sábado, 7 de maio de 2016

NOTÍCIAS DO METRÔ DE SÃO PAULO, do blog do Ralph

NO

blogpontodeonibus.wordpress.comO jornal Folha de S. Paulo publicou hoje artigo com o título "Metrô de SP diminui número de trens em operação nas quatro linhas". Ou seja, nas linhas que não são privatizadas - 1, 2, 3 e 5.

Segundo o jornal, o Metrô tinha 141 trens em operação em 2011. Hoje teria 10 por cento a menos, ou seja, cerca de 127 trens. Em janeiro deste ano, teria sido este o número, que transportavam mais de um bilhão de passageiros em 2015. Entre 2011 e 2015, houve épocas, ainda segundo A Folha, em que houve à disposição 117 e 121 trens apenas. A reportagem que, com menos trens, mais lotados eles estarão. Matematicamente está correto. Mas fará mesmo tanta diferença assim?

Houve aumento no tempo de espera dos trens nas linhas 1 e 3. Houve redução (pequena) na linha 2. O intervalo entre os trens aumentou nas linhas 1 e 5. Foi tudo isto um grande problema para os usuários? Na verdade, o que mais afeta os serviços e que o usuário percebe são os atrasos e problemas causados quando há falhas - geralmente elétricas - que acontecem atrasando trens e também dias de chuva, que obriga os trens a reduzir suas velocidades.

Os trens cheios e apertados dos horários de pico existem desde o início de operações do metrô, e existirão sempre. Isso acontece no mundo inteiro. O metrô de São Paulo nunca foi o melhor do mundo, mas certamente é o melhor do Brasil e certamente está longe de ser o pior do mundo.

Se o governo resolveu por essa redução, deve haver um ou mais motivos. Redução de custos é um deles. Afinal, a crise brasileira de 2015 e 2016 afetou também estados e prefeituras. Além disso, o Metrô separou algumas composições para serem canibalizadas: isto economiza a compra de peças que já estão se tornando difíceis de encontrar no mercado e também acaba sendo uma medida de economia.

Tudo isto está correto? O Governo do Estado, acionista principal, está fazendo bobagem? Está piorando o serviço de forma a diminuir a confiabilidade no sistema?

Difícil dizer. Eu não gostaria de ser o governador ou diretor do Metrô, realmente. Quanto aos artigos dos jornais, desde sempre, a maioria esmagadora das notícias relacionadas a ferrovias (metrô é ferrovia, sim!!!) sempre são reclamações ou sobre acidentes, seja ele um descarrilamento no pátio de manobras como os do tipo sanguinário com dezenas de mortes - que, graças a Deus, não têm acontecido.

Mario Vargas Llosa diz que Brasil está dando exemplo de combate à corrupção, in OESP

