sábado, 3 de novembro de 2018

Informalidade bate recorde no país e já atinge 43% dos trabalhadores, FSP

Anaïs FernandesLarissa Quintino
SÃO PAULO
A cada 10 brasileiros que estavam trabalhando no terceiro trimestre deste ano, cerca de 4 atuavam na informalidade, apontam os dados da mais recente Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Entre junho e setembro, o país registrou 92,6 milhões de pessoas ocupadas.
Dessas, quase 43%, ou 39,7 milhões de pessoas, não tinham carteira assinada, somando empregados do setor privado e público sem registro, trabalhadores por conta própria sem CNPJ, trabalhadores doméstico sem carteira e quem trabalha em família.
Esse é o maior percentual trimestral registrado pela Pnad desde que o levantamento começou a separar os conta própria com e sem CNPJ, no fim de 2015.
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A maquiadora Cássia Lins Barbosa Vila Real, 31, que tenta uma vaga formal para trabalhar em meio período - Adriano Vizoni/Folhapress
No terceiro trimestre deste ano, a taxa de desemprego no país ficou em 11,9%, 0,5 ponto percentual abaixo da registrada no mesmo período do ano passado.
O alívio veio com o avanço de 1,5% na população ocupada, resultado da entrada de 1,3 milhão de pessoas no mercado de trabalho —especialmente na informalidade.
Thiago Xavier, analista da consultoria Tendências, observa que, desse contingente, 601 mil trabalhavam no setor privado sem carteira assinada e outros 585 mil atuavam por conta própria —sendo 236 mil sem registro.
"A rota de entrada é a informalidade porque, na comparação anual, o trabalho com carteira [no setor privado] ainda registrou perda de 328 mil pessoas", afirma.
Desempregada há sete meses, Cássia Lins Barbosa Vila Real, 31, tem se virado com trabalhos por conta própria de maquiadora para pagar as contas. Ela afirma que o seu rendimento caiu 30% desde que foi demitida, em abril.
Ela tem conseguido conciliar os trabalhos eventuais com a educação do filho, de uma ano e três meses, mas procura uma oportunidade de voltar para o mercado formal.
"Se eu achar algo por meio período, melhor ainda. Só trabalhando por conta própria a renda é muito baixa", diz.
Essa não foi a primeira vez que Cássia teve que se reinventar.
Antes de entrar no mercado de beleza, ela trabalhou oito anos na gigante IBM, na parte de atendimento e também com vendas.
Em 2014, a empresa fez cortes e, até ela se recolocar, dessa vez na nova profissão, foram dois anos sem trabalho.
Segundo a maquiadora, além da falta de carteira assinada, os custos do trabalho por conta própria são o que mais dificulta a renda.
"Bancar produtos e transporte e não ter o trabalho valorizado, com o pessoal sempre querendo pagar menos, desmotiva, mas vou nessa até conseguir algo formal", afirma ela, que cobra R$ 150 por cada maquiagem feita.
Não é só a renda do informal que não avança. O rendimento médio real habitualmente recebido pelos ocupados (R$ 2.222) e a massa salarial (R$ 200,7 bilhões) —soma dos os rendimentos brutos recebidos em todos os trabalhados pelos ocupados— mantiveram-se estáveis no terceiro trimestre, afirma Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
"Isso demonstra que as vagas que foram criadas são de baixo impacto salarial", diz.
O fenômeno monetário também pode ser observado no Caged (Cadastro de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho), que capta os números do mercado formal brasileiro.
Em setembro, o saldo de vagas foi o melhor para o mês em cinco anos, com 137.336 postos positivos entre admitidos e desligados.
Apesar disso, a média de salário para os trabalhadores admitidos foi a menor dos últimos dez meses: R$ 1.516,89.
Segundo Clemente Granz Lucio, diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), há várias possíveis causas para o fenômeno: o acumulado da inflação, a alta rotatividade do mercado, o perfil das vagas que estão contratando --que são mais operacionais no setor de serviços-- e a precarização da mão de obra, com alto número de informais.
"O repique da inflação influencia nos salários de admissão. E as funções que mais contratam, que são do setor de serviços, oferecem até 1,5 salário mínimo [R$ 1.431]. Tudo isso ajuda a puxar o salário médio para baixo."
O setor de serviços, mencionado por Lucio, foi responsável por 44,3% das contratações em setembro, fechando com um saldo de 60.961 no período, segundo o Caged.
Maria Andréia Lameiras, técnica de planejamento e pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), diz que a queda no salário médio de entrada não é necessariamente ruim.
"Um salário alto não significa que o mercado está bombando. Às vezes, ele está muito alto porque tem só um setor que paga mais contratando", afirma.
Segundo ela, o dado do Caged é positivo porque demonstra que o mercado está trazendo de volta uma população com qualificação mais baixa, que já estava havia muito tempo desempregada.
Os especialistas afirmam que um caminho possível seria que, após retornar ao mercado pela informalidade, o trabalhador migrasse para um emprego com carteira.
Foi o caso do motorista Nivaldo Constantino, 46, que voltou à formalidade após um período sem carteira.
Ele perdeu o emprego como motorista de uma empresa em junho deste ano e passou a utilizar sua moto para fazer entregas.
No mês passado, a mesma empresa que o demitiu ofereceu um novo emprego, dessa vez como motorista de motocicleta.
"A necessidade me abriu uma nova área de trabalho, e a partir disso pude voltar. Estou feliz, com carteira assinada e recebendo praticamente a mesma coisa que antes", diz Nivaldo.
Há ainda quem tenha feito do trabalho por conta própria uma nova profissão.
O mestre de obras autônomo Marcelo de Almeida, 41, foi exonerado da Polícia Militar de São Paulo há cinco anos e viu na necessidade a oportunidade para iniciar uma nova carreira.
Ele afirma que desde os 13 anos trabalhava com construção. Deixou as obras para entrar na polícia e, depois de 16 anos, precisou voltar.
"Comecei a pegar algumas obras e estou nessa há cinco anos. Não penso em trabalhar com outra coisa."
Apesar de ter tanto tempo trabalhando como autônomo, Almeida não pretende abrir uma empresa por causa dos altos custos e da burocracia.
"Tenho um contador, pago direitinho o pessoal que trabalha pra mim, mas não tenho como ter uma empresa e assinar carteira. A condição que tenho hoje está boa", diz.

