segunda-feira, 15 de abril de 2013

Mais três parques Eólicos são inaugurados na Bahia


 
Manu Dias/GovBA
Secom/GovBa
Três parques eólicos implantados pela empresa Brennand Energia na zona rural de Sento Sé, norte da Bahia, foram inaugurados nesta quinta-feira (11), pelo governador Jaques Wagner e o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra.
Já em funcionamento, a energia elétrica produzida pelo parque, no total de 90 MV, chega às residências, indústrias e demais consumidores através de uma linha de transmissão com 58 quilômetros de extensão, ligando as referidas unidades a uma subestação coletora e, de lá, até à subestação de Sobradinho, juntando-se, assim, ao Sistema Integrado Nacional, que é operado na região pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – Chesf.
O governador Jaques Wagner disse que, na região atingida pela seca, a implantação da tecnologia dos parques eólicos é uma oportunidade para geração de emprego e renda e faz do estado um destaque internacional. "A Bahia tem grande potencial para produzir energia a partir do vento. Com os parques eólicos existentes no estado e os projetos que estão em implantação, a Bahia vai se consolidar como maior produtora de energia eólica da América Latina." Ainda segundo Wagner, o potencial de ventos do estado equivale à produção da usina de Itaipu, maior hidrelétrica do país.
A energia gerada a partir dos ventos é vista pelo ministro Fernando Bezerra como uma forma de minimizar os efeitos da seca. "Quantos mais o vento é usado para produzir energia, menos quantidade de água será necessária para essa finalidade, deixando-a disponível para o consumo humano, animal e para a agricultura".
Outros parques
Já foram inaugurados parques eólicos também em Caetité, considerado o maior da América Latina, e em Brotas de Macaúbas, que pode produzir energia suficiente para iluminar uma cidade do porte de Vitória da Conquista.

Tolerância zero, por Aécio Neves


15/04/2013 - 03h04


Não dá mais para tentar esconder a escalada da inflação, como insiste em fazer o governo federal, tratando-a como se fosse um parente incômodo atrapalhando a festa da família.
Os fatos estão aí, incontestáveis. O Dieese apontou que os preços dos gêneros alimentícios essenciais continuaram em alta e subiram em 16 das 18 capitais, onde o órgão faz pesquisa sobre a cesta básica.
Ligado aos sindicatos de trabalhadores, o Dieese é 100% insuspeito de alarmismo para assustar a população, atitude que os petistas teimam em atribuir à oposição.
A alimentação no domicílio saltou cerca de 14% em 12 meses. O bom humor dos brasileiros fez a disparada do preço do tomate virar piada nacional. Mas podia ser a farinha de mandioca, que teve crescimento de 151% em um ano.
O impacto é maior entre as famílias mais pobres. Elas gastam do seu orçamento com comida e bebida bem mais que as famílias mais ricas.
Para ampliar a lista de notícias ruins, a inflação anual registrada em março, de 6,59%, estourou o teto da meta, fixada em 4,5%, com margem de dois pontos percentuais.
Confirmou-se também que a pressão maior veio dos alimentos. No trimestre, tomate, cebola e cenoura foram as altas de destaque, 60,9%, 54,9% e 53,3%, respectivamente.
Em boa parte, o descontrole nos preços está associado à forma equivocada como o governo federal gasta, a começar pela máquina administrativa em permanente regime de engorda.
A irresponsabilidade fiscal tem consequências maléficas. O país precisa se afastar, com urgência, do projeto anacrônico de inchaço estatal, reconhecidamente fracassado no planeta.
Cultiva-se uma farta distribuição de privilégios, movida com recursos públicos. Predomina a manipulação de setores importantes da economia para fins meramente políticos e partidários.
Ninguém sabe quanto custarão ao Tesouro Nacional as perdas da Petrobras e da Eletrobras, resultantes da má gestão. Ou do BNDES e da Caixa Econômica Federal para socorrer projetos empresariais de acerto duvidoso.
O PT sempre foi permissivo com a inflação. Basta lembrar que se posicionou contra o Plano Real, instrumento que derrotou a inflação e fez o país entrar numa era de prosperidade.
Os mais jovens não conheceram os dias difíceis vividos pela geração de seus pais e avós nos anos 80 e 90, quando os preços mudavam todos os dias nos supermercados e alcançavam a estratosfera.
Inaugurada pelo Plano Real, a estabilidade econômica converteu-se em patrimônio de todos os brasileiros e não pode ser colocada sob ameaça.
É senso comum que a marcha da inflação sacrifica os mais pobres, em primeiro lugar. Por isso, para nós, a receita é uma só: com a inflação, a tolerância é zero.
Aécio Neves é senador pelo PSDB-MG. Foi governador de Minas Gerais entre 2003 e 2010. É formado em economia pela PUC-MG. Escreve às segundas-feiras na página A2 da versão impressa.