Mais de 40 obras de ficção e não ficção, peças, livros infantis. Milhares de artigos publicados em jornais de todo o mundo sobre temas que vão da política internacional aos clássicos universais. Conferências e mais conferências. Mario Vargas Llosa, 80 anos, não para. E não quer parar. “Essa é uma maneira de me manter vivo até o final, escrevendo, com projetos, de tal maneira que a morte seja uma surpresa, um acidente”, disse o prêmio Nobel de 2010 e colunista do Estadonesta entrevista feita no início da tarde de sexta, 6, por telefone, desde Buenos Aires, onde parou antes de desembarcar em São Paulo. Na segunda-feira, 9, ele participa do Fronteiras do Pensamento. 
Confira trechos da conversa em que o escritor falou sobre democracia, populismo, Dilma, Donald Trump e, claro, literatura e seu mais recente romance, Cinco Esquinas, que será lançado pela Alfaguara em outubro.
Por que 'Cinco Esquinas'?
Esse é o nome de um bairro de Lima muito importante nos séculos da colônia e que depois entrou em decadência. Teve uma ressurreição no começo do século 20, quando ganhou prestígio pela música. E foi decaindo de novo e se transformando num bairro violento pelo narcotráfico e prostituição. Pareceu um título simbólico para um romance em que os personagens nasceram e viveram lá e também pela história de auge e decadência, de violência. É um pouco um símbolo da história que o livro conta.
E qual foi a história que o senhor quis contar?
O livro descreve a vida nos instantes finais da ditadura de Fujimori, que foram de grandes incertezas. Havia terrorismo de todos os lados. A delinquência comum cresceu muito com a violência política. O toque de recolher aumentava a claustrofobia e a paranoia dos peruanos. Minha primeira ideia era mostrar como a ditadura, especialmente Vladimiro Montesinos, que era o nome forte, usou a imprensa marrom para combater os críticos do regime, envolvendo-os em escândalos muitas vezes inventados. E esse tipo de jornalismo é um fenômeno do nosso tempo, no primeiro e no terceiro mundo, e está no auge. Eu queria que o eixo central da história ocorresse ao redor do uso da imprensa com intenção política, mas o projeto cresceu até se converter num mural da sociedade peruana nesses momentos truculentos.
O senhor situa a obra nesse momento de incerteza. Pensando na América Latina, vivemos hoje um momento de incerteza? Como estão nossas democracias?
Sou otimista. A maioria está estusiasmada com a ideia de que a democracia é o único caminho ou está resignada e sabe que não há alternativa. O que está acontecendo em países como a Argentina, por exemplo, é muito estimulante: uma mudança radical no repúdio ao populismo e à demagogia socializante e uma tomada de consciência de que a democracia e as reformas liberais são as únicas que podem trazer uma modernização rápida. E há um movimento anticorrupção e o Brasil é um exemplo. Esse movimento, muito sadio, busca a purificação da democracia porque a corrupção é uma gangrena que destrói a confiança nas instituições. E o que ocorre agora no Brasil revela um espírito do que está muito estendido no continente: um grande repúdio à corrupção. Mas este não é um fenômeno que quer uma volta ao passado, ao populismo. É um aperfeiçoamento da democracia.
Como vê o processo de impeachment da presidente Dilma? 
Com otimismo. No Brasil, há uma espécie de catarse da qual participa uma imensa quantidade de brasileiros que querem uma democracia decente e honrada, e não uma democracia de políticos que aproveitam o poder para enriquecer. O Brasil está dando um exemplo pela maneira radical com que está combatendo e querendo castigar os culpados pela corrupção. Que nas próximas eleições os brasileiros sejam mais lúcidos e não votem novamente em ladrões e escolham políticos honrados.
Os partidos de esquerda estão em crise na América Latina?
Os partidos, de uma forma geral, estão em crise. Os partidos que antes canalizavam a participação dos cidadãos na vida política se converteram em máquinas eleitorais. Eles precisam se renovar e voltar a ser representativos porque sem eles não há democracia funcional. 
Como imagina que teria sido sua vida se tivesse sido eleito presidente do Peru?
O que importa é a história que tivemos, e é ela que precisamos corrigir e utilizar como ponto de partida para um futuro. Há razões para o otimismo. Não se compara a América Latina de hoje com a de 20, 30 anos atrás, quando não havia base sólida para a democracia. Havia os partidários das ditaduras e a utopia comunista. Esses mitos desmoronaram. Com exceção de Cuba e da Venezuela, todo o resto do continente tem governos democráticos. Democracias imperfeitas, claro. Estamos num momento fronteiriço em que as perspectivas são mais otimistas que negativas.
E quando pensamos nos Estados Unidos, com Donald Trump sendo nomeado candidato?
Isso é muito preocupante, pois mostra que o populismo pode chegar às sociedades mais avançadas. 
Por que acha que os americanos deram essa abertura toda a Trump e fizeram com que sua popularidade crescesse tanto?
A crise econômica afetou muito os Estados Unidos. Há ressentimento pela queda no padrão de vida, pela falta de emprego. E também por certos mitos, como o do imigrante que vai roubar trabalho e que ele leva violência ao país. Tudo isso é pura fantasia mentirosa que nasce de preconceitos muito enraizados em toda a sociedade contra os estrangeiros. E Trump, em sua campanha, apelou aos piores instintos. Esperemos que a maioria dos norte-americanos não respalde uma candidatura tão demagógica e tão pouco responsável.
Em sua trajetória, literatura e política andam lado a lado. 
Isso é muito frequente com os escritores da América Latina, que não podem deixar de participar do debate público pela gravidade dos problemas que enfrentam e que afetam muitíssimo a vida cultural: a luta contra a censura, a defesa dos direitos humanos, da liberdade crítica, da liberdade de expressão. 
Isso, nos debates do dia a dia e nos livros?
As obras devem ter uma perspectiva maior que a atualidade. Uma obra literária que dependa inteiramente da atualidade pode se converter, muitas vezes, em propaganda ou puramente em informação ou reportagem. A literatura tem que fincar raízes em problemas mais amplos que os da política contemporânea. Isso vale para todas as artes. Se é para ser político, que escreva artigos, ensaios, que dê conferências.
O que faz o senhor continuar escrevendo?
Será assim até o último dia. Essa é uma maneira de me manter vivo até o fim, escrevendo, com projetos, de tal maneira que a morte seja uma surpresa, um acidente. O importante é não morrer sem vida, antes do tempo. 
A festa pelos seus 80 anos foi grande. Está feliz? 
Muito. 
O senhor está doando sua biblioteca para sua cidade natal. Qual livro manteria até o fim?
Um só? Guerra e Paz, de Tolstoi. Primeiro, porque é um livro extraordinário. Depois, porque é muito extenso e me ocuparia muito tempo. 