Nos EUA, emprego avança com força e salário tem maior ganho desde 2009, FSP

Desemprego está estável em 3,7%, a taxa mais baixa em 49 anos

WASHINGTON
O crescimento do emprego nos EUA se recuperou com força em outubro e os salários domésticos tiveram o maior ganho anual em nove anos e meio, apontando para um aperto no mercado de trabalho que poderia encorajar o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a aumentar as taxas de juros novamente em dezembro.
O d esemprego está estável em 3,7%, em linha com o esperado por analistas, taxa mais baixa em 49 anos,  mesmo com mais pessoas entrando na força de trabalho, em um sinal de confiança no mercado.
A força sustentada do mercado de trabalho pode aliviar os temores sobre a saúde da maior economia do mundo, após dados fracos do setor de habitação e de uma parada nos gastos empresariais.
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Placa com aviso de contratação em frente ao hotel Embassy Suites, em Massachusetts, nos EUA - Brian Snyder/Reuters
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A geração de postos de trabalho no setor não agrícola somou 250 mil novas vagas no mês passado. Economistas previam 190 mil novos postos.
O setor de lazer e hospedagem apresentou recuperação após ser pressionado pelo furacão Florence, que atingiu a Carolina do Norte e Carolina do Sul em setembro.
Também houve ganhos nos setores manufatureiro, de construção e serviços profissionais e de negócios.
Os dados de setembro foram revisados para 118 mil novas vagas, contra 134 mil relatados anteriormente.
O Departamento de Trabalho informou que o furacão Michael, que atingiu a Flórida em outubro, não teve efeito nos números para outubro.
Os ganhos médios por hora subiram US$ 0,05, ou 0,2%, após avançar 0,3% em setembro. Isso impulsionou o aumento anual dos salários para 3,1%, o maior ganho desde abril de 2009. Em setembro, a alta havia sido de 2,8%.
O forte ganho salarial reflete outros dados publicados nesta semana, mostrando que os salários aumentaram no terceiro trimestre com mais força desde meados de 2008. A remuneração por hora também aumentou em ritmo acelerado no terceiro trimestre.
Os salários firmes apoiam as visões de que a inflação vai pairar em torno da meta de 2% do Fed por um tempo.
Não é esperado que o Fed aumente as taxas em sua reunião de política na semana que vem, mas economistas acreditam que os fortes dados do mercado de trabalho de outubro possam fazer com que o banco central dos EUA sinalize um aumento em dezembro. O Fed elevou os juros em setembro pela terceira vez neste ano.

Saiu da magistratura, não volta mais’, diz Ajufe. Rezek saiu e voltou Frederico Vasconcelos, FSP


Em entrevista aos jornalistas Fábio Zanini e Wálter Nunes, publicada neste sábado (3) na Folha, o presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil), Fernando Mendes, diz que “a decisão de sair da magistratura para assumir um cargo no Executivo ou no Parlamento é escolha pessoal de cada um”.
“Mas é uma posição definitiva. Somos contra a ideia de alguns que propõe o retorno ao cargo depois desse tipo de decisão”, diz. Mendes se referia ao governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que em recente entrevista ao jornal defendeu que um juiz deve poder voltar ao cargo após uma candidatura ou a participação em governos.
O presidente da Ajufe vê positivamente a ida do juiz federal Sergio Moro para o ministério da Justiça. Segundo ele, o Poder Judiciário, no governo Bolsonaro, terá uma função moderadora, e será garantidor de que não haverá retrocessos no campo dos direitos.
Segundo o presidente da Ajufe, “você saiu da magistratura, não volta mais”.
“Se tivéssemos uma porta giratória, seria um grande problema, porque hoje você é juiz, amanhã você é parlamentar, depois volta a ser juiz e volta a julgar aqueles colegas ou seus adversários políticos. Isso não é permitido no nosso modelo.”
Em março de 1983, Francisco Rezek, então asssessor extraordinário do ministro chefe da Casa Civil Leitão de Abreu, foi convidado durante o governo do general João Batista Figueiredo para ocupar uma vaga no Supremo, no lugar do ministro Xavier de Albuquerque. Tornou-se, aos 39 anos, o mais jovem ministro do STF.
Em 14 de março de 1990 renunciou ao cargo, foi exonerado no dia seguinte e tornou-se ministro de Estado das Relações Exteriores, função que exerceu até 13 de abril de 1992.
Em 4 de maio de 1992, Rezek foi nomeado pela segunda vez ministro do Supremo, indicado pelo então presidente Fernando Collor para ocupar a vaga aberta com a aposentadoria do ministro Célio Borja.
Posteriormente, Rezek declarou-se impedido para julgar Fernando Collor, acusado de envolvimento num amplo esquema de corrupção, uma vez que pertencera ao primeiro escalão de seu governo.
Também declarou-se impedido de relatar o inquérito que apurava irregularidades contra a ex-ministra da Economia Zélia Cardoso de Melo, sob a justificativa de que havia participado do governo Collor.