precisou ficar entubada no pronto-socorro porque não havia vaga para ela na UTI. Quando finalmente surgiu um leito, um jovem vítima de acidente deu entrada no hospital. Era ele ou minha avó. Essa história de que os médicos precisarão escolher quem vive e quem morre, portanto, também não é de hoje, acontece todos os dias longe dos nossos olhos. O que a pandemia faz ao agravar o problema é nos impedir de virar o rosto. 
Até os problemas mais prosaicos podem ser enxergados dessa perspectiva. A aflição que muitos sentem por ter que ficar sozinhos com seus próprios pensamentos, revela mais sobre nós do que sobre o vírus. Há 400 anos o filósofo Blaise Pascal já havia dito que todos os problemas da humanidade vêm da incapacidade de as pessoas ficarem quietas num quarto. O horror que temos ao silêncio e ao tédio é porque trazem à tona os sentimentos e pensamentos dos quais fugimos usando toda distração de que nos cercamos no dia a dia. Distrações que a pandemia faz cessar. 

Enxurrada de divórcios, aumento da violência doméstica, dificuldade em participar da educação dos filhos, escassez de equipamentos de proteção para profissionais de saúde, carência dos cientistas, falta de verba para pesquisa. Diga um drama trazido à tona pela atual calamidade que já não estivesse aí. 
Sou bastante cético quanto ao que a pandemia pode nos ensinar. Mas, apesar disso, tenho uma esperança. Talvez, por termos sido forçados a olhar para diversos problemas que preferíamos ignorar, resolvamos corrigir algumas coisas. Se aproveitarmos para transformar estruturas, reformar normas, construir pontes, poderemos criar uma sociedade melhor. E quando no futuro nossos descendentes se perguntarem por que os cientistas ganham tão bem, por que os idosos são tão respeitados, por que a escola obriga que os pais participem das lições de casa ou qualquer outro costume que então será antigo, alguém dirá: ah, isso é herança da pandemia de covid-19. 
*É PSIQUIATRA