O inferno de um cérebro digitalizado, Luli Radfahrer



Assumindo que o cérebro possa ser digitalizado e todas as memórias preservadas, o resultado seria uma consciência desencarnada, capaz de experimentar de tudo sem se preocupar com eventuais consequências para o corpo.
Livre deste fardo mortal, todos os sonhos seriam possíveis. Seria difícil resistir às tentações do sistema nervoso primitivo. Em um porre sem ressaca, não existiriam restrições a psicotrópicos e aventuras nunca imaginadas. Como seria saltar de bungee-jumping, sem equipamentos de segurança, doido de heroína em um espetáculo de cores, cheiros, gostos e imagens?
Passada a infância das experiências não tardaria o tédio. Na imortalidade a adrenalina não tem o mesmo sabor. Talvez fosse a hora de tentar se unir ao próximo em uma intensidade jamais vista, infinitamente superior a uma gravidez, fundindo capacidades em uma compreensão infinita.
Não tardaria para que outros se juntassem a esse Woodstock cibernético em busca de uma consciência única, mundial, transmitindo em ondas cósmicas a experiência telúrica para pirâmides esotéricas em outros planetas.
Já ouvimos essa história. Desde muito antes do Tim Maia é comum a figura do doidão que vira crente, nem que seja por um breve período.
A digitalização do cérebro, se for possível em algum dia muito distante, terá que ser analisada sob diversos parâmetros éticos. Sem o original, qual das cópias teria direito à identidade? Se todo clone pensa, todo clone tem direito à existência. Mas isso é Filosofia para os próximos milênios. Para não atormentar você com ficção cientifica, prefiro me concentrar em uma questão prática, bem conhecida por todos: a memória das redes.
É bem sabido que um dos efeitos colaterais de redes sociais é o de lembrar (e expor publicamente) seus micos. Por mais que se tente esquecer de uma declaração, foto ou lugar frequentado, não tarda para alguém encontrar o registro e marcá-lo, para o desespero de quem sonhava esquecê-lo.
O esquecimento, visto por muitos como um defeito, uma perda de informação, está gravado no código genético. Ele ajuda a selecionar e priorizar as experiências vividas, contribuindo para o aprendizado e o desenvolvimento. A memória humana precisa administrar a informação recebida entre os recursos limitados que tem para armazenar o que for relevante e recuperá-lo quando for necessário.
O cérebro humano é maleável. Sua estrutura muda conforme o contexto, a emoção e a utilização da informação recebida. Não há máquina capaz de reproduzir esse processo orgânico chamado de plasticidade, que em uma mente saudável, remove o que é tóxico em busca de evolução.
Há vários motivos para se esquecer de algo: para se livrar de uma experiência traumática, de lembranças tristes ou vergonhosas, de estilos de vida doentios, de comportamentos embaraçosos ou de coisas e lugares que não são mais usadas. Como Sherlock Holmes, é possível se esquecer temporariamente de tudo que não é relevante para uma situação. Apaixonados e fanáticos em geral descartam tudo o que não for belo em seu objeto de adoração. Quem sofre um trauma precisa se esquecer da experiência para continuar a viver produtivamente.
Sob esse aspecto o esquecimento não é uma perda, mas um desapego. Ele acontece quando não há vontade de reter uma informação. É tão comum que é normal desenvolver métodos externos para lembrar do que é importante.
Digitalmente essa administração de recursos não é necessária. Como não há plasticidade, pouco se aprende do que se acumula - e nada se esquece. As estruturas não se modificam e a memória é infinita. Quando tudo pode ser recuperado, perde-se a noção do que é relevante. É aí que surgem as implicâncias.
Quem não esquece não perdoa, guarda rancores e revive frustrações. Um cérebro digitalizado será obrigado a rever todos os seus erros, incapaz de mudá-los ou esquecê-los, como quem relê uma discussão de relacionamento por SMS. Ele estará preso eternamente no pior lugar do mundo, sem a opção de melhorá-lo, de aprender com ele ou de encerrar a história, apagando o conteúdo em um suicídio. Não é uma situação desejável.
Voltando à Filosofia, a neurociência de hoje mostra como a mente depende do corpo físico em que habita. Descartes errou ao tentar separá-los, da mesma forma que Platão se enganou ao imaginar um mundo habitado apenas por ideias. De todos os aforismos antigos, talvez o mais profundo ainda seja o bom e velho "mens sana in corpore sano".
Luli Radfahrer
Luli Radfahrer é professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP há 19 anos. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do país. Hoje é consultor em inovação digital, com clientes no Brasil, EUA, Europa e Oriente Médio. Autor do livro "Enciclopédia da Nuvem", em que analisa 550 ferramentas e serviços digitais para empresas. Mantém o blog www.luli.com.br, em que discute e analisa as principais tendências da tecnologia. Escreve a cada duas semanas na versão impressa de "Tec" e no site da Folha.