domingo, 29 de julho de 2012

O que está havendo com o B do Bric


Jim O`Neill
E por falar em cair em desgraça! Parece que foi ontem que muitos se atropelavam para salientar o visível sucesso do Brasil, com alguns ousando dizer que o País alcançaria níveis de crescimento padrão China. Foram dias inebriantes em 2010. Hoje, contra o pano de fundo dos muitos desafios mundiais, o consenso agora fala de um crescimento real do PIB pouco acima de 2,0% em 2012, o que, vindo após os 2,7% de 2011, põe o Brasil numa categoria diferente. Algumas pessoas chegaram a me perguntar se o "B" do Bric é seguro, quase voltando aos primeiros dias de 2001 e 2003, quando as pessoas não acreditavam que "B" pertencesse a circunstâncias tão altaneiras. Circulam também algumas especulações de que o Brasil poderia crescer menos do que os Estados Unidos neste ano, contribuindo para uma sensação de que a história de crescimento brasileiro ou foi exagerada ou está agora fadada a uma considerável decepção.
Permitam-me dar um passo atrás antes de me concentrar nos desafios futuros do Brasil. Na época em que criei a sigla Bric, muitos não haviam percebido as prováveis ramificações positivas das mudanças políticas que precederam a chegada de Lula ao governo e a combinação de uma política fiscal muito melhorada com uma inflação, para os padrões brasileiros, baixa e estável, que permitiriam que o Brasil entrasse num novo clima de estabilidade.
Como eu costumava dizer aos que questionavam o "B" do Brasil, o principal objetivo que o País precisava alcançar era evitar a crise. Muitos achavam que eu estava brincando, mas de uma maneira considerável, foi essa a essência da última década do Brasil. O País não precisou crescer números espetaculares e, ao menos em termos reais, não o fez. A ascensão do Brasil na década de 2000 para superar a Itália e, provavelmente, de maneira temporária, a Grã-Bretanha para se tornar a 6.ª maior economia do mundo em 2011, não decorreu de uma taxa de crescimento do PIB real particularmente forte, mas foi muito influenciada pelo notável fortalecimento do real ante o dólar. No entanto, na medida em que o real permanecia forte, muitos investidores ignoraram os desafios que viriam com isso, e optaram por acreditar que o Brasil poderia surpreender.
O Brasil em 2011 foi o queridinho do Bric, uma posição completamente diferente da que desfrutava 10 anos antes. Em consequência dessas expectativas aumentadas, o Brasil tem hoje mais dificuldade de atender de fato à essas expectativas.
As circunstâncias externas que o Brasil enfrenta precisam ser reconhecidas também. Além da impactante crise na zona do euro - que está engolindo cada vez mais a Espanha -, os números da economia americana continuam medíocres e, claro, existe uma desaceleração na China. As pessoas que estavam acostumadas à sede de commodities da China na última década estão tentando perceber a diferença entre uma China que, embora crescendo a uma taxa mais lenta que na década anterior e se concentrando em qualidade, é mais sustentável do que a que crescia a 10% e estava comprando commodities de quase toda parte.
Como eu também adverti com frequência, não se poderia realmente descrever o grau de mudança do Brasil até experimentarmos um período de preços das commodities mais moderados. Embora houvéssemos testemunhado isso em 2009, após os primeiros efeitos da crise do crédito de 2008, a experiência foi muito breve. Em 2012, com a China se centrando cada vez mais em qualidade e menos em quantidade, talvez estejamos entrando num período de testes mais significativos. Seja como for, isso é um lembrete a países como o Brasil de que fatores externos nem sempre são benignos, e que o destino do Brasil está, em última instância, em suas mãos.
