domingo, 29 de julho de 2012

USP forma primeiro centro do país a unir pesquisadores de resíduos sólidos


Thiago Minami, especial para USP Online
Centro mulltidisciplinar envolve especialistas em tecnologia, saúde, direito e meio ambiente, entre outras áreas | Foto: Wikimedia
A produção de lixo no Brasil está aumentando. Em 2010, o país gerou 60,8 milhões de toneladas – 6,8% a mais que em 2009 e seis vezes mais que o crescimento populacional do período. Mais de 40% dessa quantidade vão parar em lixões ou aterros controlados, que causam prejuízos ao meio ambiente e à saúde de trabalhadores do setor.
Recém-criado e primeiro numa universidade brasileira, o Centro Multidisciplinar de Estudos em Resíduos Sólidos (CeRSOL) da USP quer usar a expertise acadêmica para ajudar a reverter a situação. Mais de 50 pesquisadores, incluindo cerca de 20 professores, estão em contato para debater o tema e colaborar em pesquisas, seminários e publicações. O objetivo é ampliar o conhecimento na área e encontrar soluções tecnológicas em consonância com as diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
Cada um contribui com os estudos que realiza sob a perspectiva da área em que atua: engenharia, energia e urbanismo, além de direito, medicina, ciências humanas e economia. Especialistas da Unicamp e da PUC-SP também fazem parte do grupo. “Queremos levar nossos trabalhos a prefeituras, industrias e à sociedade em geral”, planeja Jorge Alberto Soares Tenório, coordenador do grupo e professor da Escola Politécnica (Poli) da USP.
Para compreender de modo abrangente o tema dos catadores de lixo, por exemplo, é preciso passar por diferentes áreas de pesquisa. Primeiro, as ciências humanas e a educação avaliam os mecanismos de inserção social e o exercício da cidadania pelos profissionais. Depois, dentro da área legal, é necessário entender os aspectos legais e como se dá a organização do trabalho. À medicina e à saúde pública, cabe avaliar as condições de saúde dos catadores, que podem ser afetadas pelo trato com resíduos. Já a tecnologia vê o modo como eles podem contribuir para a valorização dos resíduos e, assim, aumentar os ganhos para a sociedade.

Metas

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Os dados expostos no início da reportagem mostram o tamanho do desafio que o país tem pela frente. Eles fazem parte da pesquisa Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil 2011, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Medidas efetivas e integradas para resolver o problema estão em discussão no momento. O ponto de largada foi a PNRS, elaborado pelo governo federal em 2010.
A Política prevê a eliminação dos lixões e a criação de metas para a reciclagem no Brasil. “Atualmente, a região da grande São Paulo recicla menos de 2% do que é gerado. O ideal seria elevar esse índice para pelos menos 20%”, aponta Tenório. A Suécia, campeã do mundo no assunto, recicla atualmente mais de 70% do lixo.
A elevação das metas é um objetivo mundial. “O interesse sobre o assunto cresce em todo o mundo, e também no Brasil. Mas para a gente, diferentemente de Europa ou Japão, a grande oferta de espaço físico faz a questão não parecer tão urgente. Precisamos reverter isso”, diz Denise Crocce Romano Espinosa, professora da Poli e membro do CeRSOL.
O CeRSOL está organizado em diferentes coordenações: educação ambiental, direito ambiental, políticas públicas, medicina ocupacional, tecnologia e cadeias produtivas.

Interação

Ainda que iniciado recentemente, o CeRSOL já organizou um seminário internacional no último mês de junho na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, com a presença de pesquisadores de sete países europeus para apresentarem as experiências no tema. Foi durante esse evento que o centro foi oficialmente lançado.
A comitiva da USP no Rio+20 e o evento São Paulo Mais Limpa, com a Rede Globo, também contaram com ampla presença de integrantes do CeRSOL.
A necessidade de integração entre diferentes faculdades e as eventuais divergências de opiniões entre especialistas de diferentes áreas são vistas com bons olhos pelos membros. “Elas existem e podem ser muito frutíferas a todos. Assim podemos desenvolver uma visão consistente de todos os aspectos envolvidos na questão”, diz Denise Espinosa.
Mais informações: jtenorio@usp.br

