O Brasil perde de todos os países da União Europeia, quando se comparam as taxas de crescimento econômico estimadas para este e para o próximo ano, os balanços das contas públicas e os resultados gerais das contas externas. Perde também de 13 dos 28 membros do bloco no quesito desemprego. Fica atrás dos Estados Unidos em todas essas comparações. Os sócios da União Europeia devem crescer em média 1,9% neste ano, 2% em 2016 e 2,1% em 2017, segundo as projeções de outono, divulgadas na semana passada. Para os 19 países da zona do euro, as médias estimadas para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) nesses três anos ficam em 1,6%, 1,8% e 1,9%. As taxas previstas para os Estados Unidos são 2,6%, 2,8% e 2,7%.
A presidente Dilma Rousseff e alguns de seus ministros continuam atribuindo o péssimo desempenho brasileiro à situação externa. Devem desconhecer os números das economias mais desenvolvidas. A China, maior compradora de produtos básicos brasileiros, ainda avança em ritmo invejável, na faixa de 6% a 7%. Atribuir ao menor dinamismo chinês a vergonhosa situação brasileira também é uma tentativa inútil de esconder o fracasso das políticas de Brasília. A acomodação chinesa afeta muito mais os países mais desenvolvidos, mais abertos e mais integrados nos grandes fluxos comerciais de todos os tipos de produtos.
Só um país da União Europeia, a Grécia, deve ter recessão neste e no próximo ano. As estimativas apontam contração de 1,4% em 2015 e de 1,3% em 2016, com retorno ao crescimento (2,7%) em 2017. As taxas de desemprego ainda serão as mais altas do bloco – 25,7% neste ano, 25,8% no próximo e 24,4% no seguinte.
A Espanha continuará em segundo lugar na escala do desemprego, com taxas de 22,3%, 20,5% e 19% estimadas para os três anos. Mas a economia espanhola, assim como outras fortemente afetadas pela crise, continua a recuperar-se, com taxas de expansão estimadas em 3,1%, 2,7% e 2,4%.
Portugal, outro país submetido a um duro programa de ajuste, saiu da recessão no ano passado e deve crescer 1,7% em 2015 e 1,7% em 2016. A campeã do crescimento neste ano, com avanço de 6%, deve ser a Irlanda, uma das primeiras economias a enfrentar a dureza da arrumação fiscal e bancária nos primeiros anos depois do estouro da bolha financeira.
Em suma: a recuperação continua nos países desenvolvidos, com ritmos desiguais de crescimento econômico e taxas diferentes de desemprego. Mas as condições fiscais melhoram de forma geral e os Tesouros apresentam balanços cada vez melhores. O contraste com os números brasileiros é indisfarçável.
Enquanto se projeta algum crescimento para a maioria dos países da União Europeia neste ano e no próximo, as estimativas indicam para o Brasil mais dois anos de recessão, com o PIB encolhendo 3% ou pouco mais neste ano e cerca de 1% em 2016. A recessão, embora pessoas do governo pareçam esquecer ou desconhecer, começou no ano passado.
O déficit geral do setor público, no Brasil, passa bem de 9% e aproxima-se de 10%. As médias estimadas para a União Europeia são 2,5% neste ano, 2% no próximo e 1,6% em 2017. Para a zona do euro os números projetados são 2%, 1,8% e 1,5%. Só se projetam déficits acima de 3%, em 2015, para quatro países: Grécia (4,6%), Espanha (4,7%), França (3,8%) e Croácia (4,9%). Mas o ajuste progride em todos esses países. Nos Estados Unidos, o déficit deve ficar em 4% em 2015, 3,5% em 2016 e 3,2% em 2017. Há rumos definidos para a política fiscal em todos os países avançados, enquanto no Brasil ainda se adivinha o resultado primário deste ano (sem contar os juros) e ainda se tropeça na elaboração do orçamento para 2016.
O desemprego brasileiro está perto de 9%. A média da União Europeia, puxada para cima por alguns países, é 9,5% e deve seguir em queda. Nos Estados Unidos está em 5,3% e também recuando. Isso torna mais provável o aumento dos juros americanos até o fim do ano – notícia ruim para um país vulnerável como o Brasil.