Olhemos agora mais de perto o desempenho do crescimento brasileiro em sua existência como Bric, isto é, de 2001 para cá. Em 2011, o Brasil desapontou com um crescimento de "meros" 2,7%. De 2001 a 2010, o Brasil cresceu numa média em torno de 3,7%, nada espetacular. Como mencionei anteriormente, o País cresceu mais espetacularmente em termos de dólares, mas isso por causa da valorização do real. Durante essa década de crescimento médio de 3,7%, houve três anos de uma decepção bastante notável: 2,7% em 2001; 1,1% em 2002; 1,1% em 2003; e, como se sabe, em 2009, o PIB real encolheu cerca de 0,3%. Contra esse quadro, houve quatro anos de crescimento acima de 5,0%, destacando-se 2010, com 7,5%.
O que tudo isso me diz é que o crescimento brasileiro gira em torno da tendência do momento e, por isso, assim como ele foi muito decepcionante em 2001 e 2002, mesmo que o PIB real cresça "apenas" 2% no corrente ano após o decepcionantes 2,7% de 2011, isso não significa que esta seja a nova tendência. E, para os mercados brasileiros, se esses desenvolvimentos resultarem em expectativas mais realistas, isso não é uma coisa ruim.
Dito isso, nós supusemos - em contraste com os outros três países do Bric - que o crescimento desta década se aceleraria para cerca de 4,5% a 5,0%, de modo que o Brasil precisará de ainda mais anos de crescimento acima de 5,0% para isso ser satisfeito. Ainda não tenho bases reais para mudar nossos pressupostos sobre o crescimento para a década.
O Brasil está numa posição razoavelmente boa em medidas comparáveis de crescimento sustentável e produtividade em relação aos outros países do Bric, embora esteja, como os outros, bem abaixo do melhor da classe no mundo desenvolvido. No Índice de Condições de Crescimento (GES, na sigla em inglês) do Goldman Sachs, o Brasil figura com 5,4 em 10, o que o reúne no alto à China entre os países do Bric, mas bem atrás dos 7,7 da Coreia do Sul. Como já sugeri algumas vezes este ano, o Brasil faria bem em enviar uma delegação para visitar a Coreia e descobrir o que eles conseguiram aprender, e talvez imitá-la.
Em termos de alguns desafios, eu vejo alguns bons sinais. O real perdeu sua devoção obsessiva aos mercados cambiais e, apesar de ainda estar provavelmente forte demais para ajudar a indústria brasileira, ele claramente não é um problema tão grande como foi nos últimos anos.
E, quanto a isso, eu admiro as medidas agressivas do Banco Central para baixar as taxas de juros, o que poderá permitir um ambiente mais favorável ao investimento privado, além de ajudar no desafio da moeda.
O Brasil decepcionou claramente as pessoas nos últimos trimestres, mas tal como a noite segue o dia, assim que os investidores mudarem suas expectativas, eles ficarão surpresos. Sem querer diminuir o desafio que o Brasil precisa superar para atingir a média de 4,5% a 5,0% que supusemos para 2011-2020, uma comparação direta com os dois primeiros anos da década passada indica um forte começo para esta! Com a Copa do Mundo em 2014 e a próxima Olimpíada em 2016, o Brasil ainda vai ficar muito tempo na berlinda.
Recentemente, autoridades brasileiras importantes vieram a Londres como muitas outras de todo o mundo para assistir aos Jogos Olímpicos. Tive a sorte de conversar com algumas delas, e fiquei impressionado com o que ouvi em termos de compromisso como uma série de medidas políticas, que, se forem implementadas, começarão a fazer os analistas pensarem que a taxa de crescimento do Brasil poderá aumentar. Será interessante ver uma nova virada nas expectativas consensuais./ TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