IPT terá planta piloto para gaseificação de biomassa


Prover os dados necessários para estabelecer um projeto conceitual de uma planta industrial de gaseificação com capacidade de processar 400 mil toneladas anuais de bagaço e palha de cana-de-açúcar é o objetivo do projeto da planta piloto do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em Piracicaba.
“Isso equivale à metade do bagaço e palha gerados por uma usina típica nos dias de hoje, que faz a moagem de 4 milhões de toneladas de cana. Segundo a nossa projeção, baseada nos 5% anuais de taxa de crescimento do setor sucroalcooleiro nos últimos 20 anos, 140 novas usinas serão implantadas na próxima década. É nesse universo que estamos focando: as novas usinas, as green-fields da década de 2020”, disse Fernando Landgraf, diretor de inovação do IPT.
Segundo Landgraf, a planta piloto está sendo projetada para testar algumas das possíveis soluções para a planta industrial. Uma característica especial do projeto é ter escolhido a rota de gaseificação pela técnica de “fluxo de arraste”, adotada para a gaseificação de carvão mineral em grande escala na China e na Europa.
“A questão é que a gaseificação de biomassa exige um pré-tratamento muito diferente do carvão mineral. É necessário transformar o bagaço em um pó torrado ou em um óleo pirolisado. O estágio técnico atual do projeto é o da definição conceitual da planta piloto, ou seja, a escolha do processo de torrefação e de pirólise, os detalhes construtivos do reator de gaseificação e os processos de limpeza do gás. Temos 30 pesquisadores do IPT trabalhando nisso”, disse Landgraf.
Ao mesmo tempo, o IPT completa a negociação do contrato com o Governo do Estado de São Paulo, BNDES, Finep e as empresas Oxiteno, Petrobras e Vale Soluções em Energia. A negociação dos direitos da propriedade intelectual levou mais de um ano.
“Esperamos que o contrato seja assinado em outubro deste ano. Também estamos articulando junto com a Universidade de São Paulo e a Universidade Estadual de Campinas um Projeto Temático na FAPESP. O objetivo é estudar aspectos científicos envolvidos no processo que vai da cana ao gás”, disse Landgraf.
O projeto terá duração de cinco anos, o primeiro para o projeto básico e detalhado, dois anos de construção, outro para “por em marcha” e o último ano de operação.
“Ao final, sendo bem-sucedidos, deveremos desenvolver novo projeto em três anos para a otimização até chegar ao ponto de definir o conceito de uma planta industrial cujo investimento de capital não poderá ultrapassar US$ 1.200 por quilowatt térmico”, disse Landgraf. A capacidade da planta piloto será de 1 tonelada por hora de bagaço seco.
Landgraf será um dos palestrantes no Simpósio de Gaseificação de Biomassa, que será realizado na FAPESP no dia 17 de setembro de 2012.
O simpósio terá palestras de especialistas de diversos países com o objetivo de apresentar experiências e lições aprendidas em projetar e operar plantas piloto/demonstração de gaseificação. (Fonte: Agência Fapes)

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O novo desenvolvimento e o papel do Estado - 1


Coluna Econômica - 27/07/2012 blog do Luis Nassif
Desde o advento da economia, como ciência, o mundo oscila em torno de um movimento pendular: uma, a do liberalismo econômico, de deixar as rédeas da economia por conta dos mercados; o outro, de uma atuação proativa do Estado.
No século 19 monta-se, pela primeira vez, modelos de articulação global da economia, regulados pelo grande capital. E consolida-se um novo conhecimento econômico, todo um arcabouço teórico visando maximizar os ganhos do grande capital.
Para se desenvolver, dizia-se, bastaria países abrirem todas suas portas para o grande capital. À medida em que os países centrais fossem se desenvolvendo, tornar-se-iam caros e a tendência seria o transbordamento do capital para países emergentes.
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Ainda nas primeiras décadas do século 19, pensadores insurgiam-se contra essa lógica e desenvolviam os primeiros princípios de economia política. Para um país se desenvolver deveria ampliar mercados para seus manufaturados, na fase inicial da industrialização proteger sua indústria, tratar de importar matéria prima e exportar manufaturados, montar estratégias diplomáticas visando expandir o comércio exterior, pensar estrategicamente na logística e no câmbio.
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NO final do século 19, países que definiram estratégias proativas de desenvolvimento, como EUA, Japão e Alemanha, lograram se beneficiar da enorme expansão financeira internacional. Países que assumiram posição passiva – como o Brasil– perderam o bonde.
A extrema volatilidade dos capitais privilegiava apenas o curto prazo e as jogadas pesadas em cima de concessões e serviços públicos. A instabilidade cambial impedia a consolidação de um movimento sólido de substituição de importações.
Mesmo assim, o pensamento dominante se espalhava por todo o mundo através da rede de bancos centrais – liderada pelo Banco da Inglaterra.
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Nesses três séculos, o mundo testemunhou a ascensão de duas potências ocidentais, Inglaterra e Estados Unidos. Em ambos os casos, a construção da hegemonia foi trabalho minucioso, que exigiu ampla intervenção do Estado. Depois de consolidada a hegemonia, ambos os países passam a defender o livre comércio para todas as nações – pela relevante razão de que eram as economias mais poderosas do planeta e, portanto, em condições de esmagar qualquer concorrente.
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Nesse século, o Brasil experimentou um liberalismo merreca nas três primeiras décadas dos anos 30. Depois, um processo proativo de intervenção do Estado, que começa com Getúlio Vargas nos anos 30, estende-se por JK, passa pelo regime militar e se esgota em fins dos anos 70.
Segue-se um período de caos e de germinação de novas ideias. E, em seguida, um longo período de liberalização, que se inicia na gestão Marcilio Marques Moreia, no governo Collor e termina com a saída de Antônio Pallocci no governo Lula.
Agora, inicia-se uma nova fase, com a opinião pública mundial exposta à influência do capitalismo de Estado da China.
O grande desafio será a implementação de uma política de Estado sem os exageros dos anos 70, mas sem a leniência das duas últimas décadas.
Sobre isso falaremos nas próximas colunas.