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Funcionalismo inchado e caro - EDITORIAL O ESTADAO


O ESTADO DE S.PAULO - 01.05

O governo Dilma Rousseff bateu mais um recorde. Em 2015, o peso das despesas com o pagamento dos servidores públicos federais foi o maior em 17 anos. Segundo dados do Ministério do Planejamento, o governo gastou 39,2% de suas receitas com a folha de pagamento do funcionalismo federal. Ainda que o porcentual não ultrapasse os limites legais – desde o ano 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal determina que o governo só possa gastar até 50% de suas receitas correntes líquidas com a folha de pagamento –, trata-se de mais um dado a confirmar a triste situação das finanças públicas do governo federal.

Na série histórica sobre a relação entre despesas com pessoal e receitas, o maior porcentual foi verificado em 1995, quando 54,5% das receitas eram usadas com gastos de pessoal. Depois, o menor nível ocorreu em 2005, quando 27,3% das receitas foram usadas para pagar funcionários públicos.

De acordo com o Ministério do Planejamento, até novembro de 2015 o governo federal tinha nos Três Poderes 2,19 milhões de pessoas em sua folha. Desse total, 55,3% estão na ativa, 26% são aposentados e 18,7%, pensionistas. O total da folha de pagamento em 2015 foi de R$ 255,3 bilhões, dos quais R$ 151,7 bilhões foram destinados ao pagamento de salários, R$ 66,2 bilhões a aposentadorias e R$ 37,3 bilhões a pensões.

O aumento do peso econômico do funcionalismo para o País pode também ser observado na proporção entre despesas com a folha e o Produto Interno Bruto (PIB). Em 2015, o gasto com o funcionalismo representou 5,3% do PIB. Trata-se do pior resultado desde 1995.

Em 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, as despesas com o funcionalismo representaram 5% do PIB. Em 2010, último ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o porcentual ficou em 4,7%. No primeiro ano de governo Dilma Rousseff, o porcentual caiu para 4,5%. Depois, durante os três anos seguintes, ficou em 4,3%.
A curto e médio prazos o problema tende a agravar-se, seja pela recessão econômica – que diminui a arrecadação do governo –, seja pelos acordos firmados em 2015. No ano passado, cerca de 90% dos servidores do Executivo chegaram a um acordo com o governo de reajuste salarial. A maioria assinou acordos com vigência de dois anos e reajuste de 10,8% em duas parcelas. Já as carreiras de Estado optaram por acordos de quatro anos, com reajuste de 27,9%. Segundo o Ministério do Planejamento, os acordos firmados em 2015 terão um impacto de R$ 4,23 bilhões neste ano, R$ 19,23 bilhões em 2017, R$ 17,91 bilhões em 2018 e R$ 23,48 bilhões em 2019.

Ao invés de aproveitar a crise para diminuir os gastos com o funcionalismo, o setor público continua contratando. Segundo o Ministério do Trabalho, em março, por exemplo, foram abertas 4.335 vagas formais na administração pública. O total de contratações no setor público no primeiro trimestre é de 13.489. Se o arrocho do setor privado é forte – nos primeiros três meses de 2016 foram 319 mil vagas a menos –, a área pública parece esquecer a forte crise fiscal pela qual atravessa o País.

Essa atitude é bem diferente da que se observou na Europa após a crise econômica de 2008. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), todos os países da União Europeia reduziram o tamanho do funcionalismo público entre 2008 e 2013, exceto a Suécia. Outro estudo, da entidade Initiative for Policy Dialogue, com sede na Universidade de Columbia (EUA), revelou que, desde 2010, quase cem governos reduziram o valor gasto com o funcionalismo.

Diante da gravidade da atual crise econômica – segundo o IBGE, o Brasil tem hoje 11 milhões de desempregados – o setor público não pode fechar os olhos à realidade. Além das nefastas consequências para o equilíbrio fiscal, novas contratações no setor público representam uma situação de privilégio, como se o Estado fosse um mundo à parte.