Mamãe Poderosa



22 de julho de 2012 | 3h 11 Aliás

Marcelo Medeiros - O Estado de S.Paulo

No início da semana o Yahoo contratou Marissa Mayer, de 37 anos, para dirigir suas operações. O fato ganhou destaque não tanto por ela ser mulher, afinal a segunda executiva mais importante do Facebook também é, mas porque Marissa está no sexto mês de gravidez.
Há cada vez mais mulheres ocupando postos-chave nos negócios e na política, o que ocorre porque barreiras no reconhecimento da capacidade de liderança delas vêm sendo rompidas. Chefes de Estado, diretoras de empresa e generais de exército mulheres ainda são minoria, mas não causam mais o assombro que causariam há três décadas.
Entre o fim do assombro e a igualdade há uma grande distância. A notícia de um homem assumindo um cargo importante a poucos meses de ter um filho passaria despercebida. Isso porque a emancipação do trabalho feminino não foi acompanhada de mudanças na divisão do trabalho dentro das famílias, nem no que se considera responsabilidades familiares. Ainda recai sobre as mães a maior parte do cuidado dos filhos e são elas que precisam fazer escolhas entre carreira e família. Ninguém se preocuparia seriamente com o risco de um homem ter seu trabalho afetado por causa de um filho. Nesse aspecto, o mundo mudou bem pouco: a ideia de ser apenas dono de casa para cuidar de uma criança, ainda que por poucos meses, provoca arrepios em qualquer homem, mas é considerada natural entre as mulheres.
Marissa deverá voltar ao trabalho logo após o parto - não apenas porque quer, mas porque pode. É uma mulher rica e poderosa, casada com um executivo igualmente rico e poderoso, e receberá US$ 12 milhões anuais, mais que suficientes para contratar quem cuide de sua família em tempo integral. Marissa não assume cargo tão importante porque as barreiras à maternidade deixaram de existir, mas porque consegue se comportar como um homem: transferindo aos outros boa parte do trabalho de cuidar de crianças.
Esse é um luxo impensável para as mulheres comuns em trabalhos comuns. Para elas, a escolha é entre uma segunda jornada ao chegar em casa e abandonar o emprego. A ideia de que a responsabilidade pelo cuidado das crianças é das mulheres, e de elas devem estar disponíveis para isso, é tão arraigada que poucas de nossas instituições transferem para o espaço público aquilo que se julga dever privado. Basta notar que são poucas as creches gratuitas, não temos escolas em tempo integral, com anos letivos longos, nem horários de trabalho compatíveis com o transporte de crianças da casa à escola.
Em um mundo que aceita bem presidentas, mas tem aversão a donos de casa, o trabalho doméstico ainda é tabu do machismo. Seria ingênuo achar que os homens, em um lampejo de generosidade, passarão a dividir esse trabalho com as companheiras. Seria mais realista entender que a família não é a única instituição capaz de cuidar de crianças e que essa é uma responsabilidade coletiva.
Creches, pré-escolas e escolas em tempo integral podem soar como utopia. Mas talvez ajude a reduzir resistências lembrar que o ensino básico gratuito também já foi considerado utópico. Como qualquer outra, a responsabilidade de cuidar de crianças tem seus custos. Até o momento, temos sido capazes de arcar com eles. Mais exatamente, as mulheres têm sido, e vêm pagando com seu tempo. A questão fundamental é se estamos dispostos a transferir esses custos da esfera privada para a esfera pública, como fazemos com vacinas e segurança.
Tempo livre é algo muito importante. Não à toa uma das exigências de Marissa Meyer em seu contrato é terminar o expediente rigorosamente às 5h30, para que possa todos os dias jantar com a família. Adianta muito pouco ter dinheiro sem ter tempo livre para usufruir o que esse dinheiro pode comprar, assim como aproveitar as coisas que dinheiro algum pode comprar. Um reflexo disso é a preocupação crescente em vários países em conciliar trabalho, lazer e família.
Nossa divisão do tempo, no entanto, é tremendamente injusta. Pesquisas brasileiras de uso do tempo mostram que, depois da entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho, quando o tempo de trabalho pago é somado ao tempo de trabalho doméstico, a disponibilidade feminina de tempo livre é muito inferior à masculina, marcadamente entre as classes sociais mais baixas.
A emancipação profissional das mulheres caminha no sentido inverso da liberdade de tempo porque a igualdade obtida no mundo do trabalho não tem contrapartida nem no mundo doméstico, nem nos serviços públicos. Ao contrário do que pode parecer à primeira vista, a privação de tempo livre e a dificuldade em conciliar o trabalho com o resto da vida não são problemas das grandes executivas, mas das mulheres comuns. 
MARCELO MEDEIROS É SOCIÓLOGO, PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLI
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Maior parte dos estados e municípios carece de plano de resíduos sólidos




A partir de 2 de agosto, a cidade que não tiver o planejamento fica impedida de solicitar recursos federais para limpeza urbana. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, até o momento houve apenas 47 pedidos de verba para construção dos planos, entre solicitações de administrações municipais e estaduais. Verba disponível escassa e falta de capacitação técnica são apontadas como principais causas do problema.



