sábado, 3 de novembro de 2018

Após 'apoio estridente' a Bolsonaro, evangélicos devem defender democracia, diz líder presbiteriano. FSP

Estranhos são os tempos quando temos de torcer por um estelionato eleitoral. Simplesmente não há outra opção. 
Se Bolsonaro cumprir suas (poucas) promessas de campanha, o destino do Brasil não vai ser diferente do das Filipinas, onde Rodrigo Duterte assumiu com um discurso de bala e bíblia similar ao da extrema direita brasileira.
Duterte, diferentemente de Bolsonaro, assumiu a Presidência com uma economia aquecida, crescendo a 6,5% ao ano. A sua má gestão da economia ainda não afetou o PIB, mas já jogou a inflação para cima da meta. 
Jair Bolsonaro faz gesto de arma com mão de criança durante discurso em Goiânia
Jair Bolsonaro faz gesto de arma com mão de criança durante discurso em Goiânia - 19.jul.18/Mais Goiás
Sua única política decente, uma tímida reforma fiscal, foi contrabalançada por um descontrole de gastos públicos. 
No combate ao crime, Duterte levou a cabo suas promessas. Sob seu governo, o foco na segurança sem real plano adequado para isso trouxe dois resultados: o número de crimes diminuiu no agregado (9%), mas os assassinatos explodiram (mais de 22%, a maioria por policiais e milícias).
Combater o crime requer inteligência, algo em falta na cúpula do nosso novo governo. Sem isso, o mandato de combater o crime a todo custo vai levar ao que aconteceu nas Filipinas: disparo no número de assassinatos, com redução do crime pelo patrulhamento ostensivo e táticas de medo que não são sustentáveis no longo prazo. 
Seguir políticas tresloucadas similares aos de um país com renda média de um quarto da brasileira não parece ser a solução para os problemas de violência em Terra Papagalis.
A única esperança que temos é que o novo presidente cometa um estelionato eleitoral e ignore as promessas de campanha. Isso é relativamente comum no Brasil. 
Lula assumiu o governo, em 2003, com desemprego e inflação nos dois dígitos. Fez campanha prometendo empregos a qualquer custo. Entregou a manutenção do tripé macroeconômico para limitar aumento de preços, foi acusado de estelionatário por uma ala do partido e dessa briga surgiu o PSOL
Dilma buscou a reeleição prometendo continuar as estultices da Nova Matriz Econômica, mas assumiu e colocou no lugar Joaquim Levy, sinalizando uma saída mais ortodoxa para a crise fiscal. 
Normalmente é saudável que um candidato mantenha suas promessas de campanha. No Brasil, contudo, talvez o melhor caminho seja o jeitinho de prometer uma coisa e entregar outra. Caso contrário, não só vamos continuar na dianteira no número de assassinatos no mundo mas vamos acumular mais recordes trágicos.
O caso de Trump também é emblemático. Muitos esperavam que a retórica populista, recheada de promessas atrozes, como a guerra comercial com a China, o combate cego à imigração e a saída do país do acordo com o Irã, fosse ser abandonada após a eleição. Não aconteceu. 
Pior, Trump foi além das suas promessas de campanha, chegando a aprisionar e maltratar crianças que teriam entrado ilegalmente no país. 
É consenso que a economia americana, como a filipina, vai bem APESAR do presidente. Mas a economia brasileira está em frangalhos, e um presidente que coloque suas energias em liberação de porte de armas e incentivos para que a polícia combata o crime custe o que custar vai nos levar para o abismo mais rápido.
Precisamos de um Bolsonaro desonesto, que cometa em alto e bom som um estelionato eleitoral, abandonando a retórica populista que alimenta o terrorismo do dia a dia e criando soluções de consenso que junte as peças de um país quebrado. Se o novo presidente for somente um cínico pragmático, estaremos no lucro.

Única esperança é que o novo presidente cometa um estelionato eleitoral, Rodrigo Zeidan ,FSP