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Lixões devem ser extintos no Brasil até 2014, segundo a nova lei. Na foto acima, o Lixão da Estrutural, em BrasíliaFoto: Wilson Dias/ABr
A maior parte dos estados e municípios brasileiros ainda não elaborou seu Plano de Gestão de Resíduos Sólidos, apesar do prazo para concluir o projeto, que deve indicar como será feito o manejo do lixo em cada localidade, estar próximo do fim. A partir de 2 de agosto, a cidade que não tiver o planejamento fica impedida de solicitar recursos federais para limpeza urbana. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, até o momento houve apenas 47 pedidos de verba para construção dos planos, entre solicitações de administrações municipais e estaduais.
Como não é obrigatório pedir auxílio da União para elaborar os planejamentos, pode haver projetos em curso dos quais o ministério não tenha ciência. Mas a avaliação do órgão é a de que o interesse pela criação dos planos de gestão é baixo, mesmo que se leve em conta estados e municípios atuando por conta própria. “O pessoal tinha outras demandas e foi deixando de lado. Agora o prazo está se esgotando e a maioria não elaborou [o projeto]”, afirmou Saburo Takahashi, gerente de projetos da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente.
As cidades e unidades da Federação tiveram dois anos para construir seus planos de manejo de resíduos, cuja criação está prevista na Lei n° 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. As consequências do pouco comprometimento com a exigência federal poderão ser sentidas cedo por estados e municípios. “De acordo com a legislação, até 2014 devem ser eliminados todos os lixões do Brasil. Para isso, será preciso implantar aterros sanitários, o que não se faz da noite para o dia. As cidades e estados que não tiverem plano de gestão não vão poder solicitar recursos para fazer isso”, destacou Takahashi.


Alguns [Não criaram o plano] por ignorância, outros por desconhecimento técnico"

Elaine Nolasco,pesquisadora em meio ambiente da UnB
O representante do ministério reconheceu, porém, que a verba disponível para ajudar municípios e unidades da Federação a elaborar os planos é escassa. Em 2011, houve destinação de R$ 42 milhões para essa finalidade, dos quais R$ 36 milhões foram usados. Em 2012 não foi disponibilizado dinheiro, e o governo federal limitou-se a liberar os R$ 6 milhões que não haviam sido executados no ano passado.
Capacitação e conscientização
Saburo Takahashi ressaltou, no entanto, que o ministério redigiu um manual de orientação para ajudar prefeitos e governadores na elaboração do plano, disponível no site do órgão. Além disso, a pasta firmou convênio com a e-Clay, instituição de educação a distância que pode treinar gratuitamente gestores para a criação do plano de manejo. Os interessados devem entrar em contato pelo telefone (11) 5084 3079.
A pesquisadora em meio ambiente Elaine Nolasco, professora da Universidade de Brasília (UnB), considerou positiva a capacitação a distância, mas acredita que para tornar a gestão de resíduos uma realidade é preciso mais divulgação desse instrumento, além da conscientização sobre a importância do manejo do lixo. “Tem que haver propaganda, um incentivo para as pessoas fazerem isso [o curso]”, defendeu. Elaine observa que a dificuldade para introdução de políticas de manejo (como reciclagem e criação de aterros sanitários) atinge sobretudo os municípios pequenos, com até 20 mil habitantes. “Faltam recursos e contingente técnico nas pequenas prefeituras”, pontuou.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP), João Zianesi Netto, também avalia que faltou capacitação e conscientização. “Alguns [Não criaram o plano] por ignorância, outros por desconhecimento técnico. Em muitos municípios de pequeno e médio porte, a destinação dos resíduos é gerenciada por pessoas que não têm a formação adequada. Além disso, há uma preocupação de que quando você começa a melhorar a questão ambiental você aumenta os custos”, enfatizou.
O presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziluldoski, reclamou da falta de auxílio financeiro para que as prefeituras cumpram as determinações da Lei n°12.305. Segundo ele, são necessários R$ 70 bilhões para transformar todos os lixões em aterro sanitário, até 2014. “Isso equivale à arrecadação conjunta de todos os municípios do país. Quando acabar o prazo, os prefeitos estarão sujeitos a serem processados pelo Ministério Público por não terem cumprido a lei”, lembrou. De acordo com ele, a estimativa da CNM é que mais de 50% das cidades brasileiras ainda não elaboraram os planos de gestão de resíduos.