Estranhos são os tempos quando temos de torcer por um estelionato eleitoral. Simplesmente não há outra opção. 
Se Bolsonaro cumprir suas (poucas) promessas de campanha, o destino do Brasil não vai ser diferente do das Filipinas, onde Rodrigo Duterte assumiu com um discurso de bala e bíblia similar ao da extrema direita brasileira.
Duterte, diferentemente de Bolsonaro, assumiu a Presidência com uma economia aquecida, crescendo a 6,5% ao ano. A sua má gestão da economia ainda não afetou o PIB, mas já jogou a inflação para cima da meta. 
Jair Bolsonaro faz gesto de arma com mão de criança durante discurso em Goiânia
Jair Bolsonaro faz gesto de arma com mão de criança durante discurso em Goiânia - 19.jul.18/Mais Goiás
Sua única política decente, uma tímida reforma fiscal, foi contrabalançada por um descontrole de gastos públicos. 
No combate ao crime, Duterte levou a cabo suas promessas. Sob seu governo, o foco na segurança sem real plano adequado para isso trouxe dois resultados: o número de crimes diminuiu no agregado (9%), mas os assassinatos explodiram (mais de 22%, a maioria por policiais e milícias).
Combater o crime requer inteligência, algo em falta na cúpula do nosso novo governo. Sem isso, o mandato de combater o crime a todo custo vai levar ao que aconteceu nas Filipinas: disparo no número de assassinatos, com redução do crime pelo patrulhamento ostensivo e táticas de medo que não são sustentáveis no longo prazo. 
Seguir políticas tresloucadas similares aos de um país com renda média de um quarto da brasileira não parece ser a solução para os problemas de violência em Terra Papagalis.
A única esperança que temos é que o novo presidente cometa um estelionato eleitoral e ignore as promessas de campanha. Isso é relativamente comum no Brasil. 
Lula assumiu o governo, em 2003, com desemprego e inflação nos dois dígitos. Fez campanha prometendo empregos a qualquer custo. Entregou a manutenção do tripé macroeconômico para limitar aumento de preços, foi acusado de estelionatário por uma ala do partido e dessa briga surgiu o PSOL
Dilma buscou a reeleição prometendo continuar as estultices da Nova Matriz Econômica, mas assumiu e colocou no lugar Joaquim Levy, sinalizando uma saída mais ortodoxa para a crise fiscal. 
Normalmente é saudável que um candidato mantenha suas promessas de campanha. No Brasil, contudo, talvez o melhor caminho seja o jeitinho de prometer uma coisa e entregar outra. Caso contrário, não só vamos continuar na dianteira no número de assassinatos no mundo mas vamos acumular mais recordes trágicos.
O caso de Trump também é emblemático. Muitos esperavam que a retórica populista, recheada de promessas atrozes, como a guerra comercial com a China, o combate cego à imigração e a saída do país do acordo com o Irã, fosse ser abandonada após a eleição. Não aconteceu. 
Pior, Trump foi além das suas promessas de campanha, chegando a aprisionar e maltratar crianças que teriam entrado ilegalmente no país. 
É consenso que a economia americana, como a filipina, vai bem APESAR do presidente. Mas a economia brasileira está em frangalhos, e um presidente que coloque suas energias em liberação de porte de armas e incentivos para que a polícia combata o crime custe o que custar vai nos levar para o abismo mais rápido.
Precisamos de um Bolsonaro desonesto, que cometa em alto e bom som um estelionato eleitoral, abandonando a retórica populista que alimenta o terrorismo do dia a dia e criando soluções de consenso que junte as peças de um país quebrado. Se o novo presidente for somente um cínico pragmático, estaremos no lucro.

O governo deveria reduzir o volume de reservas internacionais do país? NÃO, FSP

Primeiro o dever de casa

Homem conta cédulas de dólares - Marcelo Fonseca - 15.out.14/Folhapress
Rodrigo Azevedo
Reservas internacionais funcionam como um seguro contra crises externas. Diante de uma parada abrupta de financiamento, permitem mitigar impactos adversos, tais como maior inflação e desemprego.

Quanto de reservas precisa o Brasil? Não há resposta inequívoca, mas cálculos do FMI, por exemplo, estimam cerca de US$ 250 bilhões. Ao nível atual de US$ 380 bilhões, seria possível pensar em reduzi-las.

Além de economia significativa em seu custo de manutenção, a venda de dólares e recompra de títulos do governo reduziriam a dívida pública.

No entanto, a avaliação justa de um seguro deve levar em conta não só seus custos mas também seus benefícios. E o benefício de um seguro sempre é maior onde há vulnerabilidade e maior exposição a risco.

No Brasil, nossa maior vulnerabilidade é interna. Apesar de contas externas sólidas, a piora expressiva da situação fiscal a partir de 2013 resultou em rebaixamentos na classificação de crédito, e estamos agora três graus abaixo do grau de investimento --fronteira entre bons e maus pagadores.

Nessa situação, há maior chance de sofrermos "acidentes" em que o seguro seria útil. Hoje, cada dólar das reservas nos é mais valioso do que em 2008, quando tínhamos "grau de investimento". Isso sugere uma regra de bolso: não deveríamos mexer em nossas reservas internacionais até que retomemos a classificação de bom pagador.

Será que poderíamos inverter a ordem? Afinal, ao reduzir as reservas, aceleraríamos a redução da dívida pública e poderíamos, em tese, voltar mais rapidamente para o grau de investimento. No entanto, diante de incertezas associadas à consolidação fiscal, parece uma estratégia imprudente. Com um timing equivocado, arriscamos a nos ver com reservas e ajustes de menos e crise de mais, atrasando o processo em vez de acelerá-lo.

A conjuntura internacional tampouco é recomendável. Um cenário mais desafiador nos espera, envolvendo combinação adversa entre juros em alta nos EUA, desaceleração na China e conflitos comerciais, entre outros. O provável resultado: liquidez global mais restrita e escassez de dólares. Justo neste momento vamos abrir mão de nossas reservas?

Pelo lado dos custos, se levarmos em conta a desvalorização do real desde 2004, eles têm sido significativamente mais baixos do que reza o senso comum. Adicionalmente, tais custos estão em queda. Este ano serão bem menores, diante de juros globais em alta e juros no Brasil na mínima histórica, tendência que deve se exacerbar se acelerarmos o ajuste fiscal, como sinaliza o novo governo.

Por fim, o estoque de swaps cambiais, de US$ 69 bilhões, reduz ainda mais o custo de carregamento, já que se inverte a remuneração: ao receber em reais e pagar custo em dólares, abate-se involuntariamente parte do peso das reservas.

Quanto ao estoque da dívida, parece atrativa à primeira vista a ideiade, a R$ 5 o dólar, vender US$ 100 bilhões e reduzir a dívida pública em R$ 500 bilhões, ou 7,2% do PIB. Exceto por um detalhe: se a taxa de câmbio estiver nesse nível, algo muito errado estará em curso. E seria temerário a um país se desfazer de parte do seu seguro justamente no ápice de uma crise de confiança.

Por último, as reservas não podem ser "intocáveis". Pelo contrário, só têm valor se puderem ser usadas pelo BC como instrumento para garantir o bom funcionamento do mercado de câmbio. Reduzir seus volumes neste contexto não é um problema: elas existem exatamente para isso.
Rodrigo Azevedo
Ex-diretor de política monetária do Banco Central (2004-2007, governo Lula) e sócio-fundador da Ibiuna Investimentos